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Oposição se mobiliza e mira impeachment após citação a líder do governo

Oposição se mobiliza e mira impeachment após citação a líder do governo

Parlamentares querem paralisar votações no Congresso para pressionar o presidente da Câmara, Arthur Lira, aliado de Bolsonaro, a dar prosseguimento aos pedidos de impedimento

Publicado em 27 de junho de 2021 às 12:37

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Presidente Jair Bolsonaro participa de motociata em Chapecó (SC))
Presidente Jair Bolsonaro participa de motociata em Chapecó (SC)). ( Alan Santos/PR)
MATEUS VARGAS, THIAGO RESENDE E MARCELO ROCHA

Após o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), entrar no centro das apurações da CPI da Covid no Senado sobre supostas irregularidades na compra da Covaxin, a oposição quer paralisar votações no Congresso.

Líderes do Centrão, no entanto, dizem que ainda não há clima para travar debates, e esperam desdobramentos das acusações apresentadas pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF).

Congressistas da oposição avaliam citar o caso Covaxin em "superpedido de impeachment" que será apresentado nos próximos dias contra o presidente Jair Bolsonaro, ou elaborar uma proposta especificamente sobre as suspeitas de irregularidade.

Ainda discutem com movimentos sociais a possibilidade de antecipar protestos contra Bolsonaro que estavam marcados para o fim de julho.

Já senadores governistas da CPI minimizam as declarações do servidor e do deputado e dizem que não havia má-fé da Precisa Medicamentos, que negociou a vacina com o Ministério da Saúde, ao apresentar documento com dados errados. Os papéis foram parcialmente retificados.

A existência de denúncias de irregularidades em torno da compra da vacina indiana foi revelada pela Folha no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso ao MPF (Ministério Público Federal) do servidor, que é chefe da Divisão de Importação da Saúde.

O Congresso discute projetos de interesse do governo, como as reformas administrativa, tributária e eleitoral, além do voto impresso, uma bandeira de campanha do presidente Jair Bolsonaro, e o projeto que muda regra sobre as demarcações de terras indígenas.

O presidente não se manifestou diretamente sobre as suspeitas que atingem Barros, mas voltou a atacar a CPI da Covid durante ao participar neste sábado (26) da terceira motociata em apoio ao governo, desta vez em Chapecó (SC). "Querem apurar o quê? No tapetão não vão levar", afirmou.

Em depoimento à CPI nesta sexta-feira (25), o deputado Luis Miranda disse que o líder do governo foi atribuído por Bolsonaro às supostas irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

"Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo algo errado, desvia dinheiro público das pessoas morrendo da porra dessa Covid?", disse Miranda. Ele e o irmão levaram o caso Covaxin a Bolsonaro em 20 de março.

O governo fechou contrato para compra de 20 milhões de doses da Covaxin em 25 de fevereiro, por R$ 1,6 bilhão, no momento em que tentava aumentar o portfólio de imunizantes e reduzir a dependência da Coronavac, que chegou a ser chamada por Bolsonaro de "vacina chinesa do João Doria".

Líderes de partidos aliados ao governo, como PP e PL, avaliam que, apesar de a denúncia ainda precisar de apuração e desdobramentos, o depoimento dos irmãos Miranda à CPI gerou um fato político e amplia o atual ciclo de desgaste de Bolsonaro.

A oposição quer aproveitar o momento para intensificar o plano de ataque ao governo. A estratégia é articular com partidos independentes uma coalizão para impedir os trabalhos da Câmara até que a denúncia envolvendo Barros seja apurada.

Isso elevaria a pressão para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), analise os pedidos de impeachment.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, quer aderir ao movimento de tentar barrar as votações no Congresso. "Vamos propor a todos os partidos. Esta decisão não pode ser solitária, pois não teria eficácia".

O depoimento, na avaliação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, mostrou que Bolsonaro não mandou investigar a denúncia por interesses políticos. "Isso é prevaricação. Estamos defendendo que esse caso integre o superpedido de impeachment", disse.

Para o líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS) as suspeitas sobre a Covaxin "mudam o cenário" e podem antecipar novos protestos contra o presidente, marcados inicialmente para 24 de julho. "A palavra de ordem agora é impeachment", afirmou.

O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Iago Montalvão, defendeu nas redes sociais que os protestos sejam reforçados em Brasília próxima quarta-feira (30), data de entrega do superpedido de impeachment.

Governistas, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) e o senador Marcos Rogério (DEM-RO), criticaram o depoimento e o que eles chamaram de "denúncias vazias". Aliados de Bolsonaro usam as redes sociais, onde encontram boa parte da sua base política, para diminuir o impacto da sessão da CPI desta sexta.

Fabricada pela Bharat Biotech, a vacina é negociada no Brasil pela Precisa Medicamentos, empresa que tem no quadro societário a Global Gestão em Saúde S. A.

A Global responde a uma ação de improbidade por contrato de R$ 20 milhões assinado em 2017 com o Ministério da Saúde, para importação de medicamentos para doenças raras. À época, Barros era o chefe da pasta, e produtos não foram entregues.

Enquanto a oposição tenta usar a denúncia para deixar o governo mais acuado, o centrão tem visto o episódio com mais cautela -só deve adotar movimentos mais bruscos se novos fatos derem sustentação à acusação, que ganharia potencial ainda mais danoso ao presidente.

Para o líder do PL no Senado, Wellington Fagundes (MT), o caso tem que ser apurado. "Não deixa de ter um conteúdo político muito forte. Mas acho que, de cara, não tem motivo para paralisar o Congresso".

Membros do PL e PP, partidos do Centrão que se associaram a Bolsonaro, também não enxergam motivos para abertura de um processo de impeachment contra o presidente. Cabe a Lira, que é do PP e aliado do Planalto, dar aval a eventual investigação de Bolsonaro.

"É uma acusação grave e agora o deputado Luis Miranda vai ter que comprovar o que ele está falando", avalia o líder do PP na Câmara, Cacá Leão (BA).

Líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA) disse que a bancada ainda não avaliou as declarações feitas à CPI, e seria precipitado falar em travar discussões do Congresso.

Vice-líder do governo no Congresso, o deputado Aluísio Mendes (PSC-MA) não quis fazer um juízo sobre as irregularidades atribuídas a Barros, mas defendeu a apuração da denúncia, sem paralisação do Congresso. "Só enxergo nisso motivo para o Congresso trabalhar ainda mais, seja em votações de matérias importantes seja em investigação."

As declarações do servidor e do deputado à CPI também devem servir de combustível para a comissão estender os trabalhos. O prazo inicial de 90 dias se encerra em 10 de agosto, e pode ser renovado.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que há fortes indícios de que Bolsonaro cometeu crime de prevaricação e que a comissão avalia enviar notícia-crime ao STF (Supremo Tribunal Federal). "Estão dados todos os elementos do crime de prevaricação", disse.

Já o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirmou que as acusações são fracas e não devem atingir ações do governo. "A oposição já estava fazendo o circo dela. Para mim, é só mais uma narrativa", afirmou.

Suplente da CPI e aliado do governo, Marcos do Val (Podemos-ES) desqualificou a fala do deputado Luis Miranda. "Como dar credibilidade a uma pessoa que responde a centenas de processos na Justiça, inclusive por estelionato? Querer que um presidente [da República] possa ouvir e dar crédito a isso?", questionou.

Do Val disse que espera a ida do líder do governo na Câmara à CPI para se posicionar. "Embora senadores da comissão comentem que há alguns indícios, eu não sou julgador".

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