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O que se sabe sobre a morte de cães por suspeita de contaminação em petiscos

O que se sabe sobre a morte de cães por suspeita de contaminação em petiscos

Investigações apontam que a principal suspeita é de contaminação da matéria-prima utilizada. Ao menos 28 casos foram registrados até o momento

Publicado em 13 de setembro de 2022 às 17:49

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Desde o início do mês, tutores de cachorros em ao menos nove estados e no Distrito Federal relataram à Polícia Civil de Minas Gerais mortes de animais após o consumo de petiscos da marca Bassar Pet Food. A principal suspeita é de contaminação de matéria-prima utilizada.

Investigadores de Minas e a de São Paulo trabalham em conjunto nas investigações. De acordo com a polícia mineira, ao menos 28 casos foram registrados até o momento. As apurações e os laudos periciais ainda estão em andamento.

Equipes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) também investigam e acompanham o caso.

Veja o que se sabe até agora.

QUAL É A PRINCIPAL SUSPEITA SOBRE A CAUSA DA CONTAMINAÇÃO DOS CÃES?

De acordo com as investigações iniciais, a principal suspeita é de que tenha ocorrido a contaminação do propilenoglicol, que é um ingrediente utilizado na fabricação dos petiscos, por monoetilenoglicol, uma substância tóxica.

Segundo o professor Leonardo Boscoli Lara, especialista em nutrição animal, da Escola de Veterinária da UFMG, tanto o propilenoglicol quanto o monoetilenoglicol são umectantes e anticongelantes.

"Os dois têm as mesmas propriedades. Só que o propilenoglicol não tem toxicidade, ele é atóxico para seres humanos, é atóxico para cães", afirma o professor. Segundo ele, o propilenoglicol também é mais caro que o monoetilenoglicol.

O propilenoglicol pode ser utilizado por indústrias alimentícias de animais e seres humanos. O aditivo precisa ser adquirido em empresas registradas no Ministério da Agricultura.

Já o monoetilenoglicol, por ser tóxico, não pode ser usado para fins alimentícios. Segundo Boscoli, a substância é utilizada com frequência em fluidos de radiadores de veículos e como anticongelante para motores.

A suspeita inicial da contaminação por monoetilenoglicol surgiu após laudos feitos pela Escola de Veterinária da UFMG identificarem a presença de oxalato de cálcio nos rins de animais intoxicados, bem como degeneração do túbulo renal. Segundo Boscoli, este é um forte indicativo de intoxicação.

Segundo a Bassar Pet Food, o propilenoglicol utilizado foi fornecido pela empresa Tecno Clean Industrial, com sede em Contagem (MG).

QUAL É A SEMELHANÇA COM AS MORTES QUE OCORRERAM NO CASO BACKER?

No final de 2019 e no início de 2020, ao menos 29 pessoas foram intoxicadas após consumir a cerveja Belorizontina, produzida pela empresa Backer. Dez morreram. As investigações feitas pela Polícia Civil identificaram intoxicação por dietilenoglicol.

De acordo com Boscoli, o monoetilenoglicol e o dietilenoglicol são substâncias parecidas, ambas são etilenoglicois. As duas são tóxicas, no entanto, o poder tóxico do dietilenoglicol, citado no caso Backer, é maior.

"O dietilenoglciol na mesma dose causa efeitos muito mais severos, ou uma dose menor já causa os mesmos efeitos que uma dose maior do monoetilenoglicol", diz o especialista.

O QUE O MONOETILENOGLICOL E O DIETILENOGLICOL PODEM CAUSAR NO ORGANISMO?

As duas substâncias agem diretamente nas membranas celulares. Os sintomas iniciais mais comuns da intoxicação por estas substâncias são vômitos, diarreias e tremores.

Com o tempo, elas passam a atacar outros órgãos. "Um dano bem clássico dessas substâncias seria um acúmulo de oxalato de cálcio, tanto no fígado quanto no rim. O fígado pode até se regenerar, mas o rim não", explica Boscoli.

No caso da cervejaria Backer, muitos dos sobreviventes à contaminação tiveram sequelas neurológicas e renais. Muitos ainda precisam passar por tratamentos como hemodiálise.

NO CASO DA BACKER, O QUE A INVESTIGAÇÃO APONTOU SOBRE COMO O PRODUTO CHEGOU À CERVEJA?

Segundo as investigações da Polícia Civil, a Backer utilizava o produto para resfriamento de tanques usados para armazenar a produção da cerveja. O dietilenoglicol era colocado em dutos que circulavam os compartimentos.

Conforme a Polícia Civil, a substância teria entrado em contato com a cerveja por buracos que existiam tanto nos dutos como nos tanques. A Backer afirmou nunca ter comprado a substância.

