A Procuradoria-Geral da República (PGR) informou, neste domingo (17), que vai analisar o relato do empresário Paulo Marinho à Folha de S.Paulo sobre um suposto vazamento de uma investigação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O procurador-geral, Augusto Aras, discutirá a denúncia com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal. Deve decidir se cabe investigar o caso no âmbito do inquérito que apura, com base em denúncias do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou interferir indevidamente na Polícia Federal.
Ele poderá requerer o depoimento de Marinho, por exemplo, o que não está definido por ora. Segundo auxiliares de Aras, ainda não houve tempo para uma análise aprofundada do caso. Será necessário analisar se o assunto guarda pertinência com a investigação já em curso.
Na entrevista à Folha, Marinho, 68, que rompeu com o clã Bolsonaro após as eleições, disse que, segundo ouviu do próprio filho do presidente, um delegado da Polícia Federal antecipou a Flávio em outubro de 2018 que a Operação Furna da Onça seria realizada.
A operação, segundo Marinho, teria sido "segurada" para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa do segundo turno da eleição. Os desdobramentos da Furna da Onça revelaram um suposto esquema de "rachadinha" na Alerj (Assembléia Legislativa do Rio) e atingiu Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio na Assembleia.
O empresário foi um dos mais importantes e próximos apoiadores de Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018. Ele não apenas cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a estrutura de campanha do então deputado federal, que ainda hoje chama de "capitão", como foi candidato a suplente na chapa do filho dele, Flávio Bolsonaro, que concorria ao Senado.
Em reação às revelações feitas à Folha, senadores e deputados cobraram neste domingo (17) investigação para apurar se Flávio foi informado antes pela Polícia Federal sobre operação contra ele e então integrantes de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou as declarações do empresário como "gravíssimas" e afirmou que elas revelam "a interferência de Bolsonaro e de sua família na Polícia Federal antes mesmo do início de seu governo".
Líder da minoria no Senado, ele disse que vai pedir que Paulo Marinho seja ouvido no inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar as suspeitas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.
Assim como Randolfe, a defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro estuda pedir o depoimento de Paulo Marinho no inquérito que investiga a suposta interferência do presidente na Polícia Federal.
A avaliação é a de que o ex-aliado do presidente pode reforçar a narrativa de Moro. O ex-ministro disse à PF que Bolsonaro queria interferir na corporação. Os advogados do ex-juiz da Lava-Jato irão esperar ate terça (19) uma manifestação da PGR (Procuradoria Geral da República) sobre as declarações do empresário.
Flávio classificou a entrevista à Folha de seu suplente de "invenção de alguém desesperado e sem votos". Em nota neste domingo, ele disse que Marinho "preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão" e trocou a família Bolsonaro pelos governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro. O ex-aliado de Bolsonaro é pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB.
Já o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Fabio Wajngarten, chamou de "incrível enredo ficcional" as declarações à Folha do empresário suplente de Flávio.
Em rede social, ele afirmou ser "inverossímil a narrativa de oportunistas que buscam holofotes a qualquer preço". "Precisam contratar um bom roteirista para dar credibilidade a esse incrível enredo ficcional. Meu apoio ao senador @FlavioBolsonaro e ao PR @jairbolsonaro por mais essa tentativa de atingi-los."
Também neste domingo, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro usou uma rede social para desqualificar as declarações do empresário. "Paulo Marinho, coordenador de campanha de Bolsonaro... . QG em sua residência.... .... Bolsonaro tratava mal os empregados... . Tudo é tão verdadeiro quanto a declaração de seu filho dizendo que foi ele que traduziu a conversa de Trump com o Bolsonaro."
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