O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) foi preso pela Polícia Federal na noite deste domingo (23) e levado para a superintendência da corporação no Rio de Janeiro, onde chegou pouco depois das 21h. Ele saiu de casa, no interior do estado, em um carro descaracterizado por volta das 19h, escoltado pela PF.
Jefferson, que cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, foi alvo da ação policial por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Jefferson já estava em prisão domiciliar. Segundo Moraes, ele descumpriu medidas impostas pelo Supremo dentro de uma ação penal em que ele é réu por incitação ao crime e ataque a instituições.
Além de transformar a prisão domiciliar com tornozeleira em prisão preventiva, Moraes também ordenou a realização de busca e apreensão na residência de Jefferson.
Na manhã deste domingo (23), agentes foram à residência do ex-deputado de extrema direita, em Levy Gasparian (RJ), cumprir um mandado de prisão expedido por Alexandre de Moraes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Jefferson reagiu à abordagem e atirou. Segundo a investigação, o ex-deputado disparou mais de 20 tiros de fuzil e também lançou granadas na direção dos agentes. Dois policiais ficaram feridos, atingidos pelos estilhaços. Receberam atendimento médico e foram liberados.
Fontes que participam da apuração afirmam que os disparos foram realizados logo no momento da chegada do carro no local.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirma na decisão em que ordenou a prisão preventiva de Roberto Jefferson que o ex-deputado descumpriu as medidas impostas pelo STF.
Segundo ele, o ex-deputado recebeu visita e repassou orientações a dirigentes do PTB, concedeu entrevista à rádio Jovem Pan e divulgou notícias fraudulentas contra ministros do Supremo.
Além disso, no último dia 21, ele descumpriu novamente as medidas ao atacar a ministra Cármen Lúcia e compará-la a "prostitutas", "arrombadas" e "vagabundas".
Segundo a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o STF recebeu informações de que o ex-deputado aumentaria o tom de seus ataques às instituições. Em prisão domiciliar, Jefferson manteria ainda um arsenal de armas em sua casa de forma irregular.
A decisão de prendê-lo foi tomada porque, a partir de terça-feira (25), ele não poderia mais ser detido, como determina a lei eleitoral. Segundo esta regra, ninguém pode ser preso a não ser em flagrante cinco dias antes das eleições.
O mandado de prisão só foi concluído na noite de domingo (23), depois de uma intensa negociação entre a PF e o ex-deputado. Além do cumprimento do mandado do STF, a PF prendeu Roberto Jefferson em flagrante por tentativa de homicídio, segundo nota divulgada pela polícia.
Jefferson fez vídeos dizendo que não se entregaria.
"Eu não vou me entregar. Eu não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente, eu vou enfrentá-los", disse em vídeo gravado dentro de casa.
Em outro vídeo, o para-brisa do veículo da PF aparece estilhaçado. "Mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em mim, eu atirei neles. Estou dentro de casa, mas eles estão me cercando. Vai piorar, vai piorar muito. Mas eu não me entrego", afirmou.
Bolsonaro disse repudiar a reação de Roberto Jefferson contra PF, mas criticou o inquérito.
O presidente fez movimentos para tentar se afastar do aliado. Durante uma live de sua campanha na tarde deste domingo, Bolsonaro mentiu ao afirmar que nem sequer teria alguma foto com Jefferson. "Não tem uma foto dele comigo, nada", disse.
Imagens dos dois juntos, porém, estão registradas e foram divulgadas pelo PTB, partido de Jefferson desde que Bolsonaro assumiu a Presidência, em 2019.
Durante a live, o presidente leu uma postagem que havia feito horas antes em suas redes sociais.
"Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a ministra Cármen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP [Ministério Público]", escreveu.
Mais tarde, o chefe do Executivo anunciou a prisão do aliado em vídeo divulgado nas redes sociais e chamou Jefferson de bandido.
"Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio", afirmou.
À noite, voltou a dizer que não existe qualquer ligação entre ele e Jefferson e afirmou haver uma notícia-crime contra ele protocolada por Jefferson.
O ministro Anderson Torres foi designado por Bolsonaro para acompanhar o caso, mas não chegou a ir a Levy Gasparian e gravou um vídeo, em Juiz de Fora (MG), em que se solidariza com os agentes feridos.
"Gostaria de me solidarizar com os policiais federais machucados", disse.
Ele também se solidarizou com a ministra Cármen Lúcia, ofendida pelo ex-deputado de extrema-direita. O vídeo foi postado nas redes sociais na noite deste domingo.
Na primeira declaração após o ataque, ainda durante a tarde, Torres não mencionou os policiais nem condenou o ato. "Momento de tensão, que deve ser conduzido com muito cuidado. Ministério da Justiça está todo empenhado em apaziguar essa crise, com brevidade, e da melhor forma possível", escreveu.
O ex-presidente Lula afirmou que reações como a de Jefferson não são aceitáveis e representam um risco à democracia do país.
"Não é um comportamento adequado, não é um comportamento normal", afirmou o candidato petista à imprensa neste domingo, em São Paulo, após conversa com influenciadores.
Para o petista, Bolsonaro "conseguiu criar neste país uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa, que espalha fake news o dia inteiro".
Enquanto Roberto Jefferson resistia à abordagem da PF neste domingo (23), Padre Kelmon foi até a residência do ex-deputado para oferecer apoio espiritual, segundo sua assessoria. Depois, ele entregou aos policiais um fuzil.
Jefferson se entregou na noite deste domingo e foi levado para a superintendência da Polícia Federal no Rio. Ele saiu em um carro descaracterizado por volta das 19h, escoltado pela PF.
O ex-deputado foi encaminhado ao Presídio José Frederico Marques, também conhecido como cadeia de Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro, na madrugada desta segunda-feira (24). Segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Rio (Seap), Roberto Jefferson participará de uma audiência de custódia.
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