Conteúdo investigado: Em vídeo, o youtuber português Sérgio Tavares diz que a OMS criou um guia de orientação sexual para crianças, recomendando que iniciem a vida sexual o mais breve possível. Ele também atribui à organização um vídeo em que adultos falam com crianças sobre masturbação. A publicação foi compartilhada pelo vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL).
Onde foi publicado: X e Instagram.
Conclusão do Comprova: É enganoso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha criado um guia de orientação sexual para crianças. De fato, há documentos sobre o tema associados à organização publicados em 2010 e 2018, mas eles são voltados para profissionais da saúde e da educação, e não contêm os trechos apontados no vídeo verificado.
Em 2016, a fundação alemã BZgA, que organizou um desses documentos, disse em nota que era alvo constante de desinformação, e que não incentivou masturbação para crianças de 1 a 4 anos. O texto apenas diz a pais e professores que dúvidas relacionadas ao assunto podem surgir nessa faixa etária. “Consideramos crucial que a educação sexual seja apropriada para a idade”, escreveram.
A fundação, que colabora com a OMS, diz ainda que a educação sexual “não se restringe ao ato sexual”. “Se a educação sexual começar desde cedo, pode ser proativa e ajudar a proteger [a criança] de desinformação no futuro. A educação sexual gradualmente equipa e empodera crianças e jovens com informações, habilidades e valores positivos para que entendam e aproveitem sua sexualidade, tenham relacionamentos seguros e satisfatórios quando estiverem prontos, e se responsabilizem pela saúde e bem-estar sexual próprio e alheio”, afirma trecho da nota.
O conteúdo verificado também alega que a OMS teria publicado um vídeo incentivando a masturbação infantil, o que não é verdade. A publicação é, na verdade, da ONG holandesa Rutgers, e mostra pais e filhos conversando sobre o corpo humano e a masturbação de maneira educativa, em gravação de março de 2023.
A ONG apagou o vídeo após a repercussão negativa. “Verificamos que o vídeo está sendo retirado do contexto e usado para espalhar desinformação. Para proteger as crianças no vídeo, apagamos a publicação”, escreveram na rede social X. O vídeo fazia parte de uma campanha nacional de educação sexual que acontece há 18 anos na Holanda. Funcionários da Rutgers chegaram a ser xingados e ameaçados, segundo o jornal KRO-NCRV.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 30 de abril, o vídeo tinha 413 mil visualizações no Instagram, e 124 mil no X.
Fontes que consultamos: Colocamos imagens do vídeo atribuído à OMS na busca reversa, o que nos levou a um vídeo no YouTube de um partido de direita da Holanda, que citava qual era a organização que publicou o conteúdo originalmente. Também buscamos no Google os trechos de documentos que o youtuber cita, usando aspas para restringir os resultados somente a correspondências exatas da frase. Por fim, entramos em contato com o vereador do Rio Carlos Bolsonaro pelo e-mail que aparece em sua página na Câmara Municipal, questionando sobre a publicação, mas não obtivemos resposta até o momento.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O vídeo também foi checado pelo Estadão Verifica. Em 2020, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou a mesma desinformação sobre o documento da OMS. À época, G1, Aos Fatos, UOL e O Globo mostraram que as afirmações eram falsas. O mesmo influenciador também foi desmentido pelo Comprova quando afirmou que urnas eletrônicas brasileiras teriam sido hackeadas nos EUA.
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