A Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a cloroquina da lista de drogas que seriam testadas para tratamento da Covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus) no programa internacional Solidarity.
Na segunda (25), a entidade havia anunciado a suspensão dos testes com hidroxicloroquina, para avaliar a segurança do medicamento. Estudo com dados de 96 mil pacientes publicado na sexta (22) indicava que as duas drogas, hidroxicloroquina e cloroquina, estavam relacionadas a maior mortalidade.
O uso das duas drogas é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, e na última quarta (20) o Ministério da Saúde alterou o protocolo para permiti-las também por pacientes com sintomas leves do novo coronavírus. Até então, a permissão era para pacientes graves e críticos e com monitoramento em hospitais.
Na página do Solidarity na internet, que até sexta-feira passada relacionava a cloroquina como droga a ser testada, a OMS incluiu um asterisco com este aviso: "De acordo com o protocolo do estudo inicial, a cloroquina e a hidroxicloroquina foram selecionadas como possíveis drogas a serem testadas no Solidariedade. No entanto, o estudo só foi realizado com a hidroxicloroquina; portanto, a cloroquina foi removida desta página como uma opção de tratamento listada em estudo".
Em entrevista na última quarta (20), a entidade havia citado os dois medicamentos como objeto de estudos para o tratamento da Covid-19 no Solidarity -programa internacional coordenado pela organização em 245 hospitais de 18 nações, com cerca de 3.000 pacientes e 885 médicos envolvidos. A OMS disse à Folha que não pode divulgar os nomes dos países participantes.
Questionada sobre a possibilidade de reintroduzir a cloroquina no programa após a checagem que está sendo feita na hidroxicloroquina, a entidade não havia respondido até as 8h30 desta quarta (27).
A revisão dos dados do Solidarity está sendo feita por um comitê independente, o Conselho de Monitoramento de Dados e Segurança (DSMC) por causa da forma como o experimento foi desenhado: um estudo randomizado duplo cego.
Randomizado quer dizer que os pacientes são escolhidos de forma aleatória, o que evita que os resultados sejam afetados por viés na seleção. Os participantes são divididos em dois grupos -um recebe o medicamento a ser testado e o outro recebe um placebo (produto que imita o remédio, mas é inócuo).
As características dos participantes são controladas, para isolar depois o efeito da droga de outras eventuais causas.
Duplo cego significa que nem o paciente nem os pesquisadores sabem quem está recebendo o remédio e quem está tomando o placebo, precaução tomada para garantir que não haja interferências que prejudiquem as conclusões do estudo.
O DSMC está revisando os dados do estudo com a hidroxicloroquina do Solidarity e de outras pesquisas em andamento e já publicadas, e deve divulgar uma conclusão em meados de junho.
Os pacientes que haviam sido escolhidos para o estudo continuarão recebendo a hidroxicloroquina até o final do tratamento.
Segundo a OMS, embora a hidroxicloroquina e a cloroquina já sejam produtos licenciados para o tratamento de doenças autoimunes e malária, até o momento eles não demonstraram ser eficazes para pacientes com coronavírus, e por isso deveriam ser usados apenas em testes, sob supervisão.
A organização afirma que "alertou os médicos contra a recomendação ou administração de tratamentos não comprovados aos pacientes com Covid-19 e alertou as pessoas contra a automedicação com eles".
"O potencial existe, mas são necessários muito mais estudos para determinar se os medicamentos antivirais existentes podem ser eficazes", diz a OMS.
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