Conteúdos investigados: Publicação com foto de alimento alega que o prefeito de Canoas editou um decreto de apropriação de donativos e está reembalando com selo do governo federal. Por cima da imagem, a frase “as doações do povo sendo apreendidas e reembaladas como se fossem doações do PT”. Já um vídeo acusa o prefeito de Canoas de impedir o envio das doações aos abrigos e reforça que os rótulos estão sendo adulterados.
Onde foi publicado: X e TikTok.
Conclusão do Comprova: Não há evidências de que as embalagens das doações enviadas pela sociedade civil às vítimas das enchentes em Canoas, no Rio Grande do Sul, estejam sendo substituídas pela logomarca do governo federal, como afirmam publicações nas redes sociais. Os alimentos colocados em sacolas com o selo do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome fazem parte da compra de 52 mil cestas básicas pela pasta para atender desabrigados e desalojados no estado.
Ao Comprova, a prefeitura de Canoas disse que a informação que circula na internet não procede, e que não é feita nenhuma identificação da gestão municipal nos rótulos dos donativos. A administração esclareceu apenas que “algumas doações que chegam em sacolas mais frágeis são colocadas em sacos mais resistentes, todos genéricos”.
Os alimentos enviados pelo governo federal ao município são distribuídos a partir da Unidade Armazenadora da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De lá, os kits são encaminhados para as cozinhas emergenciais montadas para atender 49 mil vítimas das enchentes. Cada cesta tem 21,5 kg de alimentos e é composta de dez itens: arroz, feijão-carioca, leite em pó integral, óleo de soja, farinha de trigo ou farinha de mandioca, macarrão, fubá de milho, açúcar cristal, sardinha em óleo e sal.
A prefeitura de Canoas também nega que esteja confiscando as doações. O decreto 174, publicado em 2 de maio, dispensa a necessidade de processos licitatórios, que podem durar até sete dias. O objetivo é facilitar a aquisição de cestas básicas, materiais de limpeza, higiene pessoal, ração, colchões, cobertores, entre outros itens.
Um dos posts investigados traz apenas uma foto de um pacote com alimentos que leva o selo do governo federal para embasar a acusação. A imagem foi publicada originalmente pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em 11 de maio para destacar as ações do governo, como mostrou o Estadão Verifica. O outro conteúdo investigado é um vídeo, que usa a mesma foto, também sem apresentar evidências. Ambos acusam a prefeitura de confiscar as doações.
Uma das publicações também engana ao afirmar que o prefeito de Canoas é petista e que estaria reembalando as doações para simular uma ação do PT no Rio Grande do Sul. Apesar de ter sido membro do partido entre 1984 e 2016, Jairo Jorge é, desde 2020, filiado ao PSD.
O Comprova não conseguiu entrar em contato com os responsáveis pelas publicações pelos perfis no TikTok e no X, que não admitem envio de mensagens para contas que não se seguem mutuamente. Enviamos pedido de esclarecimento à responsável por uma das postagens pelo seu perfil no Instagram, mas não recebemos retorno até a publicação desta verificação.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a publicação aqui verificada somava mais de 364 mil visualizações, além de 24 mil interações até 14 de maio. No TikTok, o vídeo contabiliza quase 12 mil visualizações e mais de seis mil interações.
Fontes que consultamos: Solicitamos informações à prefeitura de Canoas e ao governo federal. Também consultamos as redes sociais oficiais de ambas as administrações e encontramos informações já esclarecidas sobre o assunto em sites oficiais.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O mesmo assunto foi verificado por Aos Fatos, Estadão Verifica e Boatos.org. O Comprova checou outras peças de desinformação relacionadas à tragédia no Rio Grande do Sul, como a de que caminhões com doações ao RS estariam sendo retidos por falta de nota fiscal e que Luciano Hang teria mais aeronaves atuando no RS do que a Força Aérea Brasileira.
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