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Não há indícios de que Pablo Marçal tenha sofrido tentativa de homicídio em comício

Não há indícios de que Pablo Marçal tenha sofrido tentativa de homicídio em comício

Postagem traz um áudio supostamente vazado e atribuído à Polícia Militar, no qual um homem fala em tentativa de homicídio contra Marçal; segundo a Secretaria de Segurança Pública, o caso foi registrado como “ameaça”

Publicado em 10 de setembro de 2024 às 13:32

Ícone - Tempo de Leitura 8min de leitura
Não há indícios de que Pablo Marçal tenha sofrido tentativa de homicídio em comício
Não há indícios de que Pablo Marçal tenha sofrido tentativa de homicídio em comício. (Reprodução TikTok/Arte A Gazeta)

Conteúdo investigado: Áudio supostamente vazado da Polícia Militar de São Paulo (PMSP), em que dois homens discutem e caracterizam uma ocorrência como “tentativa de homicídio” contra Pablo Marçal; um vídeo que traz, junto à entrevista concedida pelo candidato a respeito do caso, uma foto da deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS); e outro vídeo que afirma que um assessor do PSOL tentou contra a vida do político.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Posts desinformam ao dizer que Pablo Marçal (PRTB) foi vítima de tentativa de homicídio durante campanha política pela Prefeitura de São Paulo.

No dia 30 de agosto, após agenda no bairro Anália Franco, na zona leste da cidade, o candidato registrou um boletim de ocorrência protocolado na Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) como “ameaça”. Posteriormente, ele concedeu entrevista à imprensa relatando ter suspeitado de pessoas que se aproximaram dele ao longo do ato e sugeriu uma possível relação do PSOL com o episódio. O político não apresentou provas do suposto envolvimento do partido.

Desde então, começaram a circular nas redes sociais vídeos sobre o episódio, com informações que não foram relatadas por Marçal nem confirmadas pela SSP, como um áudio supostamente gravado por agentes da Polícia Militar que teria vazado. Nessa gravação, dois homens trocam informações preliminares sobre uma “tentativa de homicídio” contra o candidato.

 Procurada pelo Comprova para falar sobre a veracidade do conteúdo "vazado", a SSP informou, após a publicação deste texto, que "o áudio em questão é uma montagem" e "não confere com as comunicações ocorridas no dia dos fatos". Antes, em nota, a pasta esclareceu que o boletim de ocorrência de Marçal foi registrado como "ameaça", conforme já havia sido divulgado pelo próprio candidato à imprensa, e não como "tentativa de homicídio".

A postagem viralizada no TikTok diz, ainda, que foram disparados tiros durante o suposto tumulto – informação não confirmada pela SSP. O que foi divulgado sobre o caso é apenas que “pessoas se aproximaram” do comício de Marçal e “o ameaçaram”. Depois, “os suspeitos fugiram”. Na nota oficial, não há qualquer menção a armas de fogo.

Em conversa com a imprensa, o candidato disse que percebeu a aproximação de uma pessoa em aparente estado de embriaguez, avisou a um dos seguranças da movimentação suspeita e procurou se proteger em uma padaria.

“Parecia alguém que queria fazer alguma hostilização. Eu vi e já dei o toque para o policial que faz o escudo atrás. Falei: olha, tem alguma coisa errada aí”, disse ele.

Questionado por repórteres, Marçal disse que não conseguia descrever as características do suspeito, mas indicou que, pela placa do carro utilizado, tratava-se do assessor de “uma deputada do PSOL”. Ele não detalhou quem seria nem apresentou provas da acusação. Marçal respondeu ainda que não pôde identificar se o homem estava armado, mas mencionou que um policial presente no ato político afirmou que sim.

“Ele [o policial] pediu para eu não me aproximar porque a pessoa que estava dirigindo o carro estava armada”, relatou o candidato. A SSP não confirmou se havia alguém armado na ocorrência.

O Comprova tentou contato com Marçal e com o PSOL, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 6 de setembro, o post que contém o suposto áudio vazado da polícia contava com 105,8 mil reproduções no TikTok. Já o vídeo que associa a participação de Luciana Genro no caso registrava mais de 245 mil reproduções até a mesma data. O terceiro vídeo, que cita que o assessor do PSOL atentou contra a vida de Pablo Marçal, contava, por sua vez, com 821,2 mil reproduções.

Fontes consultadas: Questionamos a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre o teor do suposto atentado, verificamos a nota divulgada por Carol Iara, bem como a entrevista de Marçal à imprensa. Também contatamos as assessorias de imprensa de Luciana Genro, citada em um dos vídeos, de Marçal e de Iara. Os candidatos paulistas, no entanto, não responderam às tentativas de contato.

