A Polícia Federal (PF) de o Ministério Público Eleitoral de São Paulo deflagraram na manhã desta terça-feira (21), a operação Paralelo - a terceira fase da operação Lava Jato junto à Justiça Eleitoral de São Paulo - para investigar suposto caixa dois de R$ 5 milhões ao ex-governador José Serra (PSDB) na campanha de 2014, quando foi eleito ao cargo que ocupa hoje no Senado Federal. O principal alvo da ação é o empresário José Seripieri Jr., fundador e ex-presidente da Qualicorp.
Agentes cumprem quatro mandados de prisão temporária e 15 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Itatiba e Itu (SP) e em Brasília. As ordens foram expedidas pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, que também determinou o bloqueio judicial de contas bancárias dos investigados
Segundo a Promotoria, o inquérito foi remetido à primeira instância da Justiça Eleitoral de São Paulo pelo Supremo Tribunal Federal em 2019, com a colaboração espontânea de pessoas que teriam sido contratadas em 2014 para estruturar e operacionalizar os pagamentos de caixa dois - "efetuados supostamente a mando de acionista controlador de importante grupo empresarial do ramo da comercialização de planos de saúde".
"Após a formalização de acordos de colaboração premiada, foram desenvolvidas medidas investigativas diversas, como a quebra do sigilo bancário, intercâmbio de informações com o COAF e os testemunhos de pessoas relacionadas aos fatos, tendo sido constatada a existência de fundados indícios do recebimento por José Serra de doações eleitorais não contabilizadas, repassadas por meio de operações financeiras e societárias simuladas, visando assim a ocultar a origem ilícita dos valores recebidos, cujo montante correspondeu à quantia de R$ 5 milhões", indicou o MP-SP em nota.
A Polícia Federal apontou ainda que a investigação identificou outros pagamentos, "em quantias também elevadas e efetuados por grandes empresas, uma delas do setor de nutrição e outra do ramo da construção civil, todos destinados a uma das empresas supostamente utilizadas pelo então candidato para a ocultação do recebimento das doações". "Tais fatos ocorreram também perto das eleições de 2014 e serão objeto de aprofundamento na fase ostensiva das investigações", afirmou a corporação.
De acordo com a PF, os investigados podem responder pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro.
No início do mês, o senador José Serra foi alvo de outra operação da Polícia Federal, a Operação Revoada, para investigar suposto esquema de lavagem de dinheiro que teria beneficiado o ex-governador de São Paulo e atual senador. Simultaneamente, o Ministério Público Federal denunciou o tucano e sua filha, Verônica Allende Serra, pela prática de lavagem de dinheiro transnacional. Segundo a denúncia, Serra, entre 2006 e 2007, "valeu-se de seu cargo e de sua influência política para receber, da Odebrecht, pagamentos indevidos em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul".
Segundo a Procuradoria, Serra solicitou, no fim de 2006, propina de R$ 4,5 milhões da Odebrecht e indicou que gostaria de receber o montante não no Brasil, mas no exterior, por meio de offshore disponibilizada pelo empresário José Amaro Pinto Ramos, "com quem mantinha amizade há anos". Nas planilhas do famoso Setor de Operações Estruturadas, Serra tinha o codinome "vizinho", em referência ao fato de o ex-governador morar próximo de seu principal contato na companhia, Pedro Novis.
A denúncia aponta ainda que a Odebrecht pagou R$ 27,8 milhões ao ex-governador, em valores não atualizados. O montante diz respeito aos R$ 4,5 milhões pagos entre 2006 e 2007, "supostamente para fazer frente a gastos de suas campanhas ao governo do Estado de São Paulo, e ainda a R$ 23,3 milhões, entre 2009 e 2010, em contrapartida à liberação de créditos junto à Dersa.
A Polícia Federal destacou que a ofensiva realizada na manhã desta terça trata-se da terceira fase da operação Lava Jato desde o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal em 2019, que reafirmou a competência da Justiça Eleitoral para avaliar os crimes conexos aos crimes eleitorais.
A primeira fase da operação nessa linha foi realizada no último dia 14 e mirou o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade) por suposto caixa 2 de R$ 1,7 milhão e lavagem de dinheiro. Já a segunda etapa da "Lava Jato Eleitoral" em São Paulo resultou no indiciamento do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, o ex-assessor da Secretaria de Planejamento do tucano, Sebastião Eduardo Alves de Castro e o ex-tesoureiro de campanha Marcos Monteiro por corrupção passiva, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro.
A reportagem fez contato com a criminalista Flávia Rahal, que defende o senador José Serra. O espaço está aberto para manifestação da defesa.
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