O Rio de Janeiro vive uma contradição em relação ao coronavírus: enquanto o prefeito convida turistas para vir passar o réveillon na cidade, as escolas de samba planejam desfiles em julho e as praias e os bares seguem lotados, médicos e cientistas constatam o aumento do número de casos da doença e a secretaria da Saúde alerta as próprias unidades de atendimento sobre a necessidade de ampliação da estrutura para socorrer os pacientes. Até terça-feira (17), segundo o governo estadual, 12 653 moradores do Rio haviam morrido de Covid-19, e a doença atingira 127.921 pessoas.
Na rede municipal, nesta quarta-feira (18), dos 251 leitos de UTI existentes para vítimas de covid-19, 243 (96,8%) estavam ocupados. Na rede pública (municipal, estadual e federal), a taxa de ocupação está em 80% nas UTIs e em 76% nas enfermarias. Em agosto, esses números chegaram a 61% e 41%, respectivamente. O único hospital de campanha mantido em funcionamento é da prefeitura, na zona oeste - todas as unidades construídas pelo governo do Estado foram desativadas.
Na terça-feira, a Assessoria Especial de Atenção Primária à Saúde, divisão da secretaria municipal de Saúde, enviou às Coordenações de Atenção Primária um documento assinado pelo assessor Leonardo Graever em que registra o aumento de casos de problemas respiratórios: "Vivemos um expressivo aumento do número de atendimentos de síndrome gripal, casos confirmados e internações por covid-19 nas últimas semanas". Segundo a mensagem, "tal conclusão advém de registros de aumento do atendimento de sintomáticos respiratórios em unidades da Atenção Primária do município, relatórios consolidados pelos Centros de Atenção Psicossocial com informações coletadas pelas divisões de Vigilância em Saúde e até mesmo de informes da rede privada, relatando aumento expressivo de internações na cidade".
Para lidar com esse crescimento, a secretaria recomenda a reorganização das equipes, a reabertura de alas exclusivas para pacientes suspeitos, a retomada das equipes de Resposta Rápida e do monitoramento de casos, contatos e pessoas de risco, além do reforço no uso de equipamentos de proteção individual, das visitas domiciliares por Agentes Comunitários de Saúde e, em caso de sobrecarga de atendimentos de pessoas sintomáticas, o adiamento de agendas para pacientes crônicos controlados e de baixo risco.
Segundo a secretaria municipal de Saúde, a comunicação é "uma nota técnica para orientação interna". "Os procedimentos internos são periodicamente revisados e estão em constante aprimoramento - entre os quais o treinamento para uso de equipamentos de proteção individual e protocolos de triagem de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave", afirmou a pasta, em nota à reportagem. "A Secretaria Municipal de Saúde reforça a necessidade da população continuar seguindo as regras de ouro de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus", afirma a nota.
Enquanto os médicos constatam aumento do número de pacientes de problemas respiratórios, na terça-feira o prefeito Marcelo Crivella convidou turistas a viajarem para o Rio durante o réveillon: "O Rio pode ser agora no próximo verão, com o dólar muito caro, um local seguro para as pessoas virem aqui e terem um entretenimento no verão", afirmou, em entrevista à TV CNN.
As escolas de samba, por meio da Liga Independente, planejam desfiles para os dias 9 a 12 de julho - caso haja vacina e até lá os brasileiros tenham tido oportunidade de se vacinar. Cada escola de samba chega a reunir até 5 mil integrantes, e o público no sambódromo se aproxima de 60 mil pessoas.
As praias seguem movimentadas mesmo em dias nublados, como esta quarta-feira, e eventos e festas voltaram a ser promovidos normalmente, com autorização da prefeitura.
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