Ao menos 62 sintomas podem ser associados à Covid longa, segundo estudo publicado nesta segunda-feira (25) na revista científica Nature Medicine. Na lista estão problemas como falta de libido, dificuldade de ejaculação, perda de cabelo e insônia.
"Embora sintomas como dor no peito, fadiga e falta de ar tenham sido comumente relatados por pacientes que convivem com a Covid longa, surpreendentemente encontramos alguns sintomas, como perda de cabelo e disfunção sexual, relatados com maior frequência entre pacientes com histórico de Covid-19", afirma a pesquisadora Anuradhaa Subramanian, uma das principais autoras do artigo Symptoms and risk factors for long Covid in non-hospitalized adults (em português, sintomas e fatores de risco da Covid longa em adultos não hospitalizados).
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), são considerados casos de Covid longa aqueles em que os indivíduos, semanas após serem diagnosticados com Covid, apresentam sintomas que não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo. Eles podem persistir desde a doença inicial ou surgir depois da recuperação inicial e geralmente têm impacto na rotina.
Realizada por cientistas da Universidade de Birmingham em parceria com especialistas de entidades do Reino Unido, a pesquisa aponta ainda que o risco de apresentar sintomas três meses após a infecção pelo vírus Sars-Cov-2 é maior entre mulheres, jovens, fumantes, pessoas obesas e de baixa renda. Asiáticos e negros também estão entre os mais suscetíveis, segundo os estudiosos.
"Alguns dos fatores de risco observados podem dar pistas sobre como e por que a Covid longa acomete algumas pessoas. A questão da autoimunidade tem sido discutida como uma causa potencial, e sabemos pela literatura que é mais comum em mulheres. Além disso, no Reino Unido, as doenças crônicas são, em geral, mais comuns entre pessoas de etnias minoritárias", afirma Subramanian.
O estudo indica que um histórico de problemas como doença pulmonar obstrutiva crônica, hiperplasia prostática benigna, fibromialgia, ansiedade, disfunção erétil, depressão, enxaqueca, esclerose múltipla, doença celíaca, asma e sinusite também contribui para o desenvolvimento da Covid longa.
"Observamos no consultório que pacientes com idade avançada, sobrepeso, fumantes, que já tinham alguma dificuldade de ereção, de fato, tiveram uma piora significativa da performance sexual", diz o médico José Ailton Fernandes Silva, coordenador do Departamento de Disfunção Miccional da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).
Ele explica que, como o novo coronavírus pode acometer nervos e a parede dos vasos sanguíneos, ele pode comprometer o desempenho da bexiga, levando aos sintomas urinários reportados na pesquisa. "Já tive casos de pacientes com retenção urinária que necessitaram usar sonda por meses por conta de flacidez no músculo da bexiga, que perde a capacidade de contração para a micção", afirma.
Em relação à questão sexual, o urologista afirma que há diferentes teorias. A primeira relaciona a repercussão cerebral da Covid, como a confusão mental e a depressão, com a redução da libido e da ereção, enquanto outras trabalham com o impacto da queda do vigor físico após a doença e com a hipótese de redução da testosterona.
Para o novo estudo, os pesquisadores ingleses se basearam em dados de 486.149 pessoas infectadas com Covid e de 1,9 milhão de pessoas não infectadas, coletados entre janeiro de 2020 e abril de 2021. Eles, então, levantaram os problemas apresentadas com maior frequência entre os pacientes não hospitalizados e chegaram aos 62 sintomas (veja abaixo).
De acordo com Subramania, por causa da ampla gama de sintomas, muitos pacientes sofreram com estigmas e falta de conhecimento a respeito de seu quadro.
O problema também foi relatado pela pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Minas Rafaella Fortini, que conduziu outro estudo sobre Covid longa em pacientes brasileiros acima de 18 anos.
A pesquisa, publicada em maio na revista científica Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, contabiliza 23 sintomas após o término da infecção aguda, entre os quais fadiga, tosse persistente, dificuldade para respirar, perda do olfato ou paladar, dores de cabeça frequentes, insônia, ansiedade e tontura, além de casos de trombose.
"Profissionais de saúde e pesquisadores mundo afora, num primeiro momento, pararam para pensar se os sintomas realmente tinham relação com a Covid-19 porque eles são muito diferentes do que os pacientes sentem na infecção. Questionamos se não seria pela idade ou pela condição de vida, por exemplo. Então, no primeiro momento, o foco foi registrar tudo: ouvir todos os relatos, todas as queixas", conta Fortini.
Conforme os pacientes foram passando por avaliações clínicas que confirmavam os problemas de saúde, foi ficando mais fácil estabelecer correlações. "Observamos que, em muitos casos, existe uma relação de manutenção dos sintomas sentidos na infecção aguda, os sintomas remanescentes, porém identificamos muitas sequelas novas, como dores musculares. Percebemos também questões cognitivas, como insônia, falta de atenção, dificuldade de foco e perda de memória, em especial a memória mais recente, além de condições como trombose e hipertensão arterial", relata a cientista da Fiocruz.
Ela destaca ainda as altas taxas de Covid longa entre não vacinados. Entre os pacientes com a forma grave da Covid, 33,1% tiveram sintomas meses após a infecção e, nos casos leves e moderados, a taxa foi ainda maior: 59,3% e 75,4% respectivamente.
Segundo Fortini, estão sendo realizados novos estudos, incluindo um de acompanhamento de pessoas vacinadas que aponta para a redução do risco de desenvolvimento de Covid longa após a imunização. "A taxa cai pelo menos pela metade e, quando há sequelas, elas são mais leves."
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