BRUXELAS - O maior número de alunos brasileiros por turma, em comparação com o da maioria das outras maiores economias do mundo, deve ser um dos gargalos mais importante na retomada das aulas presenciais, afirma estudo divulgado nesta terça (8) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo de 38 países entre os mais ricos do mundo. O problema pode ter impacto na evolução dos casos de infecção do novo coronavírus.
Os jovens menos qualificados serão os mais afetados, o que deve aumentar ainda mais a desigualdade dentro de um país e entre os diferentes países, afirmou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, no lançamento do trabalho.
O relatório incluiu outras 8 economias que não integram a organização, mas fazem parte das 20 maiores, entre ela a China, o Brasil, a Rússia e a Índia.
A reabertura das escolas com segurança, diz a organização, dependerá da capacidade de manter a distância de no mínimo um metro entre alunos e entre eles e os professores, o que será mais difícil nos países com turmas maiores e menos disponibilidade de espaço ou professores para aumentar o número de turnos.
Entre 32 nações com dados disponíveis, o Brasil -cujas escolas estão fechadas desde 25 de março- tem o 10º maior número de alunos por classe até o 5º ano do ensino fundamental e o 6º maior número de estudantes por turma no estágio que vai do 6º ao 9º ano.
Nos dois casos, o país está acima da média dos 32 analisados. Nas escolas brasileiras, há 23 alunos em média por turma no ensino fundamental 1, quase 10% acima da média de 21 estudantes por turma.
No ensino fundamental 2, o tamanho da turma brasileira é na média de 27 alunos, número 17% maior que os 23 da média dos 32 países avaliados.
Ainda de acordo com os dados compilados pela OCDE, as escolas públicas devem enfrentar mais dificuldades na adaptação necessária para retomar aulas com segurança, porque suas turmas são em média maiores.
No fundamental 1, elas têm 24 estudantes por classe, 14% acima do tamanho médio de uma turma de ensino público dos países-membros da organização.
No fundamental 2 público, a turma média no Brasil tem 28 alunos, mais de 20% acima da classe média da OCDE.
O número maior de dias com escolas fechadas também prejudica mais os alunos brasileiros que os dos países da OCDE. Até o final de junho, o Brasil já estava havia 16 semanas sem aulas presenciais, uma quinzena a mais que a média da organização.
No começo de setembro, só 8 dos 46 países avaliados pela entidade ainda estavam com as aulas suspensas por causa da pandemia de coronavírus.
A organização aponta também o risco de uma redução dos investimentos públicos em educação, principalmente nos países com maior restrição orçamentária (dos quais o Brasil faz parte).
O país também deve ser um dos mais afetados na internacionalização do ensino superior, já que integra a lista de países de maior risco de contágio pelo novo coronavírus, o que dificulta viagens de brasileiros ao exterior.
Segundo a OCDE, o desemprego também deve ser uma área em que pandemia e nível de educação terão impacto relevante. "Aqueles com menor nível de escolaridade são os mais vulneráveis, pois são os mais improváveis de se beneficiar do trabalho remoto", afirma o relatório.
Em 2019, antes da pandemia, 14% dos jovens adultos sem ensino médio completo estavam desempregado no Brasil, enquanto a taxa de desemprego dos que tinham ensino superior era 8%.
No rescaldo da crise financeira de 2008, o o desemprego de jovens adultos sem ensino médio aumentou em 1,5 ponto percentual entre 2008 e 2009 no Brasil, enquanto o dos com ensino superior subiu 0,2 ponto percentual.
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