O ministro da Justiça, Anderson Torres, informou que "remanescentes humanos" foram encontrados nas buscas desta quarta-feira (15) pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista britânico Dom Phillips. "Eles serão submetidos à perícia", disse o ministro, no Twitter.
Pereira e Phillips desapareceram em 5 de junho quando retornavam de barco ao município de Atalaia do Norte (AM). Trata-se do município mais próximo à terra indígena Vale do Javari.
Nesta quarta, a Polícia Federal levou ao local do desaparecimento um dos suspeitos investigados, Amarildo Oliveira, o Pelado. De acordo com a PF, ele confessou o crime e indicou às autoridades onde havia enterrado os corpos, bem como ocultado a lancha em que viajavam Pereira e Phillips. Agora, a instituição aguardará os resultados das perícias.
A embarcação com policiais federais subiu o rio Itaquaí, percorrido por Pereira e Phillips, pouco antes das 13h (15h no horário de Brasília).
Pelado estava totalmente coberto quando foi levado pela PF para a busca dos corpos.
O outro suspeito conhecido, Oseney de Oliveira, o Do Santos, preso na terça (14), permaneceu em Atalaia nesta quarta para a audiência de custódia. Ele é irmão de Pelado.
Os irmãos vivem na comunidade São Gabriel, onde moram ribeirinhos que sobrevivem da pesca e da agricultura tradicional.
Na última sexta (10), a Polícia Federal divulgou que também havia encontrado o que poderia ser vestígios de material genético humano na região do rio Itaquaí, mas ainda aguarda também o resultado da perícia.
Os investigadores falam na ocasião em material "aparentemente humano" nas proximidades do porto de Atalaia do Norte.
As buscas por vestígios de Pereira e Phillips estão concentradas num trecho do rio entre São Gabriel e a comunidade Cachoeira.
A PF e a Polícia Civil do Amazonas mantêm sigilo sobre a diligência realizada nesta quarta. Eles não informaram se o destino dos policiais era a comunidade; se era a área de buscas; ou mesmo quem era o suspeito conduzido.
Durante as buscas pelo indigenista e pelo jornalista, as equipes de buscas conseguiram localizar uma mochila, roupas e um documento pessoal do indigenista.
A Polícia Civil investiga a suspeita de homicídio qualificado. A investigação aponta, até agora, a pesca e a caça ilegal na região e os conflitos decorrentes das atividades ilegais como pano de fundo do suposto crime.
De acordo com o policial civil Alex Perez, que comanda a delegacia em Atalaia do Norte, duas testemunhas "colocaram" Pelado Dos Santos "no local do suposto crime".
A Polícia Civil do Amazonas realizou na terça (14) buscas na comunidade São Gabriel. Na operação, foi apreendido um remo. A PF também disse em nota que alguns cartuchos de arma de fogo foram apreendidos, mas não especificou onde eles estavam.
No domingo (12), mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas encontraram uma mochila e outros pertences pessoais do jornalista e do indigenista. Os objetos estavam amarrados numa árvore submersa, no rio Itaquaí, o que indica, segundo os bombeiros, intenção de ocultamento.
Na Polícia Civil, o entendimento é que a localização dos pertences reforça a hipótese de crime.
Policiais também investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça pelo narcotráfico na região, um problema comum em praticamente toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.
Se for confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso passará a ter natureza federal e será investigado somente pela PF.
Pereira e Phillips faziam uma viagem pela região próxima ao território indígena, o segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares, no extremo oeste do Amazonas.
A região do desaparecimento é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da terra indígena.
Há relatos de tiros contra bases de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) por parte de pescadores ilegais. O cenário de conflitos levou a um reforço da vigilância empreendida pelos próprios indígenas, a partir de uma iniciativa da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).
Pereira é servidor federal licenciado da Funai e prestava serviço à Univaja. Ele atuava como um fomentador da vigilância indígena.
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