O presidente Jair Bolsonaro tem buscado uma saída para a crise política protagonizada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). O auxiliar, por sua vez, ainda trabalha para se manter no cargo.
Bolsonaro discutiu nesta sexta-feira (31) formas de contemplar o aliado com um novo posto na Esplanada dos Ministérios.
A Casa Civil foi esvaziada quando o presidente decidiu retirar da pasta o PPI (Programa de Parceira de Investimentos) após demissão, recontratação e nova demissão de Vicente Santini, secretário-executivo de Onyx.
Santini foi destituído do cargo por Bolsonaro após viajar com duas assessoras em um voo exclusivo da FAB (Força Aérea Brasil) de Davos (Suíça) para Déli (Índia), episódio que foi classificado de imoral pelo presidente.
O secretário chegou a ser realocado na pasta, mas, após repercussão negativa, Bolsonaro decidiu demiti-lo novamente.
Para evitar sua eventual demissão, Onyx antecipou para esta sexta a volta das férias. O ministro estava nos Estados Unidos e tentou discutir a questão com o presidente pelo telefone, mas Bolsonaro preferiu que tratassem do tema pessoalmente.
Ele pousou na capital federal por volta das 10h. Como não foi chamado para uma audiência com o presidente, deslocou-se ao seu gabinete, no Palácio do Planalto, à espera de um contato de Bolsonaro.
O presidente passou o dia no Palácio da Alvorada, recuperando-se de uma cirurgia de vasectomia.
Durante a manhã, ele recebeu os ministros da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno. Bolsonaro também conversou sobre a situação de Onyx com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
No aguardo de um contato do presidente, Onyx deu início a uma articulação para tentar arregimentar apoio pela sua permanência na Casa Civil.
Ele conversou com deputados bolsonaristas e com militares governistas, como Heleno. Deputado federal licenciado pelo DEM-RS, Onyx é um dos ministros da chamada ala ideológica do governo.
Ao desembarcar em Brasília, Onyx apelou para o longo relacionamento com Bolsonaro. À Globonews ele disse que ainda quer "entender as razões" de Bolsonaro para as decisões referentes à Casa Civil.
"Mas a nossa relação é de muita amizade, a nossa relação é de muita confiança entre um e outro, nós somos amigos há mais de 20 anos. Eu tenho certeza de que o entendimento vai prevalecer", afirmou.
O ministro disse também que não considera deixar ao governo.
"Como já disse, a minha missão, com o presidente Bolsonaro, é servir o Brasil. Mas claro que toda e qualquer decisão dentro do governo é liderada por ele", disse à Globonews.
Enquanto isso, no Alvorada, em conversas reservadas relatadas à reportagem, Bolsonaro lembrou que Onyx foi um aliado de primeira hora.
Ele disse ainda que, mesmo insatisfeito com o seu trabalho na Casa Civil, não pretende abandoná-lo. Onyx já havia perdido a articulação política em junho, após ser criticado pela interlocução com o Legislativo. Além disso, a coordenação jurídica da Presidência havia sido passada para a Secretaria-Geral.
Segundo auxiliares presidenciais, Bolsonaro avalia três hipóteses para Onyx. Entre as possibilidades estão os Ministérios do Desenvolvimento Regional, o da Cidadania e o da Educação.
As duas últimas pastas já são comandadas por aliados do ministro gaúcho --Osmar Terra e Abraham Weintraub, respectivamente. Essa saída, na visão do Palácio do Planalto, seria a menos traumática.
Caso opte por alocar Onyx na Educação, Bolsonaro atenderá ainda à ala do governo e a congressistas que cobram a demissão de Weintraub. O MEC está no meio de uma crise decorrente de problemas nas notas do Enem, o que afetou também o sistema de seleção para instituições de ensino superior, o Sisu.
Weintraub ainda tem sido criticado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o chamou de desastre. Para o deputado, o ministro "atrapalha o Brasil".
Gustavo Canuto, do Desenvolvimento, é outro ministro que também está desgastado com Bolsonaro. Desde o ano passado, o presidente tem se queixado de seu desempenho e cogitado retirá-lo da pasta.
Para conseguir fechar a equação, Bolsonaro tem buscado um nome para o comando da Casa Civil.
O favorito é Jorge Oliveira, mas o ministro tem demonstrado resistência. O plano estudado por Bolsonaro é fundir a Casa Civil com a Secretaria-Geral da Presidência.
Um plano B seria a nomeação de um dos líderes do governo para comandar a articulação política, como Fernando Bezerra (MDB-PE), do Senado, e Eduardo Gomes (MDB-TO), do Congresso.
A indicação de Bezerra, no entanto, enfrenta um empecilho.
Ela pode inviabilizar que seu filho, o deputado federal Fernando Coelho (DEM-PE), assuma Minas e Energia em maio, quando o ministro Bento Albuquerque deverá ser indicado para uma vaga destinada à Marinha no STM (Superior Tribunal Militar).
Pai e filho são alvo de investigação da Polícia Federal sobre desvio de verbas em obras no Nordeste.
Além do mais, articuladores políticos de Bolsonaro consideram que trazer um parlamentar para o Planalto, neste momento, pode ser contraproducente.
Eles argumentam que prestigiar o MDB poderia desencadear um movimento por mais espaço na Esplanada vindo de partidos que votam com o governo.
Outro nome ainda é cotado para a Casa Civil: o do secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Ele foi o articulador da reforma da Previdência no Congresso, aprovada no ano passado.
No final da tarde desta sexta, Onyx decidiu ir ao encontro do presidente no Alvorada, na tentativa de discutir seu futuro político.
Bolsonaro, no entanto, já promovia uma reunião sobre a epidemia de coronavírus e pediu ao ministro que tratassem do tema no fim de semana. A conversa deve ocorrer neste sábado (1º).
À tarde, o presidente foi questionado por jornalistas sobre a situação do chefe da Casa Civil, mas não quis comentar o caso.
"Isso não é assunto, não foi tratado aqui. [Ele] estava aqui agora há pouco. Já que deturpou a conversa, acabou a entrevista. Obrigado, pessoal", disse Bolsonaro.
A expectativa é de que Onyx permaneça no cargo pelo menos até segunda-feira (3), quando representará Bolsonaro na sessão solene de abertura do ano legislativo no Congresso.
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