A primeira morte confirmada em decorrência do novo coronavírus no Brasil, cujo paciente não aparecia entre os casos confirmados ou suspeitos da doença, acendeu um alerta: está ocorrendo subnotificação de registros?
Segundo especialistas, provavelmente sim, mas muito em razão da demora da confirmação da doença por meio dos testes diagnósticos e de protocolos que agora começam a ser mudados.
Desde a noite desta terça (17), as notificações de casos suspeitos para o Ministério da Saúde passaram a ser feitas automaticamente pelos estados.
Antes, eles precisavam ser submetidos a uma análise prévia para saber se atendiam aos critérios clínicos da OMS.
"Tratar os casos individualmente tinham eficácia no início. [Com o início da transmissão comunitária], vamos para o critério automático de caso suspeito e depois se faz a testagem para a confirmação ou descarte", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
A doença é de notificação imediata, desde que haja a confirmação do teste diagnóstico. Quando sai o resultado, o laboratório avisa o hospital. Laboratório e hospital precisam acionar a vigilância sanitária estadual, que comunica o ministério.
No caso do paciente de 62 anos, que morreu na UTI do Hospital Sancta Maggiore Paraíso, na zona sul de São Paulo, a morte ocorreu antes do resultado do teste confirmado a infecção por coronavírus, de acordo com o hospital.
O doente, que tinha histórico de diabetes e hipertensão, começou a apresentar sintomas no dia 10. No dia 14, foi para a UTI e morreu na segunda (16).
Para David Uip, infectologista que comanda o comitê paulista de enfrentamento da doença, o estado não tem como saber desses casos. "Não tem como saber, a prefeitura não estava notificada e nós também não."
Segundo o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, os principais laboratórios que fazem o teste diagnósticos decidiram que, a partir desta quarta (18), só vão fazer o exame para os pacientes internados com suspeita de coronavírus.
"Até agora, nós fazíamos só com material colhido em hospital, mas tinha gente que não estava internada. Virou uma insanidade, um número de exames absurdo", relata.
Só o grupo Fleury chegou a fazer 2.000 testes por dia. Com a nova regra, esse número deve cair para em torno de 500. "A gente não consegue fazer 2.000 exames de biologia molecular num dia. Nenhum lugar do mundo faz isso", explica Granato.
Segundo ele, esses testes não são feitos para serem usados em grande volume. "Temos que ter cuidado dentro do laboratório para que o material de um paciente não contamine o do outro."
Mas, para o infectologista, o resultado do teste não interfere no tipo de tratamento que o paciente receberá no hospital, já que não existe uma terapia específica para o coronavírus.
"A atenção é baseada mais no quadro clínico do paciente, se vai precisar ou não ser entubado, se precisa de respirador, tudo isso independe do agente infectante. Se for influenza, não será diferente."
O Ministério da Saúde também defende que os testes diagnósticos só sejam feitos em pacientes graves, internados, uma vez que agora já existe transmissão comunitária do vírus no país.
Nos demais casos, considerados leves, será levado em conta o critério clínico epidemiológico. Por exemplo: o médico atendeu, viu que é paciente jovem e cuidou de pai com coronavírus e apresenta sintomas, já notifica como caso da doença.
Segundo João Gabbardo, secretário -executivo do ministério, será publicado um chamamento público para empresas que possam oferecer matéria-prima para a produção de testes para o diagnóstico do coronavírus.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta