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Pandemia derruba emissões de carbono, mas Brasil deve ter alta com desmate

Pandemia derruba emissões de carbono, mas Brasil deve ter alta com desmate

No país, houve um aumento de 51% nos alertas de desmatamento durante o primeiro trimestre. A Covid-19 já provocou o adiamento da próxima convenção internacional do clima da ONU

Publicado em 30 de abril de 2020 às 14:28

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Discussão na ONU sobre Amazônia exclui Brasil
Discussão na ONU sobre Amazônia exclui Brasil. (Mayke Toscno/Gcom-MT)

A pandemia do novo coronavírus paralisou indústrias, reduziu significativamente o uso automóveis e interrompeu a maior parte das rotas de aviação comercial no mundo. Com isso, as emissões globais de gases de efeito estufa entraram em queda vertiginosa e devem encerrar 2020 com a maior redução da série histórica.

Estimativas da OMM (Organização Meteorológica Mundial) apontam que a diminuição pode chegar a 6% em relação a 2019.

Um estudo publicado pela ONG Climate Action Tracker estima que as emissões de CO2 das atividades industriais e da queima de combustíveis fósseis fiquem entre 4% e 11% abaixo das de 2019. Possivelmente, as emissões continuarão diminuindo, embora em escala menor, também em 2021.

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O resultado, porém, não é visto com entusiasmo por especialistas, que temem uma espécie de "efeito rebote" nas emissões caso a retomada econômica mundial não seja pautada também pelo objetivo de redução global previsto pelo Acordo de Paris, assinado em 2015.

"Essa queda prevista de 6% nas emissões, infelizmente, é uma boa notícia apenas no curto prazo", afirmou o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas.

Os últimos dados sobre as emissões mundiais, divulgados em abril, não foram animadores e mostraram uma tendência de alta. Em 2019, a quantidade de gases-estufa emitidos bateu um novo recorde. Entre 2015 e 2019, a quantidade de dióxido de carbono emitido foi 18% maior do que nos cinco anos anteriores.

A Covid-19 já provocou o adiamento para 2021 da próxima convenção internacional do clima da ONU. A COP-26, que reúne negociadores de alto nível de todo o mundo, estava prevista para acontecer em Glasgow, na Escócia, em novembro deste ano.

Em todo o planeta, dezenas de reuniões preparatórias e encontros de especialistas também foram afetados, o que coloca em xeque também a articulação da comunidade internacional.

Em mensagem divulgada nesta semana, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, cobrou comprometimento das nações para limitar o aquecimento global.

"A pandemia da Covid-19 expôs a fragilidade de todas as sociedades e economias a choques globais, como doenças e perturbações climáticas. Enquanto nos recuperamos, devemos fazer melhor pelas pessoas e pelo ambiente", afirmou Guterres.

"Governos se comprometeram a apresentar, daqui a um ano, contribuições nacionais determinadas e estratégias de longo prazo para zerarmos as emissões de carbono até 2050. Este compromisso deve ser mantido. E as maiores economias, os países do G-20, devem liderar pelo exemplo", completou o secretário-geral da ONU.

Os primeiros sinais enviados pelos países do G-20 e do resto do mundo, no entanto, não têm sido de grande preocupação com as emissões.

Na China, onde surgiu a Covid-19, as duras medidas de confinamento impostas pelo governo derrubaram as emissões em fevereiro, com uma redução de 25% em relação ao começo do ano.

Com a retomada das atividades industriais e econômicas, os indicadores se encaminham para o mesmo padrão de emissões visto anteriormente.

Na Europa, a volta gradual das atividades econômicas está só começando, mas analistas acompanham com atenção o padrão a ser adotado.

Existe ainda o temor de que verbas anteriormente destinadas a combater as mudanças climáticas sejam agora desviadas para projetos de recuperação pós-pandemia que nada têm a ver com preocupações ambientais.

O Brasil, porém, deve destoar desta tendência. Como a maior parte das emissões brasileiras vêm do desmatamento da Amazônia, que tem batido recordes mesmo durante a pandemia, o país deve acabar o ano como uma das poucas nações a aumentar a quantidade de carbono liberado na atmosfera.

Dados do sistema Deter do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), indicam que, de janeiro a março, houve um aumento de 51% nos alertas de desmatamento, em comparação com o mesmo período de 2019.

No primeiro trimestre, foram devastados 796 km² de floresta amazônica.

"Com a pandemia, a gente esperava que houvesse uma redução do trabalho dos desmatadores, mas foi o contrário. Só no fim de março, na últimas semanas, foi um aumento de 30%", avalia Paulo Moutinho, da diretoria do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

"Janeiro, fevereiro e março são meses chuvosos. Não se esperava normalmente desmatamento, porque os tratores emperram, é mais complicado", completa o pesquisador, que destaca ainda uma mudança no perfil do desmatamento em relação aos anos anteriores, com a área devastada sendo cada vez maior e, consequentemente, com mais impacto nas emissões.

A política ambiental do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e a sinalização de uma possível anistia a desmatadores estariam entre as principais razões do aumento.

O desmatamento também indica um potencial de uma próxima grande onda de incêndios na Amazônia, uma vez que o passo seguinte à retirada das árvores é justamente a colocação de fogo para a "limpeza" do terreno.

Em 2019, o recorde de queimadas na Amazônia foi notícia em todo o mundo.

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