Três policiais militares foram presos e outros 150 serão investigados por participar de protestos por aumento salarial no Ceará. Em meio aos atos, dois batalhões foram atacados por homens encapuzados, que roubaram dez viaturas em uma das unidades e esvaziaram pneus dos carros em outra.
Na segunda-feira (17), a Justiça havia determinado, a pedido do Ministério Público Estadual, que agentes de segurança poderiam sofrer sanções e até serem presos por promoverem movimentos grevistas ou manifestações no estado.
Em um dos ataques, no batalhão no bairro do Papicu, cerca de dez viaturas foram levadas. Em outro, na Barra do Ceará, os carros tiveram os pneus esvaziados. O governo vai investigar as ações, mas o secretário da Segurança, André Costa, disse nesta quarta-feira que podem ser policiais e até esposas de policiais envolvidos nessas ações.
"Esses encapuzados em vídeos se autointitulam policiais militares, e alguns deles já foram identificados e estamos trabalhando para identificar todos. E temos também mulheres que se apresentam como esposa de policiais militares, e elas também responderão por crimes, ninguém vai ficar fora. E vemos até algumas levando crianças aos quartéis, crianças que deveriam estar na escola."
Vídeos mostram mulheres e homens encapuzados esvaziando pneus de carros e motos - algumas usavam até máscaras que remetem à série La Casa de Papel e que é muito utilizada no Carnaval.
Estão com atividade paralisada os batalhões no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza, e na cidade de Caucaia, na região metropolitana, devido à presença na porta de manifestantes, a maioria mulheres de policiais -- o governo informou que o policial que parar não terá o salário pago em março.
A presença de mulheres em frente a batalhões ocorreu em 2017 no Espírito Santo, durante a greve de policiais militares --a situação de instabilidade em Vitória provocou onda de saques e incêndio a ônibus.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), pediu ao governo federal ajuda para o patrulhamento das cidades cearenses durante os protestos e paralisação de parte dos policiais militares.
O contato foi feito, segundo ele, com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos.
Em janeiro de 2019, durante ações de facções criminosas por todo o estado, o governo federal enviou agentes da Força Nacional para auxiliar no policiamento.
"Essas ações têm o objetivo único de prejudicar a segurança das famílias cearenses e espalhar pânico entre a população, reforçadas por centenas de fake news, numa espécie de guerra psicológica nas redes sociais. Como pano de fundo, interesses de pequenos grupos, que se aproveitam da boa-fé da tropa para mentir, principalmente em ano de eleição", disse Santana.
Temendo que a paralisação do militares ganhe força, o governo do Ceará enviou equipes da Polícia Civil para fazer o patrulhamento das ruas da capital e região metropolitana na madrugada e manhã desta quarta-feira (19).
Desde o início de 2020, o governo e associações dos policiais e bombeiros militares negociam uma reestruturação salarial. Nesta terça-feira (18) a proposta final foi enviada para a Assembleia Legislativa, que vai discutir o projeto e votar, mas parte da categoria não ficou satisfeita com o que foi definido.
No fim da tarde, manifestantes, entre policiais e familiares dos millitares, foram até o 18º Batalhão da PM, no bairro Antônio Bezerra, protestar. Viaturas tiveram os pneus esvaziados neste batalhão e no de Caucaia.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, três policiais militares foram presos por participação na manifestação: Jardeson Feitosa Tabusa, da Força Tática do BPTur, Francier Sampaio de Freitas e José Carlos Morais, ambos do 14º Batalhão (da cidade de Maracanaú).
Eles foram autuados no artigo 149, parágrafo único, do Código Penal Militar (CPM), com pena prevista de 8 a 20 anos, além de possível demissão.
O Batalhão de Choque da própria Polícia Militar foi deslocado na noite de terça (17) até o 18º Batalhão para dispersar os manifestantes (não houve tumulto ou feridos). Alguns, porém, permaneceram dentro do prédio.
Segundo o governo, os policiais que participarem de protestos ou abandonarem o serviço serão excluídos da folha de pagamento. "Os comandos não irão tolerar atos de indisciplina e quebra de hierarquia", diz a nota do governo.
A proposta de reestruturação salarial enviada pelo governo para análise dos deputados prevê aumento de cerca de R$ 3.400 para cerca R$ 4.500 no salário dos soldados até 2022, pagamento que será feito em três parcelas (em março de cada ano).
Inicialmente o oferecido havia sido aumento para R$ 4.200, em quatro parcelas, mas foi revisto após as associações que representam a classe terem rejeitado a oferta.
O governador Camilo Santana (PT) disse que a proposta já está no limite do que o Estado pode oferecer. O deputado estadual Soldado Noelio (Pros), que participou da negociação com o governo, diz que o projeto não satisfaz a categoria por não apresentar um plano de carreira para os policiais e bombeiros militares.
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