Após a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, parlamentares da oposição veem crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, apontam que sua versão sobre a interferência na Polícia Federal está comprometida e pressionam pela abertura de uma CPI no Congresso para investigar o caso.
A avaliação geral de líderes opositores é a de que elementos da gravação reforçam a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro cobrou a troca do ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) vê não só no vídeo, mas também na entrevista dada pelo presidente após a divulgação do material, na frente do Palácio da Alvorada, bases para que Bolsonaro seja investigado em CPI.
Segundo ele, ao falar sobre um sistema de informações particular na reunião ministerial, Bolsonaro indica receber dados sobre investigações envolvendo sua família.
"Ele não sabe qual o papel da PF e da Presidência, desconhece os limites institucionais", critica o senador.
"O que eu tenho defendido é que o Congresso acompanhe, investigue e apure os fatos por meio de uma CPI, e não somente se atendo ao debate do impeachment."
A mudança de estratégia faz sentido em um momento em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já tem pelo menos 36 pedidos no colo para analisar, mas dá pouco sinal de que pretenda efetivamente abrir um processo.
A argumentação oficial de Maia é que a prioridade do Congresso no momento tem que ser o combate à pandemia do novo coronavírus.
Nos bastidores, no entanto, a avaliação é a de que não haveria o apoio mínimos de 342 deputados para levar o processo adiante, em especial após o centrão - bloco formado por PP, PL, Republicanos e outras siglas - ter migrado para a base do governo, em troca de cargos.
Deputados já coletam assinaturas para abrir uma CPI. São necessárias ao menos 171.
Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril. Na manhã do dia anterior, Moro se reuniu com Bolsonaro, quando foi comunicado da saída do diretor-geral escolhido por ele. O ex-juiz então pediu demissão, conforme a Folha de S.Paulo revelou.
Na troca de acusações que se seguiu à saída de Moro, o ex-ministro afirmou que o vídeo da reunião ministerial continha declarações que provavam que Bolsonaro havia tentado intervir na PF.
Em sua defesa, o presidente argumentava que as críticas feitas no encontro se referiam à sua proteção pessoal, e não à PF. Ele, no entanto, promoveu um general responsável por sua segurança pessoal e de sua família.
O vídeo divulgado na sexta-feira (22), pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, levanta ainda mais dúvidas sobre a versão do presidente. Nele, Bolsonaro se queixa da falta de dados dos órgãos de inteligência e de uma suposta perseguição a irmãos.
"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou", afirmou.
O vídeo mostra o presidente olhando na direção em que estava sentado Moro na hora em que, exaltado, fala que não hesitaria em trocar subordinados e até um ministro.
Para a oposição, as declarações e a linguagem corporal do presidente reforçam a necessidade de uma investigação no Congresso sobre a tentativa de interferência na PF.
A deputada Fernanda Melchionna (RS), líder do PSOL na Câmara, afirma que o "show de horrores", como define o encontro, comprova as denúncias do ex-ministro.
"Vários crimes foram cometidos, mas o que fica evidente é que, ao falar de proteção de filhos e de amigos, ao olhar para Moro, o presidente estava se referindo à Polícia Federal, e não ao GSI [Gabinete de Segurança Institucional, que cuida da segurança presidencial]."
A esse fato, disse, se somam as mensagens entre Bolsonaro e Moro horas antes da reunião de 22 de abril, nas quais o presidente havia cobrado a troca de chefia na PF.
Alessandro Molon (RJ), líder do PSB na Câmara, vê chances de o impeachment avançar, assim que Maia "perceber que tem apoio" da sociedade.
"Os pedidos refletem o anseio da população brasileira, que cresce a cada pesquisa de opinião. É um processo que vai se acumulando", afirmou.
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