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Pai suspeito de desviar doações para filha não se arrepende, diz polícia

Pai suspeito de desviar doações para filha não se arrepende, diz polícia

Influenciador Igor Viana, de forma consciente, colocou a própria filha em risco de morte em lives nas redes, aponta a delegada

Publicado em 7 de agosto de 2024 às 08:48

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O influenciador digital Igor Viana, 24, preso por suspeita de desviar doações para a filha com paralisia cerebral, não demonstrou se arrepender pelos maus-tratos impostos à criança, segundo a Polícia Civil de Goiás.

Igor afirmou que faria "tudo novamente" em relação aos cuidados da filha, de acordo com a delegada do caso, Aline Lopes. A investigadora destacou que o influenciador usava a própria filha para "gerar engajamento" nas redes sociais e atrair mais público para os seus perfis nas mídias digitais.

Influenciador Igor Viana é suspeito de desviar doações feitas para filha com paralisia cerebral. Ele foi preso em Goiânia
Influenciador Igor Viana é suspeito de desviar doações feitas para filha com paralisia cerebral. Ele foi preso em Goiânia. (Polícia Civil/Divulgação | Reprodução/Redes Sociais)

Influenciador, de forma consciente, colocou a própria filha em risco de morte em lives nas redes, aponta a delegada. Conforme Aline, Igor fazia transmissões ao vivo ao mesmo tempo em que alimentava a filha, e isso colocava a criança em risco de vida, porque ele dava comida de forma errada. "Ele colocava [a filha] em risco de broncoaspirar e até de morrer. Ele sabia disso", explicou a delegada.

Em depoimento, Viana justificou que "era normal" a filha engasgar enquanto se alimentava. Ainda segundo a polícia, ele também alegou que "tinha muita prática em dar comida à criança e que seria capaz de alimentá-la 'até de olhos fechados'".

PRISÃO DO INFLUENCIADOR

Prisão foi feita pela DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente). O influencer -conhecido nas redes como "Pai de Soso"- estava acompanhado da mãe da criança, Ana Vitória Alves dos Santos, em um apartamento alugado em Goiânia no momento da prisão. A mulher (que também está sendo investigada) não foi presa, já que teve o pedido de prisão indeferido pela Justiça.

Durante as investigações, a Polícia Civil já havia pedido a prisão dos dois, que foi negado pela Justiça. No entanto, surgiram novos elementos que deixaram evidentes o cometimento de crime por estelionato e, ainda, que eles estariam atrapalhando as investigações. Por isso, houve um novo pedido ao Poder Judiciário. 

À reportagem, a defesa de Igor Viana disse receber com surpresa a prisão de seu cliente. "A defesa esclarece que não há qualquer fato novo ou contemporâneo que pudesse justificar o pedido de prisão preventiva de Igor. Na verdade, a defesa entende que o pedido de representação pela prisão preventiva de Igor de forma reiterada, é apenas um malabarismo midiático para chamar atenção da mídia novamente para o caso."

Igor é investigado diretamente por cinco tipificações criminosas: maus-tratos; causar constrangimento à criança; incitar discriminação contra a pessoa com deficiência; estelionato e desvio de proventos da pessoa com deficiência. Ana Vitória, por sua vez, é investigada diretamente por estelionato.

Polícia também investiga se Ana Vitória foi omissa em relação a supostos crimes cometidos pelo pai contra a filha. Conforme a Polícia Civil de Goiás, as atitudes do pai foram praticadas enquanto ele ainda vivia com a mãe da menina e, portanto, embora ela não seja a autora direta dos crimes, pode responder por omissão.

Pai causou constrangimento à filha em vídeos expostos nas redes. Segundo a investigação, Igor usou termos pejorativos para se referir à criança. Nesse mesmo contexto, Viana é suspeito de incitar a discriminação contra a pessoa com deficiência porque suas falas não atingem apenas a filha, mas todas as pessoas que têm algum tipo de deficiência.

Os pais ainda são investigados pela suposta prática de estelionato. Segundo a delegada responsável pelo caso, Aline Lopes, há indícios de que Igor e Ana simulavam que a filha precisava de doações para custear tratamento, mas usavam as verbas doadas com outras coisas. A mãe, inclusive, teria feito intervenções estéticas com o dinheiro doado.

Entenda o caso

Igor Viana se identifica nas redes sociais como "Pai da Soso" e "servo do Deus vivo". O influenciador acumula milhares de seguidores nas plataformas digitais, em que relata a rotina com a filha com paralisia cerebral, além de usá-las para angariar doações que, supostamente, seriam revertidas para os cuidados da criança.

Viana se tornou alvo de investigação em 19 de junho, após denúncias serem feitas contra ele na delegacia de Anápolis. Segundo a delegada responsável pelo caso, Aline Lopes, as primeiras queixas contra Igor foram por maus-tratos devido ao modo como ele trata a filha nos próprios vídeos.

Pai chamou a filha de "criança inútil do car**** em uma trend" nas plataformas, conforme a delegada. À reportagem, Lopes explicou que, dentro do contexto em que Igor é investigado, esse tratamento destinado à criança pode se caracterizar como crime de maus-tratos. Na bio de seu perfil no Instagram, Igor afirma que "Deus dá crianças especiais para pais especiais".

Mãe negou ter usado doações para cirurgias estéticas

Ana Santi teria usado dinheiro de doação para fazer intervenções estéticas no corpo, segundo a investigação. "Há informação de que a mãe teria feito cirurgia plástica com esse dinheiro", esclareceu a delegada.

Ela negou que tenha usado o dinheiro das doações para este fim. Na versão da mãe à polícia, ela disse que realizou uma rinomodelação a partir de uma permuta com a clínica responsável pelo procedimento.

Uma testemunha, no entanto, afirma que Ana usou o dinheiro doado. ''Nós temos uma testemunha que disse que a própria Ana falou que pagou pelo procedimento. Isso vai ser confirmado em depoimento'', completou a delegada Aline Lopes.

Brigas forjadas

Ana teria assumido em depoimento que as brigas do casal eram combinadas. ''O Igor dizia que era assim que eles conseguiriam mais visualizações e mais monetização'', contou a delegada. Em depoimento para a polícia, a mãe da menina também teria dito que os conflitos eram gerados para comover os seguidores, e que o dinheiro recebido era dividido entre os dois.

Ana Santi ainda disse à delegada que ela e Igor nunca tiveram um relacionamento. A mulher alegou que ''Sofia foi fruto de uma noite apenas e resolveram morar juntos no início para diminuir as despesas''.

Em acordo informal, ficou decidido que a filha moraria com o pai. Não há processo judicial pela guarda da criança.

Conselho Tutelar retirou a filha dos cuidados do pai. A criança foi encaminhada para a casa da avó paterna.

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