Qual a suposta relação do PSOL com o episódio?

Um dos vídeos investigados pelo Comprova associa a imagem da deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS) ao episódio. O conteúdo mostra uma foto da parlamentar abaixo do relato de Marçal à imprensa sobre a provável tentativa de aproximação por parte do suposto assessor. À reportagem, a assessoria de Luciana afirmou que ela não estava em São Paulo no dia da confusão e negou envolvimento na situação.

Outro vídeo que circula no TikTok relaciona o PSOL ao episódio de ameaça contra Marçal. No post, um homem, que não aparece nas imagens, grita: “Segura! Polícia! Polícia!”, enquanto três pessoas entram rapidamente em um veículo. Um texto na imagem afirma que um “assessor do PSOL tenta supostamente Marçal” (sic). O Comprova procurou o partido, mas não obteve retorno.

De acordo com reportagem do Metrópoles, que estava presente no comício, uma das pessoas seria Carol Iara, candidata a vereadora pelo PSOL (entenda mais abaixo). Através de busca reversa de imagem no Google, o Comprova utilizou uma captura de tela para identificar que o vídeo foi gravado, de fato, em uma esquina do bairro Anália Franco, na zona leste de São Paulo, onde Marçal realizou comício eleitoral naquele final de semana.

No Instagram, no mesmo dia do episódio, Carol Iara publicou vídeo e nota em que comenta sobre imagens em que diz aparecer sendo “perseguida por um segurança de Pablo Marçal”. Segundo ela, estariam “tentando ligar o vídeo a um suposto atentado”. Logo em seguida, Iara explica que passou o dia em campanha na zona leste e conta que tentou entregar um boneco de pinóquio (feito de isopor) ao candidato a prefeito pelo PRTB. Ela não menciona em qual local ou evento ocorreu essa tentativa.

A psolista comenta que foi perseguida e que saiu rapidamente do local “porque a extrema direita é bastante truculenta, bastante mentirosa”. Neste momento, o vídeo mostra imagens dela e de mais duas pessoas, aparentemente as mesmas que aparecem no conteúdo aqui verificado, andando rapidamente, como se estivessem indo embora do local.

Segundo Carol, a intenção era entregar o boneco em razão das condenações que o político sofreu ao longo da última semana de agosto. Marçal teve as contas oficiais temporariamente suspensas na internet e foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) a dar direito de resposta nas redes sociais a Guilherme Boulos (PSOL) e a Ricardo Nunes (MDB), adversários do ex-coach na corrida pela Prefeitura.

Conforme a nota divulgada pela equipe de Iara, a entrega do boneco não ocorreu, “pois os seguranças de Pablo Marçal começaram a persegui-la de forma violenta no instante em que a viram”, fazendo com que a candidata deixasse o local rapidamente.

“Transformar um isoporzinho que sequer foi entregue em um suposto atentado é uma mentira. As acusações são infundadas e completamente falsas. Não houve qualquer incidente com Marçal e lamentamos profundamente a tentativa de criar uma falsa narrativa que o vitimiza”, diz trecho do comunicado. O Comprova tentou contato com a candidata do PSOL, mas não obteve resposta.

Também foi feito contato com os perfis analisados nesta verificação, mas apenas um deles, que indica que o assessor do PSOL teria atentado contra o candidato a prefeito, respondeu, alegando ser “independente” e afirmando “que posta vídeos relacionados à política de diversos candidatos, prezando pela imparcialidade”. Ainda na resposta, enviada por mensagem direta na própria rede social, o perfil afirma que o trecho postado ”é de um vídeo que circulou na internet sobre o suposto atentado”.

Na descrição do post, disse o perfil, foi reproduzido o “posicionamento” da assessoria de Marçal. “Tanto que colocamos: ‘de acordo com a assessoria do candidato Pablo Marçal’. Não estávamos no local do ocorrido, por isso não podemos afirmar se, de fato, havia ou não alguém armado oferecendo risco e, por isso, não fizemos afirmações, sempre utilizando ‘supostamente’ para se referir ao caso”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O suposto atentado contra Pablo Marçal já foi verificado por outras agências de checagem. A Boatos.org apontou que a narrativa do candidato do PRTB carece de provas. Além disso, a Agência Lupa revelou que é falso que a deputada estadual Luciana Genro tenha atentado contra a vida do político. O Comprova já mostrou como fazer uma busca processual adequada utilizando o Jusbrasil, a partir das acusações de Marçal de que Guilherme Boulos seja usuário de drogas.

Investigação e verificação

Investigado por: Terra, CNN Brasil, Metrópoles, imirante.com e Tribuna do Norte
Texto verificado por: Estadão, Folha, A Gazeta, NEXO, SBT News e SBT  

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança. 

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