Marcelo Queiroga, 55, olhava para o mar diante de sua casa em João Pessoa, a capital da Paraíba, quando teve seu descanso interrompido pelo celular que não parava de tocar, na tarde deste domingo (14).
Do outro lado da linha, jornalistas de vários veículos de imprensa, incluindo a Folha, queriam saber como o cardiologista estava reagindo ao ver seu nome circulando entre as redes de apostas para ocupar a chefia do ministério da Saúde no lugar do general Eduardo Pazuello.
Pazuello tem sido pressionado a deixar o cargo após desgastes na condução da pandemia no Brasil, que fez do país uma preocupação mundial devido à elevação de casos, internações e óbitos por Covid-19.
Neste domingo mesmo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou as tratativas para um novo nome que terá o desafio de gerir a crise.
Numa reunião em Brasília, que durou ao menos três horas e contou com a presença do próprio Pazuello, a cardiologista Ludhmila Hajjar, do Incor e da rede de hospitais Vila Nova Star, apresentou-se para a missão a pedido do presidente.
A conversa, no entanto, foi inconclusiva.
Queiroga disse à Folha que ouviu seu nome ventilado para o cargo pela imprensa e foi direto ao ponto: "O presidente conhece o meu trabalho", disse.
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Queiroga reforça a proximidade que tem com Bolsonaro antes mesmo de o atual governo assumir as rédeas do país.
O cardiologista integrou, como convidado, a equipe de transição dando apoio técnico na área da saúde. Mais recentemente, foi nomeado para assumir uma posição na diretoria da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Queiroga foi indicado por Bolsonaro e, para ocupar uma das cinco cadeiras da diretoria da agência, terá de ser sabatinado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, atualmente presidida pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
A pandemia, porém, tem empacado a sabatina e a ida de Queiroga à ANS. De perfil técnico, o cardiologista diz que a transição de comando do ministério da Saúde precisa ser tranquila e feita de cabeça fria porque problemas não faltam.
Ele disse também que, caso seu nome avance no Planalto, vai esperar a saída oficial de Pazuello para se apresentar. E ironiza: "um médico não assume o plantão de outro. É preciso deixar o lugar vago para o outro ocupar", diz.
Queiroga reconhece que a resposta para a equação da pandemia depende de muitas variáveis. A Covid-19, diz, afeta não só o doente em si, mas todo o sistema de saúde. "É uma doença da atenção primária, mas, sobretudo, exige tratamento mais especializado. Ou seja: a Covid demanda todo o sistema", explica.
Para ele, é preciso dar gás ao programa de imunização do país, uma referência pela capilaridade e pela agilidade, para cair a pressão contra os hospitais. "Mais vacinados, menos doentes", diz.
"Mas, daqui, é fácil falar. Temos um país continental e de múltiplas realidades. Não é preciso inventar a roda, basta colocarmos em prática tudo o que a ciência já nos mostrou que funciona", afirma.
O que não vai entrar em seu cardápio, caso seja escolhido ministro, será a cloroquina, diz. O medicamento é defendido por Bolsonaro e integra o "tratamento precoce" contra a Covid-19 também receitado por muitos médicos. "A própria Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomendou o uso dela nos pacientes".
"E nem eu sou favorável porque não há consenso na comunidade científica", reafirma Queiroga.
Para além do eventual comando do ministério da Saúde, Queiroga diz ter sido o primeiro presidente da entidade que representa os cardiologistas vindo de um estado pequeno, a Paraíba.
E que, na sua gestão na entidade, primou por reforçar a participação feminina na diretoria -hoje, quatro das 10 posições são ocupadas por mulheres. Uma delas é Ludhmila Hajjar. "Eu a escolhi pela sua competência. E eu a destaquei para falar em nome da entidade sobre a Covid-19", afirma.
Formado médico, em 1988, na Universidade Federal da Paraíba, fez residência médica no Hospital Adventista Silvestre, do Rio de Janeiro, além de treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista na Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Também tem no currículo intensa atuação na AMB (Associação Médica Brasileira) e na Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), que também presidiu.
É casado com uma pediatra e tem três filhos -uma é médica, outro está a caminho da mesma formação e, o terceiro filho, é advogado.
"Deixa eu desligar o telefone para acabar de ver o mar e ouvir a minha esposa. Ela tem conselhos ótimos", despede-se da entrevista.
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