Escolhido relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disparou críticas ao ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde), atacou o negacionismo durante a pandemia e afirmou que culpados existem e devem ser punidos "emblematicamente".
Renan Calheiros foi designado relator da comissão na manhã desta terça-feira (27) pelo presidente eleito, Omar Aziz (PSD-AM). A escolha se deu após um processo tumultuado, em que os aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegaram a obter uma liminar judicial contra sua indicação, que acabou derrubada posteriormente.
O senador alagoano foi escolhido após articulação dos senadores independentes e de oposição, que formam o grupo majoritário da CPI. O chamado G6 reforçou em reunião na noite de segunda-feira (26) o acordo para que Aziz fosse o presidente, e Renan, o relator.
O relator da comissão é o responsável por construir a "narrativa" dos trabalhos. Seu relatório final será um compilado das apurações e pode, por exemplo, recomendar indiciamentos de autoridades. O texto, no entanto, precisa ser aprovado pelos membros da CPI.
Apesar de se declarar imparcial, o senador alagoano fez um discurso duro e cheio de recados ao Palácio do Planalto. Disse que não se curvará a intimidações e sugeriu que as mortes na pandemia são crimes contra a humanidade, citando grandes ditadores internacionais que foram punidos na história.
"Quem fez e faz o certo não pode ser equiparado a quem errou. O erro não é atenuante, é própria tradução da morte. O país tem o direito de saber quem contribuiu para as milhares de mortes e eles devem ser punidos imediata e emblematicamente", afirmou o senador durante a reunião da comissão.
"Não foi o acaso ou flagelo divino que nos trouxe a este quadro. Há responsáveis, há culpados, por ação, omissão, desídia ou incompetência e eles serão responsabilizados. Essa será a resposta para nos reconectarmos com o planeta. Os crimes contra humanidade não prescrevem jamais e são transnacionais. Slobodan Milosevic e Augusto Pinochet são exemplos históricos. Façamos nossa parte".
Por outro lado, o senador alagoano, ex-presidente do Senado, disse que a CPI não será uma comissão parlamentar inquisitorial e sim de investigação. Nesse ponto, aproveitou para criticar a Operação Lava Jato, da qual foi alvo de investigação.
"A CPI, alojada em uma instituição secular e democrática, que é o Senado da República, tampouco será um cadafalso com sentenças pré-fixadas ou alvos selecionados", afirmou.
"Não somos discípulos de Deltan Dallagnol, nem de Sérgio Moro. Não arquitetaremos teses sem provas ou power points contra quem quer que seja. Não desenharemos o alvo para depois disparar a flecha. Não reeditaremos a República do Galeão", completou.
O senador disse que não haverá suspeição sobre o seu trabalho, apesar das acusações de parcialidade, por ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho. Um dos focos da CPI será a investigação dos repasses federais a estados e municípios.
Renan Calheiros também criticou os que se opuseram à CPI e, sem citar o presidente Jair Bolsonaro, aproveitou para criticar o negacionismo no enfrentamento da pandemia
"Os verdugos são inservíveis no Estado Democrático de Direito. Eles negaram apoio a esta CPI. Negaram, por todo os meios, a chance que ela fosse instaurada. Agora tentam negar que ela funcione com independência. O negacionismo em relação à pandemia ainda terá de ser investigado e provado. Mas o negacionismo em relação à CPI da Covid, já não resta a menor dúvida", afirmou.
"Entre a ciência e a crença, fico com a ciência; entre a vida e a morte, a vida eternamente; entre o conhecimento e obscurantismo; óbvio escolho o primeiro; entre a luz e as trevas; a luminosidade; entre a civilização e a barbárie, fico com a civilidade e entre a verdade e a mentira, lógico que a verdade sempre", completou.
Após a reunião da comissão, Renan foi questionado sobre a posição do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente. Ao criticar a realização da CPI, o senador havia argumentado que era preciso respeitar o distanciamento social entre os senadores, para evitar mortes.
"Precisamos comemorar a declaração de Flávio Bolsonaro. Acho que é a primeira vez que ele se preocupa com aglomeração. Significa que talvez ele esteja saindo do negacionismo e aderindo à ciência", afirmou.
Governistas
Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO) e Ciro Nogueira (PP-PI)
Demais
Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM)
Suplentes
Jader Barbalho (MDB-PA), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Angelo Coronel (PSD-BA), Marcos do Val (Podemos-ES), Zequinha Marinho (PSC-PA), Rogério Carvalho (PT-SE) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE)
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