O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta terça-feira (23) que a Polícia Federal cumpra mandados de busca e apreensão em endereços de oito empresários bolsonaristas que compartilharam mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp.
Os mandados são cumpridos em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará.
Mensagens reveladas pelo site "Metrópoles" mostram que empresários apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Lula (PT), também candidato à Presidência, ganhasse as eleições em outubro deste ano.
Apoiador de Bolsonaro declarado desde 2018, Luciano Hang é um dos fundadores da Havan, rede de lojas de departamento. De acordo com a Forbes 2021, ele é uma das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna de R$ 15 bilhões. Também no ano passado, Hang ganhou repercussão nacional ao prestar depoimento na CPI da Covid. No final do relatório, ele foi um dos 68 indiciados entre pessoas físicas e empresas. Em nota, Hang afirmou que a sua mensagem no grupo de WhatsApp foi a seguinte: "Mais quatro anos de Bolsonaro, mais oito de Tarcísio e aí não terá mais espaço para esses vagabundos". "Eu nunca falei de STF (Supremo Tribunal Federal) ou de golpe", afirmou. "Eu faço parte de um grupo de 250 empresários, de diversas correntes políticas, e cada um tem o seu ponto de vista. Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião."
O dono da rede de restaurantes Coco Bambu, famosa pelos pratos com frutos do mar, respondeu a mensagem de Koury com um emoji de um rapaz aplaudindo. Barreira é um empresário do ramo da gastronomia desde 1989, quando inaugurou o Dom Pastel, em Fortaleza. Atualmente, à frente do Grupo Coco Bambu, faturou mais de R$ 1 bilhão em 2021. Declaradamente bolsonarista, ele se manteve aliado ao presidente durante toda a pandemia quando criticou o isolamento social e apoiou o tratamento precoce, alinhado ao uso da cloroquina - sem eficácia comprovada. O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, defendeu o empresário. "Eu conheço o Afrânio e estive com ele várias vezes. Nunca vi uma fala dele nessa direção. É claro que ele é bolsonarista, ele tem proximidade com o presidente. Mas nessa questão de associar ele a golpe, eu, pessoalmente, não prospero", afirmou.
Proprietário do Barra World Shopping, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, José Koury teria sido o autor da mensagem "Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo." O estabelecimento de Koury é um shopping temático que reproduz a arquitetura dos principais monumentos ao redor do mundo, tais como a Torre Eiffel, de Paris, e as Pirâmides do Egito. O shopping na capital fluminense tem cerca de 400 lojas. Na matéria original, Koury disse não defender a ditadura, mas que "talvez" preferisse o golpe. “Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país”, afirmou o empresário.
Wrobel é dono da construtora W3, uma empresa de pequeno porte focada em imóveis comerciais e residenciais de alto padrão no Rio de Janeiro. O empresário não tinha aparições na mídia até o grupo de WhatsApp ser revelado. Ali, Wrobel teria começado a discussão que deu origem às mensagens golpistas quando questionou se o STF teria coragem de fraudar eleições após desfile militar na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. O ato havia sido anunciado por Bolsonaro dias antes. "Nós queremos, pela primeira vez, inovar no Rio de Janeiro. (...) Às 16 horas do dia 7 de Setembro, pela primeira vez, as nossas Forças Armadas e as nossas irmãs, forças auxiliares, estarão desfilando na praia de Copacabana ao lado do nosso povo", disse durante convenção nacional do Republicanos. A reportagem não conseguiu contatar a empresa ou o empresário.
Peres, 82 anos, fundador e acionista da Multiplan, também está no grupo de WhatsApp. Ele teria afirmado, segundo reportagem do Metrópoles, que as pesquisas de intenção de voto são manipuladas e que o TSE tem ministros petistas. O empresário ainda colocou em dúvida a lisura das últimas eleições, repetindo um discurso de Bolsonaro que é refutado por especialistas. A assessoria da empresa ainda não se manifestou.
Luiz André Tissot, 66 anos, é presidente do grupo gaúcho Sierra Móveis, especializado em mobiliário de luxo. A sede da empresa fica em Gramado, na serra gaúcha, onde se concentraram as buscas da Polícia Federal. De acordo com o jornal Zero Hora, em 2018, o grupo foi denunciado pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) por tentativa de coação eleitoral, depois de ter enviado carta aos funcionários manifestando preocupação com o rumo da eleição presidencial, além de apontar motivos para o voto em Jair Bolsonaro. A Justiça acatou a denúncia do MPT e determinou que o grupo enviasse um novo comunicado por escrito aos funcionários informando que eles tinham o direito de escolher livremente os seus candidatos. Procurada pela reportagem, a empresa afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não vai se pronunciar sobre o assunto, assim como Tissot.
Dono da marca de roupas de surfe, ele teria disparado a mensagem "O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e, ao mesmo tempo, deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top, e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro. (...) Golpe foi soltar o presidiário! Golpe é o 'Supremo' agir fora da Constituição! Golpe é a velha mídia só falar m...". A Mormaii tem mais de 30 franquias, 15 estúdios fitness e 100 atletas, segundo o site oficial da empresa. Em sua defesa, Morongo disse que não apoia atos ilegítimos.
O empreiteiro Meyer Nigri, fundador da Tecnisa é um dos empresários mais influentes junto ao governo federal. No dia 8 de agosto, de acordo com o Metrópoles, ele teria encaminhado um texto com diversos ataques ao STF. “Leitura obrigatória”, dizia a mensagem, que não foi escrita por ele. “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil.” Em nota, os advogados de Nigri disseram que o empresário, "mesmo sem ter tido acesso aos autos do inquérito, como era seu direito, concordou em ser ouvido nesta manhã para colaborar com as investigações". E que ele ainda "reafirmou sua firme crença na democracia e seu respeito incondicional aos poderes constituídos da República."
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