A pandemia de Covid-19 já traz impactos nas políticas de HIV/Aids e de tuberculose, como redução das equipes técnicas, de consultas e de exames de rotina.
Nos programas de Aids, por exemplo, houve redução em 40% das equipes e 35% das consultas. Os serviços de referência relatam queda de 22% das testagens de HIV. Nas ações de tuberculose, 24,5% dos diagnósticos foram atingidos.
Os resultados são de uma pesquisa de entidades que acompanham políticas relacionadas a essas doenças. Na primeira etapa do levantamento, 69 coordenadores municipais e estaduais de programas foram ouvidos. Nas próximas duas fases, serão entrevistados profissionais de saúde e usuários.
Na apresentação dos dados preliminares, na quinta-feira (4), profissionais que atuam na ponta desses serviços relataram que a situação atual já é pior do que a retratada na pesquisa, feita entre os dias 28 de abril e 10 de maio.
"Os atendimentos ambulatoriais de pacientes com HIV foram praticamente paralisados na sua totalidade. Muitos serviços de referência fizeram a mesma coisa. Tudo isso sem nos avisar", disse Moyses Toniollo, do Conselho Nacional de Saúde, que mora em Salvador (BA).
Dilza Soares Silva, supervisora do serviço de DST-Aids de Campos Maior (PI), diz que o atendimento está restrito aos pacientes que estavam com atendimentos agendados. Também só recebem antirretrovirais aqueles que já tinham receita médica.
"Não há agendamento de novas consultas. Tenho três casos novos de pacientes soropositivos que não podem sequer faezr o teste de carga viral porque não estão marcando nada. Só para casos urgentes. Exames que estavam agendados também não estão sendo feitos", relata.
Há também queixas de problemas de diagnóstico porque laboratórios municipais pararam de fazer exames para tuberculose para atender às demandas da pandemia.
Outros estão parados porque não têm cabines de segurança. O exame diagnóstico é feito a partir de amostras de escarro do paciente (baciloscopia).
"Infelizmente a pauta da Covid-19 vem atropelando e muito as ações voltadas ao HIV, Aids e tuberculose. Temos que ficar atentos para que elas sejam oferecidas apesar da pandemia", disse Carla Almeida, coordenadora da pesquisa.
A oferta de Prep (Profilaxia pré-exposição) foi reduzida em 35% nos locais pesquisados. Um quarto dos gestores (25%) nem sequer sabe como os serviços estão operando neste período. E 13% dos entrevistados dizem que não aderiram à recomendação de distribuir antirretrovirais por 90 dias, como recomendado pelo Ministério da Saúde, por problemas com logística e estoque de medicamentos.
A pesquisa também aponta uma redução de 42% das equipes técnicas dos serviços de tuberculose e diminuição de 20% da oferta de consultas por conta das ações para o enfrentamento da Covid-19.
Segundo Carla, além dos impactos da epidemia de Covid-19 na rede laboratorial, há relatos de falta de manutenção de equipamentos, de insumos e de profissionais.
A pesquisa conta com o apoio da Articulação Social Brasileira para o Enfrentamento da Tuberculose (Articulação TB/Brasil), Articulação Nacional de Aids (Anaids), Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em tuberculose (CCAP TB/Brasil) e do segmento Sociedade Civil da Parceria Brasileira contra a Tuberculose.
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