A positividade dos testes de coronavírus em laboratórios privados do país aumentou em outubro, apontou análise do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), e uma nova onda de casos da doença também tem sido observada em países da Europa. Duas novas cepas do vírus, a BG.1 e a XBB, que surgiram a partir da variante Ômicron, são potencialmente mais resistentes à vacina e têm crescido em circulação.
Por isso, especialistas apontam que é importante que a população atente aos sintomas, faça testes para confirmar a infecção por coronavírus e siga o tratamento correto da doença.
Como a Covid-19 pode ser confundida com um resfriado ou gripe, é importante que a pessoa, ao perceber os sintomas, faça um teste para comprovar se há infecção por coronavírus ou por influenza, que também teve aumento relevante no número de testes positivos.
Em especial, idosos e imunossuprimidos devem ter um diagnóstico correto para que o tratamento seja feito o quanto antes, diminuindo as chances de uma evolução para um quadro mais grave. Até o momento, o aumento no número de testes positivos para coronavírus é de casos leves. Não houve aumento relevante no número de internações pela doença.
Segundo o médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Evaldo Stanisla, apesar das novas cepas do vírus, os sintomas continuam sendo os mesmos de antes. "Geralmente, são sintomas respiratórios, similares a de um resfriado comum ou eventualmente aos de uma gripe, quando há mais sintomas de febre e mal estar", diz.
Por isso, é preciso se atentar se há:
Os sintomas podem aparecer isoladamente ou todos juntos. Pessoas imunizadas com todas as doses contra a doença e que não têm idade avançada ou problemas de saúde tendem a apresentar sintomas mais leves, sem evolução para casos graves. Para saber se é covid-19, influenza ou apenas um resfriado comum, é preciso fazer um teste laboratorial.
Alexandre Naemy Barbosa, infectologista, professor e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, defende que a testagem de pacientes com sintomas respiratórios deve ser feita em todos os casos.
Segundo ele, o paciente consegue ter um melhor tratamento quando diagnosticado corretamente, o que diminui as chances de evolução da doença para quadros mais graves. "Hoje nós já temos alguns medicamentos que tratam a Covid-19 e que ajudam para que o quadro clínico do paciente não evolua negativamente", diz o especialista.
Para Carolina dos Santos Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde, a testagem é importante não só no âmbito pessoal, mas também coletivo. Ela possibilita que a comunidade médica, científica e as autoridades saibam o que está acontecendo nas cidades e no país para que sejam tomadas as medidas necessárias para conter e prevenir casos.
Além disso, é necessário comunicar o cenário atual às pessoas mais vulneráveis para que elas possam se proteger.
"Nós sempre estimulamos a confirmação por exame laboratorial, mesmo para pacientes com sintomas leves e sem fatores de risco, para que a gente conheça o que está acontecendo na comunidade. Afinal, quando aumenta o número de casos leves, significa que as pessoas que têm mais chance de ter um quadro grave estão expostas a um risco maior", explica Lázari.
Stanisla concorda com a especialista do Fleury. Segundo ele, a queda na testagem, provocada principalmente pelo relaxamento da população em relação à preocupação com o coronavírus, é um grande equívoco. "A gente perdeu o nosso indicador epidemiológico de circulação viral. Hoje a gente tem muito diagnóstico sindrômico."
O médico explica que, costumeiramente, as pessoas têm sintomas respiratórios, procuram uma orientação médica - ou nem sequer procuram um médico - e o diagnóstico é feito de acordo com os sintomas. Porém, o método não é eficaz.
"A gente tem muitos agentes respiratórios. Cada um deles vai ter uma complicação clínica e um padrão epidemiológico. Então, a testagem é essencial para a gente identificar quais são os agentes que estão circulando", explica o especialista.
Caso o médico do pronto-socorro não peça a testagem, Barbosa defende que o paciente exija o teste. Além disso, o ideal é realizar testes laboratoriais.
Os autotestes de farmácia, apesar de mostrarem o resultado rapidamente e terem uma eficácia comprovada, não notificam os resultados. Ou seja, não são computados pelas pesquisas e nem pelo governo.
O melhor momento para se fazer o teste é quando o paciente começa a apresentar sintomas. Ao passar alguns dias, pode ser que o resultado indique um falso negativo.
Os cuidados a serem tomados para não contrair Covid-19 ao longo desta nova onda da doença variam de pessoa para pessoa.
O vice presidente da SBI defende que idosos acima de 75 anos, pessoas que passaram por implante de órgão recente, pessoas com doença de lúpus e imunossuprimidos em geral evitem aglomerações e utilizem máscaras quando tiverem contato com outras pessoas. "Mesmo com todas as doses da vacina, essas pessoas são mais vulneráveis", diz o médico.
Já para pessoas com condições de saúde normais e que não são idosas, a recomendação é de uso de máscara apenas em ambientes fechados, com aglomeração e sem circulação nenhuma de ar, como elevadores. "Não há motivo para grande preocupação", tranquiliza Barbosa.
Apesar de não ser um cenário tão grave quanto o de 2020 e 2021, Stanisla lembra que "é importante que as pessoas entendam que a pandemia não acabou".
Para ele, a flexibilização do uso de máscaras mesmo em locais extremamente fechados e com baixa circulação de ar deveria ser repensada pelas autoridades sanitárias. "A máscara protege e continua sendo extremamente indicada para esses ambientes", diz
Para todos os médicos escutados pela reportagem, a vacinação continua sendo a melhor medida de prevenção contra a Covid-19.
"A gente observa que muita gente negligenciou a dose de reforço da vacina e isso é um grande problema porque impacta na circulação viral", diz Stanisla. Mais uma vez, trata-se de uma questão coletiva: quanto maior for a barreira imunológica encontrada pelo vírus, mais dificilmente ele vai penetrar em uma região.
As doses de reforço são importantes porque, sem elas, a proteção cai consideravelmente. Até o momento, apenas 48,93% da população total brasileira tomou dose de reforço, segundo o consórcio de veículos de imprensa, com base em dados das secretarias estaduais de Saúde.
A vacinação infantil é ainda mais preocupante. O Brasil tem uma baixa cobertura vacinal infantil contra o coronavírus. Hoje, o número de bebês e crianças internados por covid-19 supera o de idosos, segundo dados do Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância (Fiocruz/Unifase).
De 14 de agosto a 10 de setembro deste ano, idosos com mais de 60 anos somaram 387 hospitalizações pelo vírus no País. Já entre bebês e crianças, o número chegou a 678, quase o dobro.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta