As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro fizeram nesta terça-feira (11) uma operação contra o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, apontado como chefe do TCP (Terceiro Comando Puro), no Complexo de Israel, zona norte da cidade. Ele segue foragido.
Os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao traficante. Uma das casas, apelidada pela polícia de 'resort do tráfico', foi demolida. Os agentes também derrubaram estruturas com a estrela de Davi, símbolo utilizado pelo grupo criminoso comandado por Peixão.
A região registrou tiroteio no início da ação policial, ainda durante a madrugada, e novamente após a operação. Não houve registro de feridos.
No resort demolido pela polícia, há um grande lago artificial com carpas, academia e um monte que seria usado para orações. Os policiais identificaram ao menos três espaços distintos em Parada de Lucas usados pela quadrilha, com uma estrutura considerada de luxo pelos investigadores, que destoa das construções da localidade.
Ainda segundo as autoridades, as construções não possuem licença e cometiam crimes ambientais, como desvio do curso de água.
"É preciso dar um tratamento mais contundente contra os narcoterroristas que atiram contra a população para fazer cessar a operação policial", declarou o delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil.
Policiais militares do Núcleo de Apoio às Operações Especiais retiraram uma estrela e de uma bandeira utilizadas pelo grupo criminoso comandado por Peixão, para marcar território. Até o início da noite, as polícias Civil e Militar prenderam quatro criminosos, sendo um deles foragido da Justiça.
Ainda na ação, foram apreendidos dois fuzis, munição, carregadores e drogas. As equipes também recuperaram uma motocicleta.
Agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados também desmontaram uma empresa ilegal que oferecia o serviço de internet para moradores do Complexo de Israel. Um homem apontado como responsável pelo estabelecimento foi preso em flagrante.
Segundo a polícia, Peixão seria o verdadeiro dono e controlador da empresa clandestina que gerava lucros milionários para a facção. O dinheiro, de acordo com a investigação, era usado para financiar as atividades criminosas do grupo, incluindo o tráfico de drogas e a expansão territorial.
O serviço também ajudava a consolidar o domínio territorial da quadrilha de Peixão na região, eliminando empresas regulares e impondo um monopólio criminoso sobre os serviços de internet na comunidade.
No local, os agentes apreenderam equipamentos furtados de prestadoras de serviços oficiais como cabos, baterias e nobreak. Também foram apreendidos um veículo utilizado pelo provedor ilegal e o telefone celular do proprietário.
No início da operação desta terça, houve registro de tiroteios relacionados à operação policial. Por causa disso, a avenida Brasil foi fechada nos dois sentidos para o tráfego de veículos, no final da madrugada. Motoristas precisaram sair dos veículos e se proteger ao lado das muretas da via.
A operação afetou também o transporte coletivo de ônibus e de trens urbanos.
O cenário se repetiu após a operação, no final da tarde, quando um novo tiroteio assustou na Linha Vermelha, que também corta comunidades do Complexo de Israel. Segundo a polícia, homens armados dispararam tiros contra um blindado da Polícia Militar, em represália à operação no Complexo de Israel nesta terça.
Peixão é o primeiro líder do tráfico do Rio a ser investigado por terrorismo, conforme a Folha de S.Paulo noticiou em outubro.
"O crime de terrorismo tem relação também com questões políticas ou religiosas. No caso do Peixão, sabemos que ele impõe uma ditadura religiosa, ele não permite certos tipos de crenças ou religiões. Ele expulsa pessoas que possuem religiões afro, candomblé, espiritismo, enfim, tudo o que não tiver com a crença que ele acredita", disse Curi.
Peixão, autointitulado traficante evangélico, teria ordenado que seus subordinados atirassem na população para tentar fugir de um cerco policial em outubro do ano passado, segundo informações de inteligência policial surgidas após a operação que deixou seis pessoas baleadas -três morreram.
Ainda segundo as investigações, o traficante fundou o Complexo de Israel em 2021, durante a pandemia de Covid-19, aproveitando a ausência de operações policiais nas favelas. Após tomar territórios do Comando Vermelho, uniu as comunidades com pontes, sendo a maior sobre o rio Pavuna. As obras facilitaram o deslocamento de seus comparsas, que se autodenominam Tropa do Arão -o nome que Peixão escolheu após se batizar como evangélico.
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