O policial militar aposentado Fabrício Queiroz, preso nesta quinta-feira (18), pagou com dinheiro vivo uma mensalidade das filhas do senador Flávio Bolsonaro, de quem era assessor.
O pagamento é uma das bases do pedido de prisão preventiva solicitado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, autorizado pelo juiz Flávio Itabaiana.
Os investigadores identificaram que Queiroz realizou pagamento em espécie na caixa de um banco no mesmo horário, data e valor em que o boleto da escola das filhas do senador foi quitado. A informação foi divulgada pelo site do El País e confirmado pela reportagem.
O pagamento ocorreu em outubro de 2018, um mês antes de Queiroz ser demitido. Os promotores do Gaecc (Grupo de Atuação Especializada do Combate à Corrupção) obtiveram imagens do momento em que o ex-assessor quitava os boletos.
Os investigadores afirmam que o dinheiro vivo usado por Queiroz nessa e em outras transações é fruto da "rachadinha" investigada no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa. A suspeita é que os funcionários do senador repassavam parte do salário ao PM aposentado, apontado como operador financeiro do esquema.
Os investigadores desconfiam que parte do dinheiro vivo tinha como destino o senador. Eles apuram o uso de recursos em espécie na compra de dois apartamentos em Copacabana, na aquisição de mobiliário para um apartamento na Barra da Tijuca e em depósitos na loja de chocolate de Flávio.
O senador também pagou em dinheiro vivo uma dívida junto a uma corretora em razão de investimentos na Bolsa de Valores. Quitou ainda em espécie o empréstimo feito pelo policial militar Diego Ambrósio, que quitou uma das parcelas da compra de um imóvel para Flávio.
Essas transações, para os promotores, eram uma forma de lavagem do dinheiro obtido com a "rachadinha" -prática em que funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários.
Flávio é investigado desde janeiro de 2018 sob a suspeita de recolher parte do salário de seus subordinados na Assembleia do Rio de 2007 a 2018. Os crimes em apuração são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.
A apuração relacionada ao senador começou após relatório do antigo Coaf, hoje ligado ao Banco Central, indicar movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor e amigo do presidente Jair Bolsonaro.
Além do volume movimentado, de R$ 1,2 milhão em um ano, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia.
Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem conhecimento do então deputado estadual. A sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores.
Queiroz, que foi nomeado em 2007 e deixou o gabinete de Flávio no dia 15 de outubro de 2018, é amigo de longa data do atual presidente. Entre as movimentações milionárias que chamaram a atenção na conta de Queiroz está um cheque de R$ 24 mil repassado à primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Segundo o presidente, esse montante chegava a R$ 40 mil e o dinheiro se destinava a ele. Essa dívida não foi declarada no Imposto de Renda. Bolsonaro afirmou ainda que os recursos foram para a conta de Michelle porque ele não tem "tempo de sair".
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