O namoro de Jair Bolsonaro (sem partido) com partidos do centrão para encontrar uma legenda que o abrigue está sendo marcado por cálculo político das duas partes desde o primeiro momento.
A negociação continua em curso depois que o presidente colocou em dúvida sua filiação ao PL em razão de divergências em composições estaduais.
Bolsonaro disse ainda nesta segunda-feira (15), em Dubai, que seu prazo de espera por uma definição com o PL tem limite –e afirmou que voltou a conversar com outros partidos sobre uma possível filiação.
A hipótese de reeleição do mandatário não é tratada como uma certeza nem na cúpula do PL nem na do PP, que também negociou intensamente uma eventual entrada de Bolsonaro.
Dirigentes de ambas as siglas reconhecem que o pleito de 2022 em nada se assemelha ao de 2018 e que, hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está com vantagem eleitoral.
Nem mesmo a criação e o aumento no valor pago hoje do Bolsa Família para o tíquete do Auxílio Brasil, cuja parcela será de R$ 400, são vistos como capazes de alavancar Bolsonaro nas pesquisas.
Um sintoma desse pragmatismo é o fato de que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, indicou que pode liberar parte dos diretórios a apoiar quem quiser na eleição presidencial – razão pela qual Bolsonaro decidiu repensar a filiação e cancelar o evento que estava marcado para o dia 22.
Na sexta-feira (12), o PL publicou uma nota oficial no site do partido na qual afirma que o presidente do diretório em Pernambuco terá plena autonomia para conduzir a escolha de "nomes que constarão na chapa de candidatos majoritários e proporcionais".
Mesmo fazendo oposição ao governo de Paulo Câmara (PSB), o PL buscou se afastar de Bolsonaro, segundo fontes no estado, por causa da rejeição ao seu nome em Pernambuco.
O cenário faz parte da estratégia eleitoral montada pelo PL, cujo objetivo é fortalecer bancadas na Câmara e no Senado e se posicionar em 2023 como uma força política incontornável –independentemente de quem ocupe o Palácio do Planalto.
O pragmatismo dos partidos do centrão, hoje com Bolsonaro, não vem de agora e é o que garante sua sobrevivência política. O PP e o PL apoiaram governos do PSDB, do PT e do MDB.
Como exemplo, o líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), já ocupou o mesmo cargo no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e foi vice-líder nas gestões de Lula e Dilma Rousseff (PT). No governo de Michel Temer (MDB), Barros foi ministro da Saúde.
Assim, o plano do PL para a Câmara em 2022 é aumentar o número de deputados eleitos tendo Bolsonaro como o grande puxador de votos. Hoje, o partido tem 43 congressistas na Casa – a terceira maior bancada.
A legenda já pode registrar um crescimento em 2022, antes do pleito, com a migração de deputados bolsonaristas que pretendem seguir Bolsonaro, se a filiação se confirmar.
Com o desempenho de Bolsonaro e de outros puxadores de voto, líderes da sigla esperam atingir a marca de 60 deputados.
Caso o plano seja bem-sucedido, a direção da legenda diz acreditar que o PL se posicionará como uma força política que não poderá ser ignorada mesmo se Bolsonaro perder a reeleição.
O poder de uma sigla das proporções do PL – e que tem histórico de votar unida em pautas importantes– deve ser suficiente para influenciar placares de interesse do Planalto.
Hoje com quatro congressistas, a bancada do PL no Senado pode ser reforçada com a filiação de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho do presidente.
A prioridade na Casa é garantir a reeleição dos dois senadores que devem disputar a renovação dos mandatos em 2022: Romário (RJ) e Wellington Fagundes (MT).
O desenho eleitoral para reforçar a posição do governo no Senado foi um dos principais temas da reunião entre Bolsonaro e o chefe do PL, Valdemar Costa Neto.
No encontro em 10 de novembro, ficou acertado o apoio de Bolsonaro à reeleição de Romário, em uma chapa estadual encabeçada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).
Além do Rio, o mandatário e Valdemar simularam a construção de chapas em diferentes estados que devem dar sustentação política à candidatura presidencial.
Trataram, por exemplo, da candidatura do ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e do senador Jorginho Mello (PL) para os governos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, respectivamente. Onyx é filiado ao DEM e planeja se mudar para o PL.
A estratégia de reforçar a situação de governistas no Senado envolve ainda a candidatura de aliados que buscarão um primeiro mandato na Casa, não necessariamente pelo PL.
A expectativa é que a ministra Tereza Cristina (Agricultura) tente uma cadeira por Mato Grosso do Sul. Hoje no DEM, ela mantém conversas sobre uma possível filiação ao PP –outro partido que deve apoiar a reeleição de Bolsonaro.
Já o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) atualmente dialoga com o PL sobre uma eventual candidatura ao Senado por Minas Gerais.
Da parte de Bolsonaro, o cálculo também foi prático. Sem conseguir criar um partido para chamar de seu ou então se apoderar de outra legenda, o presidente resolveu buscar uma sigla que possa lhe dar dois elementos que serão importantes em 2022: tempo de televisão e dinheiro para campanha.
Bolsonaro até tentou fundar a Aliança pelo Brasil após deixar o PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018, mas o processo não andou.
Com essa constatação, o mandatário decidiu negociar com as siglas com as quais conversou sobre a possibilidade de ter influência na escolha dos candidatos ao Senado. Apesar de ter na Câmara uma base parlamentar relativamente sólida com partidos do centrão, na Casa ao lado o cenário é outro.
O presidente não consegue ver avançar o processo de indicação de André Mendonça, escolhido por ele para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), assim como acumula derrotas. Assim, a prioridade do presidente em um novo governo é conseguir ter maioria tanto na Câmara como no Senado.
Em outra frente, a principal preocupação de Bolsonaro é com um palanque competitivo em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.
A situação política é complexa. Apesar de não ter uma secretaria no governo João Doria (PSDB), o PL faz parte da base de apoio do tucano.
De acordo com interlocutores, Bolsonaro e Valdemar acertaram esperar uma definição mais clara do cenário eleitoral paulista para avançar nas articulações.
O diagnóstico é que é preciso esperar as prévias do PSDB para melhor avaliar o quadro, principalmente caso Doria seja derrotado pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Ao Painel, da Folha, o presidente do PL disse que o apoio do PL ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa pelo Governo de São Paulo poderá ser revisto.
A participação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) no pleito, possivelmente pelo PSD, também tem sido levada em conta nas discussões sobre o palanque governista em São Paulo. A recente aproximação do tucano com Lula embaralhou um pouco mais o cenário paulista.
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