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MPF pede cancelamento de outorgas da Jovem Pan por desinformação

MPF pede cancelamento de outorgas da Jovem Pan por desinformação

De acordo com Procuradoria, requisição tem como pano de fundo alinhamento da emissora à campanha de desinformação no período que antecedeu as eleições presidenciais

Publicado em 28 de junho de 2023 às 08:32

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Ministério Público Federal entrou com ação civil pública para que sejam canceladas três outorgas de rádio do Grupo Jovem Pan em razão de suposto "alinhamento da emissora à campanha de desinformação com veiculação sistemática de conteúdos que atentaram contra o regime democrático". A Procuradoria sustenta que as condutas da emissora "violaram diretamente a Constituição e a legislação que trata do serviço público de transmissão em rádio e TV".

A Procuradoria contesta tanto as duas concessões de AM, localizadas em São Paulo, na frequência 620, e em Brasília, na frequência 750, como a permissão de FM, de São Paulo, na frequência 100.9. A rede da emissora conta com mais de cem afiliadas que retransmitem o sinal a centenas de municípios em 19 Estados.

Rádio Jovem Pan, microfone
Rádio Jovem Pan. (Divulgação/Jovem Pan)

Além disso, ação pede a condenação da Jovem Pan ao pagamento de R$ 13,4 milhões a título de indenização por danos morais coletivos. De acordo com o Ministério Público Federal, o valor corresponde a 10% dos ativos declarados pela emissora no último balanço.

O MPF também quer que a emissora seja obrigada a veicular "mensagens com informações oficiais sobre a confiabilidade do processo eleitoral" como forma de reparação pelos "prejuízos da programação" à sociedade.

O pedido é para que a Jovem Pan tenha que reproduzir as mensagens, ao menos 15 vezes por dia, entre 6h e 21h, durante quatro meses. Ainda de acordo com a ação, as inserções devem ter de dois a três minutos de duração e trazer dados a serem reunidos pela União, também ré no processo.

A ação se debruça somente sobre as concessões de rádio, por se tratar de um "serviço público, concedido ou permitido pela União", diz o MPF. "A ação busca a devida responsabilização de quem, praticando graves atos ilegais, abusou de outorgas de serviço público e desvirtuou os princípios e as finalidades sociais que lhes dão lastro", argumenta a Procuradoria.

Desinformação

A Procuradoria sustenta que a "severidade das medidas" solicitadas à Justiça está ligada à "gravidade da conduta da emissora". A ação cita o conteúdo produzido entre 1º de janeiro de 2022 e 8 de janeiro de 2023.

"A Jovem Pan disseminou reiteradamente conteúdos que desacreditaram, sem provas, o processo eleitoral de 2022, atacaram autoridades e instituições da República, incitaram a desobediência a leis e decisões judiciais, defenderam a intervenção das Forças Armadas sobre os Poderes civis constituídos e incentivaram a população a subverter a ordem política e social", sustenta o Ministério Público Federal.

A avaliação da Procuradoria é a de que a Jovem Pan "contribuiu para que um enorme número de pessoas duvidasse da idoneidade do processo eleitoral ou tomasse ações diretas" — os bloqueios nas estradas após a eleição e os atos golpistas de 8 de janeiro. O MPF inclusive cita a cobertura da emissora sobre o levante antidemocrático como exemplo. Para a Procuradoria, a Jovem Pan tentou "legitimar" a intentona.

"A cobertura feita pela emissora no dia 08/01/2023 é reveladora, porque passagens como as acima transcritas são representativas de discursos disseminados por pelo menos um ano, e que não arrefeceram totalmente nem mesmo quando o Brasil assistia ao mais grave evento da história da redemocratização", registra o texto.

Impedimento de fechar contratos com o governo

O Ministério Público Federal ainda expediu uma recomendação à Controladoria-Geral da União, pedindo a abertura de processo administrativo que pode impedir a Jovem Pan de fechar contratos com o governo federal. O documento tem como base uma norma baixada pela Advocacia-Geral da União depois do 8 de janeiro, para que empresas envolvidas em atos antidemocráticos sejam consideradas inidôneas.

Para a Procuradoria, a conduta da emissora é uma "forma de envolvimento" em episódios de tal natureza — "por terem estimulado a desobediência da legislação e de decisões judiciais, a intervenção das Forças Armadas e movimentos de desordem pública".

Com a palavra, a Jovem Pan

"Sobre a ação ajuizada pelo MPF, a defesa do Grupo Jovem será manifestada exclusivamente nos autos do processo. O grupo Jovem Pan reafirma diariamente, ao longo de 80 anos, seu compromisso com a sociedade brasileira e a democracia."

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