As vacinas que estão sendo projetadas hoje contra o novo coronavírus podem não ser suficientemente eficazes justamente para as pessoas que mais precisam: os idosos. O alerta vem de Boston, nos Estados Unidos. Mais precisamente, de Ofer Levy, médico de doenças infecciosas que dirige o Programa de Vacinas de Precisão do Boston Children's Hospital.
"As vacinas não são tamanho único", disse Levy ao jornal The Times of Israel por teleconferência há alguns dias. "A resposta imune varia com a idade". Com sua equipe, Levy trabalha em uma vacina desde meados de janeiro. Ele calcula que mais de 40 grupos separados estão pesquisando pelo mundo afora, mas, até o momento, nenhuma vacina foi aprovada.
Para a repórter Karen Weintraud, da revista Scientific American, Levy explicou que é preciso que a vacina, seja qual for, funcione em idosos. "Caso contrário, não estamos de olho na bola. E agora, como as vacinas estão sendo desenvolvidas, o olho não está certo"
A estratégia desenvolvida por Levy e seus companheiros envolve testar candidatos em um ambiente mais realista do que a maioria dos laboratórios, adicionando um adjuvante, isto é, uma substância que aumenta a eficácia da vacina e permite a dosagem mínima possível.
Eles mantêm armazenadas em freezers centenas de amostras de células doadas por pacientes mais velhos que foram tratados no Hospital Brigham and Women's antes do atual surto. Elas permitirão testar a combinação de diversos adjuvantes, até definirem a que melhor funciona com os idosos.
Levy estava trabalhando numa vacina contra a gripe até 1º de janeiro, quando seu colega David Dowling ouviu falar de um estranho surto de pneumonia na cidade chinesa de Wuhan. Ao mudar o eixo das pesquisas, o grupo já tinha como foco encontrar uma vacina eficaz entre os velhos. O raciocínio é que o sistema imunológico humano se transforma completamente não apenas durante as primeiras semanas após o nascimento, mas também na velhice, o que faz com que vacinas eficazes em adultos saudáveis possam falhar se aplicadas nos idosos.
Levy nasceu em Nova Iorque, numa família judaica com forte presença na ciência e na arte. O avô foi geólogo e fez os primeiros mapas de Israel. O tio-avô era cientista e poeta. O pai de Levy é artista e a mãe, musicista e maestrina.
Formado na Bronx High School of Science, na Universidade de Yale e na NYU School of Medicine, ele sabe que é preciso acelerar as pesquisas de todos os grupos. "As pessoas estão morrendo a uma taxa diária agora. Estamos trabalhando o máximo que podemos em uma situação difícil. Temos que trabalhar mais rápido, melhor. Mais cedo ou mais tarde, o próximo surto pode ser ainda pior"
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