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Pros cita Flávio Bolsonaro em áudio que indica negociação por sentença

Pros cita Flávio Bolsonaro em áudio que indica negociação por sentença

Chefe do partido menciona encontro quando presidente buscava legenda. Mensagens também citam Karina Kufa, advogada da família Bolsonaro

Publicado em 13 de julho de 2022 às 12:15

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Os áudios e mensagens que apontam uma negociação para compra de sentença favorável pelo grupo que atualmente comanda o Pros (Partido Republicano da Ordem Social) fazem menção aos nomes de Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente, e Karina Kufa, advogada da família Bolsonaro.

O jornal Folha de S.Paulo revelou na terça-feira (12) mensagens que indicam uma tentativa da cúpula do partido de compra de sentença no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, órgão da segunda instância.

O material obtido pela reportagem, porém, sugere que a tentativa de vitória judicial fora das previsões legais — por meio de influência política e pessoal, incluindo menções a pagamentos em dinheiro — tiveram início ainda quando o litígio entre as duas alas da sigla estava na primeira instância, em 2021.

Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em pronunciamento no plenário do Senado Federal
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em pronunciamento no plenário do Senado Federal. (Waldemir Barreto/ Agência Senado)

É nesse contexto anterior em que os nomes do filho do presidente e da advogada são citados. Nem Flávio nem Kufa figuram como interlocutores desses diálogos.

Em um áudio de WhatsApp do segundo semestre de 2021, o hoje presidente do Pros, Marcus Holanda, fala para um correligionário sobre as chances de eles tomarem o comando do partido, à época ainda na mão do fundador, Eurípedes Jr.

Holanda liderava uma dissidência e tentava fazer validar na Justiça convenção extraordinária que havia aprovador o afastamento de Eurípedes.

No áudio ao aliado, o hoje presidente do Pros afirma haver chances reais de eles conseguirem uma vitória judicial, mas não pelo mérito em si.

"A Karina Kufa me levou na reunião e sentou eu, ela e o Flávio Bolsonaro, então eles têm interesse. (...) Além disso, tem um contrato que assinei lá, absurdo lá, com ela. Então vão ganhar dinheiro e vão ganhar força política e espaço político. Então eles têm interesse, total. Por isso, eles estão com a gente, senão não estariam. E ainda tem a desembargadora federal [não cita o nome], muita gente", diz Marcus.

À época, Jair Bolsonaro estava à procura de um partido após ver fracassada sua tentativa de montar a Aliança pelo Brasil. Depois de tratativas com várias siglas, ele acabou fechando com o PL em novembro.

A intenção demonstrada pela ala dissidente do Pros era, ao conseguir o comando da legenda, negociar a possível filiação da família Bolsonaro.

Ainda no áudio, Marcus faz menção à advogada Renata Gerusa, filha da juíza federal do TRF-1 Maria do Carmo Cardoso, amiga de Flávio Bolsonaro. Gerusa chegou a atuar formalmente no litígio representando o hoje presidente do Pros e seus aliados.

"Tem chances reais porque eles têm interesses, né? O marido da dra. [Renata Gerusa], é o deputado lá, o Kassyo [Kassyo Ramos], que tem interesse lá no Amapá", afirma.

Procurado pela reportagem, Flávio Bolsonaro não se manifestou.

Karina Kufa confirmou a reunião entre ela, Flávio e Marcus Holanda, mas disse que os entendimentos políticos sobre a filiação de Bolsonaro não prosperaram, que não houve assinatura de contrato ou qualquer pagamento, e que não houve conversa acerca de influência indevida sobre magistrados.

"Desconheço qualquer negociação. Não tenho qualquer vínculo com o Pros, aliás, nunca tive. Em 2020 e 2021 falei com diversos partidos, mas todas as conversas foram dentro da normalidade", disse Kufa.

De acordo com a advogada, Holanda relatou a ela e Flávio que "ele iria ser dono do partido" e queria que Bolsonaro se filiasse à legenda.

"O caso dele era bom mesmo, tecnicamente ele tinha condições de ganhar, foi isso que ele apresentou para a gente", afirmou ela, acrescentando que as conversas terminaram aí.

Renata Gerusa disse que Kufa foi quem a indicou para atuar no caso e que não recebeu solicitações para trabalho fora dos limites republicanos.

"Apenas nos foi solicitado uma brevidade na solução da demanda, assim como a maioria dos clientes. Creio que talvez tenha sido esse o motivo da revogação dos meus poderes. O processo tem trâmite próprio e, apesar de nosso trabalho atuante, não depende de nós, advogados."

