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Pai de menino desaparecido em Belford Roxo é preso após entrar em facção para se vingar

Pai de menino desaparecido em Belford Roxo é preso após entrar em facção para se vingar

Anderson de Jesus, 25, foi detido em flagrante por policiais militares e autuado por associação ao tráfico de drogas e porte ilegal de arma de uso restrito

Publicado em 30 de outubro de 2021 às 19:27

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Lucas Matheus, Alexandre e Fernando são as crianças desaparecidas em Belford Roxo (RJ)
Lucas Matheus, Alexandre e Fernando são as crianças desaparecidas em Belford Roxo (RJ), em dezembro de 2020. (Reprodução)

O pai de um dos três meninos desaparecidos desde dezembro do ano passado em Belford Roxo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, foi preso após se associar a uma facção criminosa rival para se vingar de supostos assassinos do filho.

De acordo com a Polícia Civil fluminense, Anderson de Jesus, 25, foi detido em flagrante por policiais militares e autuado por associação ao tráfico de drogas e porte ilegal de arma de uso restrito. Com ele, foi apreendido um fuzil AR-15 calibre 556 com 24 munições.

Ele contou aos investigadores que já havia sido preso anteriormente por fazer parte de uma organização criminosa e que recentemente se associou ao grupo rival por causa da notícia da morte de Lucas Matheus da Silva, com 9 anos na época do desaparecimento.

Segundo a Polícia Militar, ele foi pego enquanto participava de uma troca de tiros junto com outras seis pessoas na comunidade da Palmeira. O Terceiro Comando Puro (TCP) tentava retomar o controle da favela do Comando Vermelho (CV).

"Tinha esperança de encontrar o Lucas vivo. Mas soube por reportagens que ele foi morto por traficantes do CV. Moro em Irajá. Soube dessa reunião do TCP e resolvi me juntar, na emoção. Mas não sou bandido", disse Jesus ao jornal O Dia na delegacia. "Meu coração estava sangrando. Quis me vingar. Quem faz isso com uma criança?"

Lucas Matheus, seu primo Alexandre da Silva, 11, e o amigo deles Fernando Henrique Soares, 12, saíram de casa em 27 de dezembro do ano passado para brincar em um campo de futebol próximo, no morro do Castelar, e nunca mais voltaram.

Ele foram filmados pela última vez às 13h39 daquele dia, andando normalmente em direção à feira de Areia Branca, bairro vizinho a aproximadamente 2,7 quilômetros.

Dez meses depois, o inquérito ainda não foi concluído. Em setembro, o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, afirmou em entrevistas que o tráfico de drogas da favela foi o responsável pelo assassinato dos meninos e que o motivo foi o roubo de passarinhos que pertenciam a traficantes.

Após o crime, de acordo com ele, o líder local foi chamado ao Complexo da Penha, onde foi assassinado como queima de arquivo com autorização da cúpula do Comando Vermelho, de dentro de um presídio. A punição teria sido liberada sem que as lideranças soubessem que os autores do furto eram crianças.

Segundo a TV Globo, o criminoso que matou os meninos e foi assassinado depois é Willer da Silva, o Estala, gerente do tráfico no Castelar. Sua morte teria sido ordenada por Wilton Quintanilha, o Abelha, solto no fim de julho em um esquema envolvendo o então secretário de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro.

Turnowski também declarou na ocasião que a polícia concluiu que os corpos foram jogados em um rio: "Temos esperança de encontrar, mas não é tarefa fácil", disse. No fim de julho, fragmentos de ossos foram encontrados num rio que corta a região, mas uma perícia apontou que a ossada era de origem animal.

No dia seguinte às declarações do secretário, a Defensoria Pública do estado, que acompanha as mães das vítimas, afirmou que considerava que o caso ainda seguia em aberto, porque as provas apresentadas até o momento não eram suficientes para corroborar essa versão oficial.

"A Defensoria Pública recebe com cautela as informações veiculadas ontem sobre o inquérito", disse em vídeo a defensora Gislaine Kepe. "Enquanto não houver consistência nos indícios colhidos pela polícia, enquanto não houver a identificação de culpados, sejam eles por assassinato ou por desaparecimento, a Defensoria e as famílias não entendem que esse caso chegou ao fim."

Em entrevista ao site Ponte Jornalismo em agosto, as mães dos meninos mostraram descrédito em relação à hipótese de que traficantes teriam sido responsáveis pelo crime. Segundo o veículo, elas suspeitavam da milícia que atua na região e afirmaram que seus filhos não roubariam um passarinho.

Questionado pela TV Globo sobre as provas obtidas pela polícia, o secretário respondeu na época que no "crime de mando você busca provas que nunca vão ser um contrato".

Segundo ele, a conclusão se baseou em provas indiciárias (ou seja, indícios que apontam para determinada direção), em testemunhas importantes que deram detalhes sobre o que ocorreu no dia do crime e na notícia da morte do principal envolvido. Ele disse que o inquérito seria finalizado e o delegado responsável apresentaria detalhes técnicos, o que não ocorreu até o momento.

As famílias criticam a lentidão na resolução do caso e dizem que a polícia demorou a agir. As mães ouviram de policiais no dia do desaparecimento que só poderiam registrar o sumiço 24 horas depois, sendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê buscas imediatas.

"Naquele dia em que fomos na delegacia, se tivessem puxado as câmeras, ido atrás das crianças, tenho certeza de que teríamos tido uma resposta", disse ao jornal Folha de S.Paulo, em abril, Tatiana Ribeiro, mãe de Fernando. Uma força-tarefa para apurar os fatos foi criada em abril de 2021, quatro meses após o sumiço.

A região da Baixada Fluminense tem um problema crônico de desaparecimentos, com cerca de 15 registros diários, segundo Bruno Dauaire, secretário estadual de Direitos Humanos. A taxa foi de 32 casos a cada 100 mil habitantes na região em 2020, contra 28 no estado todo.

Para se ter uma ideia, o Rio de Janeiro registrou quase tantos sumiços (3.350) quanto homicídios dolosos (3.544) no ano passado, de acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública).

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