Com acesso livre ao Planalto nos últimos quatro anos, Mauro Cesar Barbosa Cid, o Mauro Cid ou "coronel Cid", se consolidou como ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Envolvido em polêmicas com o youtuber Allan dos Santos, com o caso das joias — relevado pelo Estadão — e até mesmo seria o suposto pivô da demissão de um general do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o tenente-coronel do Exército foi preso na manhã desta quarta-feira (3), no bojo de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.
Mauro Cid Cesar Barbosa é tenente-coronel do Exército. A ligação dele com o ex-presidente, no entanto, é mais antiga do que a própria carreira militar. Ele é filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de Jair Bolsonaro no curso de formação de oficiais. Ambos se formaram na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Durante o governo Bolsonaro, o coronel teve livre acesso ao gabinete presidencial, ao Palácio da Alvorada e até mesmo ao quarto ocupado pelo ex-chefe do Executivo nos hospitais, após cirurgias.
Cid, como também é conhecido, chegou a ser nomeado para comandar o 1° Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia (GO), depois dos quatro anos trabalhando próximo de Bolsonaro. Já no início do governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT), a nomeação causou mal-estar entre o presidente e as Forças Armadas e foi um dos motivos. O tenente-coronel desistiu de assumir o posto.
A atuação do discreto assessor presidencial ganhou os holofotes, porém, depois que vieram à tona suas conversas no WhatsApp com o blogueiro Allan dos Santos, do Terça Livre, no inquérito aberto para investigar a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, como revelou o Estadão. Em depoimento prestado, Mauro Cid declarou à PF que não se recordava de "ter estabelecido" conversas com Allan dos Santos sobre a "necessidade de intervenção das Forças Armadas" e negou apoiar a ideia.
Cid também esteve envolvido no caso das joias avaliadas em R$ 16,5 milhões que Bolsonaro trouxe ilegalmente para o Brasil. Como mostrou o Estadão, o ajudante de ordens e "faz-tudo" do ex-presidente foi o primeiro a ser escalado para resgatar pessoalmente joias e relógio de diamantes. Um ofício obtido pelo Estadão revela que Cid escalou ele mesmo para a missão. O documento enviado à Receita informando que um auxiliar do presidente iria pegar as joias era assinado pelo próprio Cid. O coronel era o oficial mais próximo de Bolsonaro e acompanhava o presidente o tempo todo.
O tenente-coronel do Exército também foi quem pediu, com "urgência", avião da FAB e diárias para a ida do sargento Jairo Moreira da Silva a São Paulo, três dias antes do fim do mandato de Bolsonaro, para buscar as joias apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos. Esse fato foi considerado como uma espécie de "impressão digital" de Bolsonaro na tentativa de liberar as peças.
Além do Cid, a Operação Venire pendeu mais três outros nomes: o secretário de Cultura e Turismo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, o policial militar que atuou na segurança presidencial, Max Guilherme, e o militar do Exército e também segurança pessoal de Bolsonaro, Sérgio Cordeiro.
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