O governo de Jair Bolsonaro passou a procurar nomes para substituir Carlos Alberto Decotelli, que foi nomeado ministro da Educação na semana passada e teve a posse adiada por causa de incoerências em seu currículo. Decotelli perdeu apoio do grupo militar que o havia indicado. A ala ideológica agora tenta emplacar substitutos.
Militares que sugeriram o nome de Decotelli estão constrangidos porque foram surpreendidos pelos problemas acadêmicos. Ele também perdeu o apoio que tinha entre professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) A cerimônia de posse estava marcada para esta terça-feira, 30, às 16 horas, mas foi adiada.
Fontes ouvidas pelo Estadão, tanto do meio educacional quanto da política, acreditam que ele não vai permanecer como ministro. Deputados também adiaram eventos com o ministro na Câmara diante da indefinição. A preocupação dos militares e de educadores é que intregrantes ligados a Olavo de Carvalho agora tenham argumentos para indicar um nome que prevaleça.
Desde o fim de semana, quando a formação acadêmica de Decotelli passou a ser alvo de contestação, auxiliares do presidente argumentam que os questionamentos inviabilizam totalmente o ex-professor no cargo, em um momento em que o governo tenta recuperar a confiança na pasta. Um outro grupo ponderou que mais uma mudança no MEC pode ser pior e alegam que outros ministros também já tiveram o currículo contestado, mas seguiram no cargo após a explicação.
Um auxiliar que acompanha de perto a discussão afirma que a decisão do presidente é política, uma vez que a Educação é alvo da cobiça de partidos políticos do Centrão e também da ala ideológica do governo.
O nome de Decotelli foi publicado no Diário Oficial depois de anunciado por Bolsonaro. No sábado, ele divulgou nota mencionando que sua tese de doutorado não teve a defesa autorizada. "Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca. Contudo, fruto de compromissos no Brasil e, principalmente, do esgotamento dos recursos financeiros pessoais, o ministro viu-se compelido a tomar a difícil decisão de regressar ao país sem o título de Doutor em Administração", diz o texto. Ele também afirmou que iria revisar o trabalho de mestrado na FGV.
Desde que foi anunciado como novo ministro da Educação, Decotelli passou a ter as informações de seu currículo questionadas. Ao anunciar o sucessor de Abraham Weintraub na pasta, o presidente Jair Bolsonaro mencionou a formação do professor: Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela Uerj, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, e Pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, escreveu nas redes sociais na quinta-feira, 25.
No dia seguinte, o título de doutor do novo ministro da Educação foi questionado por Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de Rosário, que disse que Decotelli não conclui o doutorado. "Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar".
O ministro inicialmente negou a declaração de Bartolacci e chegou a mostrar certificado de conclusão de disciplinas à reportagem. "É verdade. Pergunte lá para o reitor", disse Decotelli na sexta-feira ao Estadão. Questionado se havia defendido a tese, requisito para obter o título de doutor, o ministro não respondeu.
No fim do dia, o novo titular do MEC atualizou o seu currículo na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele passou a declarar que teve "créditos concluídos" no curso de doutorado, em 2009. No campo relacionado ao orientador, o ministro assinalou: "Sem defesa de tese".
No sábado (26) a dissertação de mestrado do ministro também foi colocada sob suspeita após o economista Thomas Conti apontar, no Twitter, possíveis indícios de cópia no trabalho, de 2008. Ele citou trechos na dissertação idênticos a um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A FGV informou que vai investigar a suspeita de plágio.
O pós-doutorado na Alemanha também passou a ser debatido após a universidade fornecer informações diferentes das que constam no currículo do ministro. A instituição informou que ele não obteve título de pós-doutorado e Decotelli mudou hoje o currículo. Após admitir que não concluiu doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Decotelli deixou de afirmar nesta segunda-feira, 29, em seu currículo, que realizou pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.
Após a alteração, o ministro passou a afirmar que submeteu à universidade um projeto de pesquisa sobre sustentabilidade e produtividade na automação de máquinas agrícolas, com apoio da empresa Krone.
A medida ocorre após a instituição informar que Decotelli apenas participou de uma pesquisa de três meses. A afirmação de que era pós-doutor estava registrada em currículo na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
"Tem um simbolismo muito grande ele ter sido desmentido por duas universidades estrangeiras e ainda tem problemas no mestrado", diz deputado federal e secretário-geral da Frente Parlamentar Mista de Educação, Israel Batista (PV-DF).
Segundo ele, vários deputados da Frente consideraram esperar a situação do ministro para convidá-lo para uma conversa na Câmara. A comissão de Educação da Câmara também está reavaliando o convite para a participação do ministro, marcada para quinta-feira, 2.
A reportagem questionou o motivo do cancelamento do evento e se a posse será remarcada. O Palácio do Planalto respondeu que "em nenhum momento a Secom confirmou o evento à imprensa e, até agora, não há previsão para essa cerimônia." O Estadão conversou com autoridades que já tinham sido convidadas e receberam aviso sobre adiamento.
A disputa pelo comando do MEC mobilizou as alas ideológica, militar e civil do Planalto. Decotelli, que é oficial da reserva da Marinha, acabou sendo o escolhido por Bolsonaro como uma alternativa apaziguardora e técnica para a função. O objetivo era reparar o desgaste da imagem do ministério após a gestão de Abraham Weintraub.
Em entrevista ao Estadão horas após ser confirmado como ministro, Decotelli reforçou o seu perfil técnico e disse que sua missão era favorecer o dialogo. O presidente solicitou a máxima dedicação para fortalecer a gestão e a comunicação do MEC para favorecer o diálogo.
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