Duas semanas depois de perder o apoio do PP, um de seus principais aliados, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), contra-atacou nesta quarta-feira (30) e levou para a sua base aliada o MDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima. O partido fazia parte do arco de alianças do ex-prefeito de Salvador e pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil) e agora vai engrossar a coligação para a candidatura do secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues, ao Governo da Bahia.
Geddel, que está em liberdade condicional desde fevereiro na condenação por lavagem de dinheiro no caso do bunker com R$ 51 milhões em Salvador, foi cortejado nas últimas semanas tanto pelo governador Rui Costa quanto pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto. Geddel não possui cargo de comando no MDB, mas segue como figura influente nas decisões do partido. Ele estava presente no anúncio da parceria na tarde desta quarta na sede do MDB da Bahia, mas ficou longe dos holofotes.
O senador Jaques Wagner (PT) também participou do ato, assim como o ex-deputado federal Luiz Argôlo, que está em liberdade condicional da pena que cumpre da condenação na Operação Lava Jato.
Abordado por jornalistas, Geddel afirmou que não estava participando do evento: "Eu sou curioso, vim aqui só para ver o movimento. Tenho uma reunião aqui em cima", disse, enquanto seguia para o elevador do prédio comercial onde fica a sede do MDB baiano.
O presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Geraldo Júnior (MDB), será indicado candidato a vice-governador. A chapa, que ainda tem o senador Otto Alencar (PSD) como candidato ao Senado, será apresentada lançada nesta quinta-feira (31) em ato com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Vamos ter um Geraldo aqui na vice-governadoria. Os dois vices serão Geraldo [Júnior e Alckmin], o vice-presidente da República e vice-governador. Os dois serão Geraldo nessa parceria com Lula", disse o governador Rui Costa nesta quarta em entrevista à TV Itapoan, afiliada da RecordTV.
A reviravolta dá novo gás à candidatura petista na Bahia, que enfrentou uma série de atritos internos e sofreu baixas nas últimas semanas. A principal delas foi a do vice-governador João Leão (PP), que rompeu com o PT após uma aliança de 13 anos e será candidato ao Senado na chapa de ACM Neto. Os petistas ainda devem receber o reforço do PV e do Solidariedade, partidos que marcharam com a oposição nas últimas duas eleições.
Entre os governistas, a avaliação é que as novas alianças devem dar maior equilíbrio na balança da disputa eleitoral na Bahia contra as candidaturas de ACM Neto, encarado como favorito na disputa, e do ministro da Cidadania, João Roma (PL), que entra na disputa com o aval do presidente Jair Bolsonaro (PL). "Foi uma conquista importante. O MDB ainda é um partido muito forte na Bahia", afirma Luiz Caetano, secretário de Relações Institucionais do governo Rui Costa.
Ele ainda destacou a escolha do vereador Geraldo Júnior como candidato a vice-governador na chapa, destacando que este é um político bem articulado e com força na capital baiana. Geraldo Júnior é vereador há 11 anos em Salvador e foi aliado do de ACM Neto durante os oito anos de sua gestão na prefeitura, entre 2013 e 2020, mantendo a parceria com o atual prefeito Bruno Reis (União Brasil). É presidente da Câmara desde 2019.
Sobre a parceria com os Vieira Lima mesmo após as condenações na Justiça, Luiz Caetano diz que não há constrangimento e que a aliança é resultado da relação institucional entre os partidos.
A base petista enfrentou problemas em série ao longo do último mês na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país que é considerado crucial para criar uma frente de votos para o ex-presidente Lula na disputa pelo Planalto.
Em um processo cercado por atritos e rachas internos, o senador Jaques Wagner (PT) desistiu de concorrer ao governo do estado. O senador Otto Alencar (PSD) também não topou a empreitada após resistências entre deputados e militante do próprio PT. A solução foi encontrar uma saída caseira e a escolha recaiu sobre Jerônimo Rodrigues.
A aliança com o MDB representa uma reaproximação entre os partidos após 13 anos em campos opostos. Principal parceiro do PT na primeira eleição de Jaques Wagner em 2006, o partido rompeu com o governo em 2009 para lançar a candidatura de Geddel Vieira Lima ao governo do estado. Na época, o MDB era o maior partido da Bahia com cerca de 100 prefeituras.
Após a derrota, o MDB alinhou-se à oposição nas duas eleições seguintes, mas perdeu força após o ocaso político de Geddel, que em 2017 foi preso após a Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões em um apartamento ligado a ele em Salvador. Geddel foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 14 anos de prisão e ficou quatro anos preso em regime fechado. Foi para o semiaberto em setembro de 2021 e desde fevereiro deste ano está em liberdade condicional. A legenda é atualmente liderada pelo ex-deputado Lúcio Vieira Lima, também condenado por lavagem de dinheiro no caso do bunker em Salvador.
Com a adesão ao governo petista, o partido deve passar a ocupar parte dos cargos deixados por aliados que romperam com Rui Costa. A articulação ainda incluiu uma manobra que garantiu a reeleição do vereador Geraldo Júnior para a presidência da Câmara para o biênio 2023-2024.
A votação foi feita de afogadilho nesta terça-feira (29) após alteração relâmpago do Regimento Interno e da Lei Orgânica do Legislativo Municipal. A votação teve a legalidade contestada por parte dos vereadores.
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