APARECIDA - O arcebispo de Aparecida (180 km de SP), dom Orlando Brandes, afirmou que "para ser pátria amada não pode ser pátria armada". A frase foi dita durante a missa desta terça-feira (12), às 9h, a principal celebração no Santuário Nacional do Dia de Aparecida neste Dia de Nossa Senhora.
O presidente Jair Bolsonaro, defensor do armamento, é esperado para visita ao santuário nesta terça-feira.
"Hoje é o Dia das Crianças. Vamos abraçar os nossos pobres e também nossas autoridades para que juntos construamos um Brasil pátria amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada", disse dom Orlando Brandes.
O arcebispo de Aparecida fez referência ao slogan utilizado por Jair Bolsonaro "Pátria Amada Brasil". O religioso criticou o que chamou de "criança fuzil", em referência a fotos recentes do presidente com jovens segurando armas, e ainda criticou o consumismo.
Na última quinta-feira (30), em evento em Belo Horizonte com a presença do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), Bolsonaro recebeu no palco uma criança de seis anos que empunhava uma arma de brinquedo. O presidente simulou que atirava para cima e carregou a criança sobre os ombros.
"Pátria amada não é transformar crianças inocentes em crianças fuzil. Pátria amada não é transformar a criança em consumista. As crianças precisam de outras armas, da oração, da obediência, da convivência com seus irmãos", disse. Brandes disse ainda que os pequenos são vítimas do celular.
"Só vamos vencer com a força do espírito. A nossa maior arma é a penitência, a oração, o pedir perdão e ser um bom cristão", completou.
O religioso também fez uma alerta sobre o discurso de ódio e as notícias falsas durante a sua fala na missa desta terça. "E para ser pátria amada seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma pátria, uma república sem mentiras e sem fake news, sem corrupção. É pátria amada com fraternidade. Todos irmãos construindo a grande família brasileira", afirmou.
Na homilia desta terça-feira, dom Orlando defendeu a ciência, a vacinação contra o novo coronavírus, a paz e o desarmamento.
O discurso foi feito diante de fiéis que lotaram o Santuário Nacional na manhã desta terça. Em clima de emoção, muitos balançavam lenços brancos e azuis na missa das 9h. Esse é o primeiro feriado dedicado à santa em que os atos litúrgicos são abertos ao público em geral desde o início da pandemia de coronavírus, mas ainda com restrições.
No ano em que a consagração de Nossa Senhora como Padroeira do Brasil completa 90 anos, a imagem da Santa entrou na Basílica envolta no mesmo escudo usado à época, quando a imagem original encontrada por três pescadores em 1717 pegou um trem especial e deixou Aparecida rumo à então capital do Brasil, o Rio de Janeiro, para a celebração.
Ao som de "O Trenzinho do Caipira", de Heitor Villa-Lobos, a réplica da imagem passou entre os devotos, muitos choraram. Os padres abençoaram os familiares e amigos das mais de 600 mil vítimas de Covid-19. O ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), do governo Bolsonaro, esteve presente.
O casal de romeiros Eliana Aparecida de Freitas Silva, enfermeira de 61 anos, e Ocimar Antônio da Silva, diretor industrial de 64, estiveram na Sala das Promessas para agradecer a recuperação do "amigo e irmão" do grupo de rezas, o contador Claudemir Vieira, 63 anos, conhecido como Mikey, que ficou internado com Covid-19 por três meses, entre novembro e fevereiro, boa parte desse tempo na UTI.
"São 25 anos de amizade. Rezamos para Nossa Senhora interceder por ele todo esse tempo", afirma Eliane."Ele chegou a ser desenganado, mas se recuperou. Perdeu a voz, não andava mais, mas recuperou tudo isso", afirma Ocimar.
Eliana diz que enquanto estava na UTI, o amigo diz ter visto ela vestida de enfermeira rezando por ele ao lado de sua cama. "Ele viver e se recuperar foi o verdadeiro milagre."
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