Nesta quarta-feira (27), o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, rebateu a associação que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez com vacinas contra a Covid-19 e a Aids.
"As vacinas aprovadas pela Anvisa não induzem a nenhuma doença. Não aumentam a sua propensão a ter nenhuma doença", disse Barra Torres durante reunião da diretoria colegiada da agência.
Bolsonaro tem sido criticado pela oposição e por especialistas de saúde. Médicos afirmam que a associação entre o imunizante contra o coronavírus e a transmissão do HIV, o vírus da Aids, é falsa, inexistente e absurda.
A Anvisa é responsável por aprovar o uso das vacinas e de qualquer medicamento no Brasil. Para dar este aval, a agência faz uma análise de segurança, eficácia e qualidade com base em estudos clínicos, dados de fabricação, entre outras informações.
Na quinta-feira (21), Bolsonaro citou "relatórios oficiais do governo do Reino Unido" segundo os quais pessoas totalmente vacinadas estariam "desenvolvendo a Síndrome da Imunodeficiência Adquirira [Aids] mais rápido do que o previsto".
No vídeo -derrubado pelas redes sociais e também pelo YouTube, na segunda- Bolsonaro afirma que só daria a notícia e que não a comentaria. "Portanto, leiam a matéria, não vou ler aqui porque posso ter problema com a minha live. Não quero que caia a live aqui, quero dar informação", disse.
Barra Torres não citou a fala de Bolsonaro ou o nome do mandatário. A declaração do presidente da Anvisa, porém, foi uma resposta a falsa associação feita por Bolsonaro.
"Vamos manter a tradição do nosso povo brasileiro de aderir ao PNI (Programa Nacional de Imunizações), que é um motivo de orgulho do nosso país", disse o chefe da Anvisa.
Depois das redes sociais retirarem o vídeo, Bolsonaro ainda distorceu uma reportagem da revista Exame e culpou a imprensa pela divulgação da fake news. O presidente afirmou que se baseou em informação da revista, mas ele não havia citado o nome da publicação durante a live. O conteúdo da revista tampouco cita qualquer documento oficial do governo britânico.
Barra Torres chegou a ser um conselheiro de Bolsonaro sobre temas de saúde no começo da pandemia, mas se afastou do mandatário. Em março de 2020, o diretor da agência esteve ao lado do presidente, sem máscara, em ato pró-governo. Ele já afirmou que se arrependeu de desrespeitar as regras sanitárias para acompanhar Bolsonaro.
O chefe da Anvisa disse, na reunião desta quarta-feira (27), que a vacina é a principal responsável pela queda de internações e mortes pela Covid.
"Não há de se falar que seja a imunidade de rebanho ou qualquer outra coisa. Isso não tem nenhum sentido. A causa e o efeito (da redução da crise sanitária) estão diante dos nossos olhos, os índices da pandemia caem pois a nossa vacinação avança", disse Barra Torres.
O diretor da Anvisa afirmou também que o Brasil enfrenta diversas crises, além da sanitária, e que a população ainda é influenciada "por uma série de informações que conflitam, muitas vezes, com a ciência".
"Fica difícil dizer qual desafio mais falta a ser superado. Parece que todos os possíveis estão colocados na nossa estrada", afirmou.
Responsável pela área de registro de medicamentos na Anvisa, a diretora Meiruze Freitas também defendeu a imunização. Ela disse que a avaliação da agência sobre as vacinas é séria e baseada em dados científicos. Citou ainda que a própria mãe, de 89 anos, está se recuperando de um quadro leve da Covid "graças à vacina".
Já o diretor Alex Campos disse que os estudos ainda não autorizam "decretarmos por antecipação o fim da pandemia e dos protocolos". "O que temos assistido é uma associação da retomada (das atividades) ao fim dos protocolos", afirmou ele.
A pedido de Bolsonaro, o Ministério da Saúde prepara documento com orientações para desobrigar o uso de máscaras. Alguns estados já avançaram neste debate. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou uma lei que permite que o estado e os municípios fluminenses flexibilizem o uso da proteção em locais abertos.
Já governo do Distrito Federal determinou o fim do uso obrigatório das máscaras em locais abertos a partir de 3 de novembro.
Campos ainda afirmou que já preparou minuta de resolução para definir protocolos para a volta das viagens de cruzeiros. O governo autorizou a retomada das navegações a partir de 1º de novembro.
Havia expectativa de o texto ser votado pela diretoria colegiada da Anvisa nesta quarta-feira (27), mas os diretores vão aguardar o Ministério da Saúde publicar portaria com algumas diretrizes para as mesmas atividades.
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