Com 204 novas vítimas, recorde até agora, o Brasil registrou, nesta terça (14), o que representa 6% da média diária de mortes contabilizadas em período anterior à pandemia da Covid-19.
É um impacto menor do que o verificado nos países mais afetados pelo coronavírus. Na Espanha, Itália e Estados Unidos, os piores dias de mortes por Covid-19 representam 82%, 52% e 27% da média anterior à pandemia, respectivamente.
A comparação leva em conta a média diária de mortes por todas as causas no ano de 2017 com o número de mortos por coronavírus no dia com mais vítimas pela doença.
Como os dados mais atualizados da Itália sobre mortes anuais são de 2017, o ano foi usado como referência nos demais países.
Também foi feita uma simulação desconsiderando mortes por causas externas (como homicídios e acidentes de trânsito), de modo a avaliar se os índices de violência, maiores no Brasil, impactavam as médias. Os percentuais, porém, não sofreram alterações significativas.
Os números das regiões com mais casos exemplificam o impacto da epidemia. Na cidade de Nova York e na Lombardia, no norte da Itália, os dias de pico do coronavírus têm mais de quatro vezes a média diária de mortos.
A cidade de São Paulo, que concentra o maior número de óbitos no Brasil, registrou, no último dia 7 de abril, 52 mortos. Isso equivale a um quarto das média diária de mortes por todas as causas em 2017.
Problemas de notificação, porém, podem impactar os resultados no Brasil. Há falta de testes e demora na entrega do resultado, o que gera atrasos na contagem oficial de vítimas.
Especialistas alertam que a radiografia do cenário atual, na verdade, pode ser relativa a dias até mesmo semanas atrás, o que pode prejudicar a comparação com outros países.
"Da mesma forma que existe uma subnotificação no número de casos confirmados no país, certamente também existe subnotificação no número de óbitos. Somente as pessoas internadas e em estado grave estão sendo testadas, portanto temos a falsa impressão que a letalidade seja maior aqui", diz o infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
A situação, contudo, não é exclusiva do panorama brasileiro. Atrasos e dificuldade em obter testes são relatados em outros países.
As consequências disso, de acordo com o epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Airton Stein pode se traduzir na qualidade das políticas públicas de enfrentamento à doença.
"A subnotificação é o problema principal de fazer governança neste momento. O planejamento fica baseado na opinião de quem apresenta o problema", afirma.
Outro ponto a considerar é que a chegada e o avanço da epidemia se deram de maneira diferente em cada país. Enquanto o novo coronavírus foi confirmado pela primeira vez no Brasil há 48 dias, está há 73 circulando na Itália e na Espanha e há 83 nos EUA.
O panorama dessas nações considerando apenas os primeiros 48 dias desde o primeiro caso de coronavírus é diverso. Na Itália, o recorde foi em 13 de março, com 439 mortes (25% da média diária de 2017). A Espanha, por sua vez, teve 191 óbitos em 17 de março (equivalente a 16%).
Já os EUA contaram apenas cinco novas mortes em 2 de março, 0,1% da média diária registrada há três anos. Nesta terça (14), contudo, já são mais de 23 mil vítimas, a maior quantidade entre todos os países do mundo.
A baixa proporção registrada agora no Brasil, portanto, não significa que as perspectivas sejam otimistas.
"Esperamos não passar por situações tão drásticas como temos observado em outros países. Porém, é essencial o respeito à recomendação de distanciamento físico, higienização frequente das mãos e etiqueta respiratória", afirma o infectologista Leonardo Weissmann.
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