A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para apurar o caso do homem flagrado com uma braçadeira vermelha com uma suástica ao centro -- ao estilo daquelas usadas por oficiais da Alemanha nazista -- na cidade de Unaí (MG), a 600 km de Belo Horizonte.
O homem foi fotografado em um bar, no sábado (14), à noite, vestindo o adereço no braço. O inquérito foi aberto pela repercussão nas redes sociais. A Polícia Militar foi acionada por frequentadores do local e enviou viaturas, mas, segundo testemunhas, não o abordou.
Em nota, a PM diz que os policiais que estiveram no local não entenderam que o caso se encaixaria no primeiro parágrafo do artigo 20 da lei de racismo (7.716/1989), que prevê reclusão de um a três anos e multa.
O texto lista entre os casos passíveis de punição: "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".
Para os PMs, o uso da braçadeira em local público não se enquadrava nem nos casos citados na lei. A nota diz que o homem foi orientado a tirar a faixa, "para evitar problemas de segurança que poderiam advir em razão da indignação de outras pessoas presentes".
Os policiais registraram um boletim de ocorrência interno, que é encaminhado pelo Comando da Unidade. Um procedimento administrativo foi instaurado para apurar se a atuação e o protocolo adotado foram adequados.
A Polícia Militar diz que o homem foi abordado por policiais, mas depoimentos de pessoas que estavam no local afirmam que os agentes conversaram apenas com o gerente do bar. E que foi ele quem pediu que o homem tirasse a braçadeira.
Uma nota divulgada pelo bar, no domingo (15), diz que o ocorrido foi "resolvido da melhor maneira possível, por agentes policiais (sem violência) e sob a égide da lei".
Um vídeo de cinco minutos mostra policiais falando com um homem de camisa preta, que seria o gerente, enquanto o homem com a braçadeira permanece sentado. A polícia vai embora e o homem que trabalha no bar se dirige ao outro, que aponta duas vezes para o braço enquanto conversa, mas fica no local.
Uma pessoa, que pediu para não ser identificada, conta que a PM foi acionada por volta das 19h30 e o homem deixou o local às 21h50. Ele só tirou a faixa três minutos antes de sair.
O advogado Danilo Caetano foi chamado por conhecidos, depois que as fotos começaram a circular. Quando chegou ao bar, as viaturas não estavam mais lá, mas o homem permanecia no local, com o adereço nazista.
"A situação é preocupante, porque todo mundo sabe o que foi o nazismo, o terror que aquele símbolo representa, e alguém ostentar aquilo no meio das pessoas assim, sem providência alguma ser tomada, nos deixa com sensação de impotência", diz.
O regime nazista, que vigorou na Alemanha entre 1933 e 1945 sob liderança de Adolf Hitler (1889-1945), foi responsável por milhões de mortes de judeus e pessoas de outros grupos como ciganos, eslavos, comunistas, socialistas e LGBTs, em nome da supremacia da raça ariana.
O gerente do bar disse à reportagem que prestou depoimento à Polícia Civil e não estava autorizado a dar declarações sobre o caso. A proprietária do estabelecimento não retornou o contato.
A reportagem também não conseguiu localizar o homem, que não teve o nome confirmado pela polícia para não atrapalhar as investigações.
Valdemiro da Silva, alfaiate na cidade, conta que foi procurado por ele ainda no sábado, pedindo que fizesse uma braçadeira. Quando viu o símbolo, o alfaiate rejeitou o trabalho.
"Ele tentou me convencer que aquilo não era o símbolo nazista. Pelo entendimento que eu tenho, que o mundo inteiro tem, aquilo é o símbolo nazista", conta.
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