> >
Quem é a jovem brasileira que ajudou a reviver o som da Catedral de Notre-Dame

Quem é a jovem brasileira que ajudou a reviver o som da Catedral de Notre-Dame

Luciana Lemes, de 29 anos, participou da restauração do instrumento, após incêndio que destruiu o monumento francês, reinaugurado neste final de semana

Publicado em 7 de dezembro de 2024 às 19:50

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura

Quando a primeira nota do órgão da Catedral de Notre-Dame ecoar novamente pelos arcos góticos de Paris neste fim de semana, após uma restauração que devolveu o monumento devastado por um incêndio à toda sua glória, Luciana Lemes vai ouvir satisfeita. A jovem de 29 anos nascida em Lorena, no Vale do Paraíba, é uma das responsáveis pela restauração e afinação do instrumento construído por Aristide Cavaillé-Coll (1811-1899) em 1868.

A história de Luciana com os órgãos de tubos começou ainda na infância, quando participava do coro da Catedral da sua cidade natal. Foi ali que ouviu pela primeira vez a história do órgão da igreja, um órgão pequeno, construído pela mesma pessoa que tinha feito o de Notre-Dame.

Ela conta que um novo organista tinha começado a usar o instrumento e iniciado uma movimentação para que o instrumento fosse restaurado. "Tudo aquilo era muito diferente, ninguém sabia direito do que se tratava, mas todos tentavam conscientizar da importância de restaurar aquele instrumento", lembra ela. Como o instrumento tinha ido parar na cidade, ninguém sabia bem.

Luciana Lemes ao lado do órgão de Notre-Dame, durante a restauração do instrumento
Luciana Lemes ao lado do órgão de Notre-Dame, durante a restauração do instrumento. (Acervo pessoal)

O projeto de restauro foi engavetado depois da morte do organista. Inconformada, Luciana começou a estudar o assunto, procurar pessoas, livros e documentos que pudessem ajudá-la a entender tudo. "Como podia um patrimônio assim jogado às traças?", se questionava.

Foi estudar música e, na universidade, aos 19 anos, decidiu que o Cavaillé-Coll de Lorena seria o tema de seu trabalho de conclusão de curso. "Procurando pessoas ao redor do mundo que pudessem me ajudar, encontrei a organista Shelly Moorman, professora de uma universidade na Pensilvânia, nos EUA", contou ao Estadão.

Shelly Moorman não só deu informações para a jovem Luciana, como a convidou para um estágio em uma fábrica especializada no restauro de órgãos. "Ali eu pude entender que poderia adquirir conhecimento necessário para poder ajudar o Brasil", diz.

Depois do estágio, ela seguiu para a Virgínia, também nos EUA, onde concluiu a sua formação como tubeira, a pessoa que constrói e restaura os tubos dos órgãos, e harmonista, responsável pela afinação do instrumento. "Finalmente, tinha um currículo interessante para tentar ir à França", conta.

O projeto Notre-Dame

No final de 2020, mandou currículo para três empresas. Em 2021, ela foi contratada pela Quoirin, empresa especializada em órgãos, como tubeira e aprendiz de harmonista. "Só não sabia que a empresa seria a responsável pela restauração do grande órgão da Notre-Dame", lembra feliz.

Luciana Lemes trabalha nos tubos do órgão da catedral de Notre-Dame, em Paris
Luciana Lemes trabalha nos tubos do órgão da catedral de Notre-Dame, em Paris. (Acervo pessoal)

O instrumento, que sobreviveu ao incêndio de 2019, precisava de reparos complexos para voltar a soar. Luciana participou de etapas decisivas do trabalho, como a retirada dos tubos danificados, a fabricação de novos componentes e a reintegração das peças restauradas ao instrumento principal.

Trabalhou também na afinação do instrumento. Foram semanas de afinação, um trabalho que envolveu duas equipes - dois organeiros afinando durante o dia e outros dois à noite. "Foi uma sensação surreal estar lá, compartilhando o dia a dia com outros operários, pintores, restauradores, carpinteiros, cordistas, etc", conta.

Este vídeo pode te interessar

Além de Lorena, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Curitiba, Campinas, Jundiaí e Itu receberam órgãos Cavaillé-Colls no Brasil. Luciana diz que agora está pronta para retornar ao país e ajudar a restaurar os Cavaillé-Colls que restam.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais