O ex-candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) disse que o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) é tão antidemocrático quanto Jair Bolsonaro (sem partido), mas é quem deve assumir o governo caso prospere o impeachment do presidente, defendido pelo petista.
Em entrevista ao programa "Poder em Foco", que será exibida neste fim de semana pelo SBT, Haddad afirmou que Mourão, do ponto de vista constitucional, pode ficar com a cadeira porque não tem na ficha nenhum crime de responsabilidade, condição que justifica afastamento do cargo.
"Eu não confio na disposição democrática do Mourão porque ele já deixou claro que, tanto quanto o Bolsonaro, despreza a democracia. Então o vício é o mesmo. Agora, ele não cometeu nenhum crime de responsabilidade ainda", disse.
"Então, do ponto de vista constitucional, se o impedimento se dá por crime de responsabilidade, eu lamento, mas ele é que tem que assumir", completou, em resposta ao jornalista Fernando Rodrigues.
Ex-prefeito de São Paulo, Haddad disputou o segundo turno da eleição de 2018 com a chapa Bolsonaro-Mourão e recebeu 44,8% dos votos válidos, ante 55,1% da campanha vitoriosa.
Mourão, que é general da reserva do Exército, já buscou afastar em outras ocasiões a pecha de apoiador do autoritarismo. Em outubro de 2019, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defender "um novo AI-5", o vice disse que, apesar de imperfeita, a democracia é o melhor sistema de governo.
A entrevista com o integrante do PT, gravada nesta quinta-feira (21), irá ao ar à 0h de segunda-feira (25), fim da noite de domingo (24). Alguns trechos foram transcritos pela assessoria de imprensa do SBT e antecipados à reportagem.
Na conversa, Haddad afirmou ser "plenamente favorável ao afastamento [de Bolsonaro] em virtude dos crimes de responsabilidade que ele já cometeu". Seu partido é um dos que apresentaram na quinta-feira (21) um pedido coletivo de impeachment.
"Para mim, um presidente que instaura o caos, que joga a população contra o seu prefeito, contra o seu governador, contra o Poder Judiciário, contra a autonomia da Polícia Federal, este governante não tem condições, numa crise deste tamanho, de permanecer no poder", afirmou.
Para o ex-prefeito, Bolsonaro cometeu pelo menos três crimes de responsabilidade previstos na Constituição. Ele lembrou que o pedido de impeachment é endossado por outras seis legendas (entre elas PC do B, PSOL e PSTU) e 400 entidades da sociedade civil.
Haddad também criticou, na entrevista, o comportamento de Bolsonaro na pandemia do novo coronavírus. "Além de ter sido omisso, eu acho que o Bolsonaro age de má-fé com governadores e prefeitos. Isso não é uma conduta de um chefe de Estado em meio a uma crise."
Segundo ele, o presidente está jogando o país contra governadores e prefeitos e contra as instituições. "Ele age mal por omissão e age de má-fé", acrescentou.
Haddad estendeu as ressalvas ao prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), mas disse que, diferentemente de Bolsonaro, o tucano não age de má-fé. "Eu acho que ele está se atrapalhando nas decisões", disse, citando os recuos sobre as decisões de fechar vias e fazer megarrodízio.
O petista disse que as medidas foram equivocadas. "Eu reconheço a boa-fé, acho que [Covas] está em busca de uma solução, mas eu penso que as decisões estão sendo atabalhoadas. Deveriam ser mais pensadas, para evitar essas idas e vindas."
Haddad, contudo, ressaltou que considera a conduta do governo Bolsonaro mais grave. "É muito diferente a atitude aqui [em São Paulo] da atitude do governo federal. Não resta dúvida em relação ao caráter das pessoas que estão à frente de suas responsabilidades", afirmou.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta