O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta terça-feira (9) que todas as informações referentes a mortes e infectados pelo novo coronavírus estarão na plataforma que será lançada pelo governo federal. Por isso, afirma, não vai precisar se adaptar à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) por já estar "cumprida automaticamente".
Na noite de segunda-feira (8), o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que o Ministério da Saúde retomasse a divulgação dos dados acumulados do coronavírus.
Moraes tomou a decisão ao analisar ação apresentada pela Rede Sustentabilidade, PSOL e PCdoB. A decisão determina que o governo preste as informações necessárias no prazo de 48 horas.
O ministro reforçou que a nova plataforma --para a qual ele usa o nome técnico BI (Business Intelligence)-- vai conter todos os dados referentes ao coronavírus, inclusive os que foram excluídos dos boletins diários e do site do Ministério da Saúde com informações da Covid-19.
"Eu acredito que a colocação dos dados como estavam já está colocado no nosso BI em uma página onde aparecem os dados exatamente como estavam antes. Então, não vai precisar nem me obrigar a cumprir, já vai ser cumprido imediatamente.", disse o ministro, durante audiência na Câmara dos Deputados.
Nem Ministério da Saúde nem o ministro informam quando exatamente a plataforma será lançada.
Pazuello defendeu novamente a mudança na metodologia para dar mais destaque para a divulgação de mortes e casos da Covid com base na data de ocorrência --e não na data de notificação. Esse método resultará em números de mortes menos impactantes que o modelo atual, adotado por diversos países desde o início da pandemia.
O Ministério da Saúde informou que novo modelo proporcionaria uma radiografia melhor do momento enfrentado pelo Brasil, no contexto da pandemia. Pazuello, no entanto, foi além e fez duras críticas à metodologia tradicional.
"Senhores [deputados], o modelo anterior nunca me agradou. Eu não achava que eram suficientes para os gestores", disse o ministro interino.
Em outro trecho da audiência na Câmara, o ministro interino afirmou que, pela metodologia tradicional, os técnicos da Saúde estavam "somando coisas que não eram somáveis, marcando informações que não diziam nada para o nosso país".
O ministro disse confiar nos dados enviados pelos estados, mas ressaltou que a diferente realidade no país --com algumas unidades da federação realizando mais testes que outras, além da definição particular dos gestores de quais grupos seriam priorizados nas testagens-- deixava o conjunto de dados menos fidedigno.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) acompanhou apenas o início da audiência.
Ao lado de Pazuello, Maia criticou a forma como o governo se comunicou com a sociedade e a fala do empresário Carlos Wizard, de que queria recontar os mortos. Wizard iria se tornar assessor especial da pasta, mas desistiu no último domingo, após a repercussão de suas falas.
"Nós estamos aqui por um problema claro de comunicação do governo com a sociedade, com os governadores, com os prefeitos e com o Parlamento. O que vivemos nos últimos dias, inclusive com aquela entrevista do ex-futuro-e não mais secretário do governo, foi lastimável para todos nós", disse Maia.
A respeito do momento atual vivido pelo país, em relação ao surto do coronavírus, Pazuello ressaltou que não é possível elaborar uma curva de contágio e mortes para todo o país, devido às diferenças regionais.
Apesar dos alertas de especialistas em relação à migração dos problemas decorrentes do novo coronavírus para a região Sul com a chegada do inverno, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello. afirmou que o impacto da pandemia será "menor" nessas áreas do que o registrado nos estados do Norte e Nordeste.
Técnicos do próprio ministério da Saúde vêm alertando para o fato de que a chegada da temporada de inverno provoca historicamente no Sul e Sudeste um estresse no sistema de saúde, em decorrência do aumento das síndromes respiratórias. A isso se somaria uma migração do surto do novo coronavírus.
Em audiência na Câmara dos Deputados, na tarde desta terça-feira (9), o ministro argumentou que o conhecimento adquirido no enfrentamento ao coronavírus até agora vai diminuir o impacto do coronavírus.
"Qual será esse impacto? O impacto deverá ser menor, porque a preparação foi melhor, porque o conhecimento do que aconteceu no centro-norte serve como alerta e tem o avanço da curva de aprendizagem do tratamento", disse o ministro.
Pazuello voltou a dizer que o surto nas regiões Norte e Nordeste entrou numa fase final, argumentando que as capitais e regiões metropolitanas já demonstram sinais de queda nas curvas de mortes e contágio. Essas regiões, afirmou, foram inicialmente afetadas pelo "inverno no hemisfério norte".
Na verdade, essas regiões são tradicionalmente afetadas por síndromes respiratórias nos primeiros meses do ano devido à temporada de chuvas nesses estados --temporada que é regionalmente chamada de "inverno".
"Já existem estados no Norte e Nordeste em que a curva já subiu e já desceu", afirmou.
O ministro, por outro lado, afirmou que muitas regiões estão na fase de interiorização, que significaria a terceira etapa do surto de coronavírus --e também a final.
A primeira seria a preparação para a pandemia, enquanto a segunda seria a chegada do coronavírus nas capitais e regiões metropolitanas.
"O interior, em alguns estados, é onde está o problema. Qual a estratégia? Usar a estrutura que está ficando ociosa nas capitais e regiões metropolitanas", disse Pazuello.
Em relação à preparação para a migração dos impactos do coronavírus para a região Sul, o ministro interino afirmou que serão publicadas duas diretrizes para diagnosticar e tratar com antecedência os possíveis pacientes, enquanto se aguarda o resultados dos testes. Essas diretrizes serão referentes à testagem e diagnóstico e também ao manejo dos pacientes.
O primeiro diz respeito à criação de postos de triagem e primeiros atendimentos, para que haja diagnósticos antes mesmo do resultados dos exames. O programa foi anunciado na semana passada pelo Ministério da Saúde, que vai repassar R$ 1,2 bilhão para estados e municípios.
"Ninguém deve ficar em casa, esperando ficar mal para ir ao médico. Hoje você ficou com sintomas de Covid, tem que ir para os postos básicos básicos. Você vai ser diagnosticado por um médico".
O ministro também acrescentou que estados e municípios devem evitar o uso das UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) para os casos de coronavírus. A preferência deve ser dada para leitos intermediários, que contem com os equipamentos de ventilação mecânica, para os casos com sintomas de falta de ar.
As UTIs, afirma, devem ser reservadas para os pacientes que apresentem outras comorbidades.
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