QUAIS SÃO OS PRODUTOS E LOTES DA BASSAR PET FOOD QUE ESTÃO SOB SUSPEITA?

Inicialmente, os produtos identificados com suspeita de contaminação foram o Every Day sabor fígado (lote 3554) e o Dental Care (lote 3467), de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Na semana passada, a Bassar anunciou o recolhimento de todos os seus produtos junto a seus consumidores, que devem entregar os itens nos pontos de venda onde foram comprados.

Na última sexta (9), o Ministério da Agricultura identificou a presença de monoetilenoglicol em novos lotes de produtos para alimentação animal da marca Bassar Pet Food, mas os números deles não foram divulgados.

QUAIS SÃO OS PRODUTOS E LOTES DA TECNO CLEAN INDUSTRIAL LTDA QUE ESTÃO SOB SUSPEITA?

As investigações do Ministério da Agricultura detectaram que dois lotes de propileno glycol USP (AD5053C22 e AD4055C21) da empresa Tecno Clean Industrial, que foram adquiridos e utilizados pela Bassar Indústria e Comércio Ltda, segundo apuração policial, podem ter causado intoxicação e morte de cachorros.

QUAIS FORAM AS MEDIDAS APLICADAS PELA POLÍCIA E PELO MINISTÉRIO PARA CONTER O PROBLEMA ATÉ AGORA?

No dia 2 de setembro, o Ministério da Agricultura determinou a interdição da fábrica da Bassar Indústria e Comércio Ltda, na cidade de Guarulhos (SP).

A pasta determinou na última terça (6) a suspensão imediata do uso em linhas de produção de dois lotes da matéria-prima propilenoglicol da empresa Tecno Clean Industrial LTDA.

O ministério também determinou nesta sexta (9) que as empresas fabricantes de alimentos ou mastigáveis para animais devem indicar os lotes de propilenoglicol presentes em seus estoques e quem são os fabricantes. A indicação deve ser feita no Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal da região.

As empresas também devem indicar os lotes de produtos que contenham propilenoglicol em sua composição e que já tenham sido distribuídos. As empresas têm o prazo de dez dias para atender a essas determinações.

Nesta segunda (12), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma resolução que proíbe a comercialização, distribuição, manipulação e uso dos dois lotes citados do propilenoglicol da Tecno Clean Industrial. A resolução também determina o recolhimento dos dois lotes da substância.

COMPREI UM PETISCO DA BASSAR QUE NÃO ESTÁ ENTRE OS LOTES INVESTIGADOS, O QUE DEVO FAZER?

A Bassar afirmou que está fazendo um recall de todos os produtos fabricados desde 7 de fevereiro de 2022. "Isso compreende todos os lotes de produto, marca própria ou marca Bassar, com numeração acima do lote 3329 (inclusive este)", explica.

A recomendação da Polícia Civil é de que os alimentos não devem ser dados aos cães e encaminhados para perícia.

QUAIS SÃO AS EMPRESAS ENVOLVIDAS E O QUE ELAS DIZEM?

As empresas envolvidas no caso são a Bassar Pet Food, que produz os petiscos com suspeita de contaminação que, segundo apuração policial, podem ter provocado a morte dos cachorros, e a Tecno Clean Industrial Ltda, responsável pela matéria-prima propilenoglicol utilizada nos petiscos.

A Bassar Pet Food afirmou em nota que tem colaborado com as autoridades para a investigação do caso desde o surgimento da primeira denúncia.

"A Bassar fechou sua fábrica e contratou empresa independente para realizar uma profunda auditoria em seu processo de produção e maquinários e de todas as matérias-primas que compõem seus produtos finais", diz a nota.

"A Bassar Pet Food reforça que o etilenoglicol não faz parte de nenhuma etapa da sua cadeia de produção", afirma o comunicado.

A empresa também explica que, para participar do recall, "basta o consumidor devolver o produto à loja, que deverá realizar o reembolso do valor gasto, independentemente se a embalagem já estiver aberta ou se parte do produto já tiver sido utilizada".

A Tecno Clean Industrial afirmou que não fabrica propilenoglicol. A substância teria sido comprada da empresa A&D Química Comércio e revendida pela Tecno Clean, como distribuidora. A empresa se colocou à disposição das autoridades para ajudar nas investigações.

A A&D Química Comérico, localizada na cidade de Arujá (SP), afirmou em nota que os produtos de seu portfólio, incluindo o propilenoglicol, não possuem finalidade alimentícia, sendo destinados exclusivamente para produção de itens de higiene e limpeza. A empresa também afirmou que está à disposição das autoridades para a elucidação do caso.

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