O novo diretor da Polícia Federal, delegado Paulo Maiurino, sinalizou nesta quarta-feira (07) as primeiras mudanças que pretende fazer na cúpula da corporação.
No horizonte estão alterações em superintendências estaduais e na área de combate à corrupção, uma das mais sensíveis da PF e que é responsável pelos inquéritos contra políticos em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal).
Exemplos de apurações sob os cuidados da área de combate à corrupção são os inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, casos que miram familiares e aliados do presidente Jair Bolsonaro.
Anunciado nesta terça-feira (6) pelo novo ministro da Justiça, Anderson Torres, após o aval de Bolsonaro, Maiurino aguarda a publicação da nomeação no Diário Oficial da União para divulgar as novidades.
Entre os nomes para a área de combate à corrupção, o mais cotado é Luís Flávio Zampronha, com experiência em casos envolvendo políticos.
A área estava até o mês de fevereiro sob o comando de Igor Romário, último nome ligado ao ex-ministro Sergio Moro a deixar a cúpula da PF. No início de março, o delegado Cézar Luiz Busto de Souza, que atuava em Maringá, foi designado para o posto.
Maiurino e Zampronha atuaram juntos nas investigações dos mensalões mineiro, que atingiu o PSDB, e do PT, em meados dos anos 2000.
Mais recentemente, Zampronha cuidou da Operação Spoofing, que mirou os responsáveis pelo vazamento de mensagens de procuradores da Lava Jato. A investigação resultou em ação penal na Justiça Federal em Brasília.
Maiurino, por sua vez, havia sido designado para trabalhar no inquérito que o Superior Tribunal de Justiça abriu sob a justificativa de que ministros da corte teriam sido investigados ilegalmente por integrantes da Lava Jato de Curitiba.
A suspeita partiu das mensagens vazadas na invasão hacker, mas o inquérito foi suspenso em decisão liminar (provisória) da ministra Rosa Weber, do STF.
Para preencher postos de direção, Maiurino também avalia nomes de agrado do ministro da Justiça, como o do delegado Márcio Nunes de Oliveira, atualmente superintendente da PF no Distrito Federal.
Na superintendência tramita inquérito aberto por ordem judicial sobre a produção, pelo Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras), de um relatório com transações consideradas atípicas de Frederick Wassef, encarregado da defesa de dois filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o empresário Renan Bolsonaro. Wassef se diz vítima de uma ação ilegal do Coaf.
Como é de praxe, a mudança no comando da PF dividiu a corporação. Nas redes de comunicação de servidores, houve reclamações quanto ao fato de Maiurino estar afastado há tempos, exercendo cargos políticos.
Ele foi, por exemplo, secretário de Esporte e Lazer do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo entre 2016 e 2018 e assessor especial da Secretaria de Segurança do Distrito Federal na gestão de Agnelo Queiroz (PT).
A proximidade com a política, afirmaram policiais à reportagem, é vista com reservas. Para esses policiais, fica a dúvida sobre o grau de independência que a corporação terá.
Aliados do novo diretor, no entanto, saíram em sua defesa dizendo que ele sempre manteve relação próxima com a polícia.
Mencionaram a gestão do delegado Paulo Lacerda, considerada um marco do ponto de vista operacional na PF. Quando foi designado para o posto no primeiro mandato do ex-presidente Lula, Lacerda atuava havia anos como assessor parlamentar.
A favor também de Maiurino, colegas mais próximos comentam que ele terá mais habilidade para tratar questões de interesse da corporação que os dois anteriores, Rolando Souza e Maurício Valeixo. O desafio, reconhecem, será o de manter a independência da PF sem desagradar Bolsonaro.
Sem entrar no mérito sobre a escolha do novo diretor agora anunciada, o presidente da ADPF (Associação de Delegados da Polícia Federal), Edvandir Paiva, afirmou que mudanças frequentes no comando da corporação não são desejáveis.
Em pouco mais de um dois anos da atual administração, Maiurino é o terceiro diretor-geral. "A Polícia Federal é uma instituição de estado e, como tal, deve trabalhar em um ambiente de estabilidade", afirmou o representante dos delegados.
Paiva lembra da discussão que há anos tramita no Parlamento que prevê, entre outros pontos, autonomia administrativa da PF, mandato e lista tríplice para diretor-geral. Ferramentas, segundo ele, que ajudam a inibir a captura política da instituições pelos governantes de ocasião.
O novo diretor da PF é considerado por Anderson Torres um nome que ajudará o Palácio do Planalto a refazer a base na segurança pública, desarticulada nos últimos meses --reflexo das mudanças realizadas na pasta da Justiça com a saída de Sergio Moro, no primeiro semestre do ano passado, e com a dificuldade do governo de levar adiante no Parlamento matérias de interesse do grupo.
Assim como o novo ministro da Justiça, Maiurino tem uma bom trânsito na relação com a bancada da bala no Congresso.
Além do Legislativo, o novo diretor da PF também tem interlocução com o Judiciário. Ele chefiou a Secretaria de Segurança do STF entre outubro de 2019 e setembro de 2020 e tem boa relação com os ministros da corte.
Dentro da PF, Maiurino já ocupou cargos relevantes. Comandou a Interpol Brasil (Divisão de Cooperação e Operações Policiais Internacionais) e foi assessor de relações internacionais da direção da corporação.
O delegado assume o cargo em um momento conturbado, após o chefe do Executivo fazer seis mudanças no primeiro escalão do governo e trocar também o comando do Ministério da Justiça.
Maiurino ocupará o lugar de Rolando Souza, nomeado para o cargo em maio do ano passado. Rolando chegou ao posto em um momento turbulento, após Moro e o então chefe da PF, Maurício Valeixo, pedirem demissão acusando o presidente de querer interferir nos trabalhos da corporação. O Supremo instaurou um inquérito para apurar as acusações.
Ao pedir demissão do governo, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF, órgão que mantém investigações no entorno de aliados e da família presidencial.
No mês passado, a PF abriu inquérito para apurar suposto tráfico de influência de Jair Renan, filho 04 do presidente, por meio da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, empresa aberta em novembro.
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