A advogada foi desconstituída às vésperas dos julgamentos das apelações no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, ocasião em que Holanda e seus aliados conseguiram a primeira decisão favorável, em julgamento concluído em março, o que os levou ao comando da legenda.

Conforme o jornal Folha de S.Paulo mostrou, mensagens e áudios sugerem ter havido negociação para compra de um voto favorável do desembargador Diaulas Costa Ribeiro. O desembargador, que não figura como interlocutor em nenhuma dessas mensagens, nega que tenha chegado a ele qualquer proposta criminosa.

GRUPO FALA EM AMIZADE COM SOGRA DO JUIZ

Em outros áudios do segundo semestre, o hoje secretário-geral do Pros, Edmílson Boa Morte, também faz menções a Kufa, Flávio e os Bolsonaro.

"A turma do Bolsonaro estava trabalhando na segunda instância, você lembra? Com o desembargador Mario-Zam [Belmiro, do TJ-DF, ex-relator dos casos relativo ao litígio do Pros], que teve a reunião na casa da desembargadora [não cita o nome]", diz em um deles.

Em outro, relata a um ex-correligionário que, naquele momento, Marcus Holanda estava em reunião "com a turma do Bolsonaro e os advogados e os desembargadores".

Em um terceiro, diz que só Renata Gerusa irá atuar formalmente no caso para "não dar na cara". Segundo ele, Gerusa "representa a Karina Kufa, todo mundo".

"Nesse processo apenas eu e os advogados do meu escritório atuamos", disse Gerusa à Folha de S.Paulo.

Também à reportagem, Boa Morte disse que não conhece Kufa nem Flávio, e classificou os áudios que ele mesmo mandou de "falácia".

"Só falácia, pois o Roberto [Parillo, ex-dirigente do Pros-SP, hoje rompido com o ex-aliado] todo dia enchia minha paciência com as mesmas perguntas. Acredito que, nesse contexto, ele falou algo e eu só falei para agradar um amigo que estava tentando arrumar ajuda para contratar advogados", disse.

"Não me lembro de tudo porque ele me ligava uma hora da manhã todos os dias e eu atendia com muito sono."

Em outro áudio da época, Marcus Holando fala em ter amizade com a sogra do juiz, em possível referência a Hilmar Castelo Branco, titular do caso na primeira instância.

Apesar do otimismo manifestado nos áudios pelo presidente do Pros, o magistrado decidiu de forma contrária aos interesses da ala que hoje comanda o partido.

"A situação tá excelente A gente nunca esteve tão perto. (...). Estamos com amizade com a sogra do juiz. Nós temos lá o dr. Tulio [Tulio Arantes, advogado], que já conversou com uns três desembargadores, já tratou com todo mundo. A gente nunca esteve tão próximo assim. Então, com certeza, vai sair. O dr. Wellington [Wellington Medeiros, advogado, ex-desembargador] está superempenhado."

Tulio Arantes nega que tenha conversado com desembargadores sobre esse tema, dizendo que a conversa inicial para que ele assumisse o caso, em parceria com outro escritório, não prosperou.

Em mensagem de texto que foi encaminhada pelo telefone de Boa Morte, há menção a perguntas que teriam sido enviadas ao Pros por meio da sogra do magistrado, para "embasar o juiz em sua decisão", além de suposta pressão do advogado e ex-desembargador Wellington Medeiros para haver pagamento.

Boa Morte diz que desconhece as mensagens. Wellington Medeiros nega ter recebido qualquer pagamento ou ter intermediado contato entre o Pros e a familiar do juiz.

"Jamais! Não recebi nada. Nenhum centavo. E não me foi feito nenhum pedido. As tratativas não vingaram. Não chegamos a formalizar nada. Logo, não houve nenhum pagamento", disse, se referindo a encontro para que seu escritório assumisse a causa. Ele ressalta que a decisão de primeiro grau foi contrária ao pleito de Marcus Holanda.

O desembargador Mario-Zam Bellmiro, do TJ-DF, e o juiz Hilmar Castelo Branco, da 21ª Vara Cível de Brasília, cujas decisões foram contrárias a Marcus Holanda e seus aliados, não se manifestaram.

O presidente do Pros, que nega ter havido negociação para compra de sentença, não se pronunciou sobre os áudios e a mensagem de texto.

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