O Ministério da Saúde irá rever os critérios para contabilizar dados e mortes pelo novo coronavírus, afirmou neste sábado (6) Carlos Wizard Martins, escolhido para ser o novo secretário de ciência e tecnologia do Ministério da Saúde.
Embora ainda não tenha sido nomeado oficialmente, Wizard já despacha dentro da pasta, onde atua desde abril como consultor a convite do ministro interino, Eduardo Pazuello.
"Vamos rever os critérios com que estão sendo contabilizados os dados. Não é rever o passado, não vamos desenterrar mortos", afirma.
Ele não detalhou qual seria o novo critério. Wizard também nega fazer parte diretamente da equipe que irá rever o modelo, mas afirma que acompanha as decisões.
Em entrevista ao jornal O Globo, Wizard havia dito, na véspera, que a pasta iria recontar o número de mortos no Brasil vítimas da covid-19. Para ele, os dados atuais são "fantasiosos e manipulados".
"Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos", afirmou.
Questionado pela Folha de S.Paulo, Wizard confirmou que há uma intenção dentro da pasta de rever os critérios, mas para os próximos dados. "O passado já passou, estamos preocupados daqui para a frente", afirma.
"As pessoas estão recebendo atestado de óbito indicando Covid quando nunca nem foi testada. Como vai afirmar se não fez nenhum teste? Só tem jeito, desenterrar os mortos para saber, mas não vamos fazer isso. Mas vamos ser criteriosos para receber esses dados."
Sem apresentar provas, Wizard diz ter suspeita de que os números de mortes estejam errados.
"Hoje existe um grande problema que a pessoa está bem em casa, nunca teve sintoma, tem um mal súbito, leva para o hospital, e o cara morre em 24h: morreu de Covid. Quando tem informação equivocada, fica difícil fazer gestão do problema", afirma. "O que estamos vendo é que não está tendo um critério para reportar o número correto de mortes, e fica uma visão distorcida."
Especialistas, porém, tem apontado que a baixa testagem de casos no país tem apontado para um cenário na contramão do citado por Wizard -o da subnotificação de registros.
Equipes anteriores da pasta também informavam que a espera pelo resultado de testes, parâmetro exigido para confirmação, era o motivo para o atraso na contabilização de mortes.
Para Wizard, há problemas nos registros. "Em Manaus, por exemplo, posso dizer que 20% das mortes a pessoa não tinha a Covid".
"A orientação do Ministério da Saúde anteriormente era ficar em casa. A pessoa estava em casa e morria por uma razão qualquer. Conclusão: nunca foi testado, nunca foi no médico e o atestado é que morreu por Covid."
E quanto à subnotificação, como casos de mortes por Covid nem sequer contabilizadas?
"Você tem razão, existem as duas realidades. Tanto pessoas que foram documentadas como vítimas de Covid [sem ter] e outras que tinham Covid e não foi documentado. Prefiro não entrar nesse número, e melhor você também não entrar. Só estamos sendo mais criteriosos na avaliação dos dados", afirmou.
Apesar de negar fazer parte da equipe que, segundo ele, irá rever os critérios, Wizard disse ter conhecimento da mudança por acompanhar as decisões.
As declarações ocorrem em meio a mudanças no formato de divulgação dos dados pelo Ministério da Saúde. Nesta sexta, a pasta divulgou uma tabela apenas com o total de novos casos e mortes, sem contabilizar os números totais desde o início da pandemia.
Também deixou de informar o total de mortes em investigação, o que ocorria diariamente.
A pasta também mudou o horário de divulgação dos números atualizados. Até abril, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, os dados eram divulgados sempre às 17h.
Em seguida, com a posse do ex-ministro Nelson Teich, as informações passaram a ser divulgadas às 19h. Nos últimos dias, no entanto, a pasta passou a atrasar os anúncios e, agora, tem divulgado os números às 22h.
A alegação é a necessidade de checagem de parte dos dados, que são informados por secretarias estaduais de saúde, junto s gestores locais.
A mudança, porém, foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro, segundo quem, com a mudança, "acabou matéria no Jornal Nacional".
A Rede Globo, porém, informou nesta sexta (5) os números por meio de plantão. Também usou balanço de secretarias estaduais de saúde.
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