O roteiro da live que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu nesta quinta-feira (27) tinha como um de seus pontos responder a uma pergunta que tomou conta das redes sociais nos últimos dias: por que a primeira-dama, Michelle, recebeu em sua conta R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Apesar disso, o presidente não tocou no assunto.
"Botar um ponto final na questão envolvendo Queiroz e Primeira Dama", escrito dessa forma, era o sétimo item do roteiro de Bolsonaro para a transmissão. O tópico ficou visível para quem assistiu o vídeo em alta resolução pelo canal do próprio presidente.
O tema seria abordado depois de "Esclarecimentos sobre o Renda Brasil" e antes de "Manipulações da Globo". Bolsonaro ignorou o primeiro item, abordou apenas a indefinição sobre o valor da prorrogação do auxílio emergencial e passou a criticar a TV Globo.
Os esclarecimentos sobre o caso envolvendo repasses de Queiroz para Michelle não foram dados, e o item foi rabiscado no roteiro, que foi jogado para longe do presidente, mas para perto da câmera.
No domingo (23), em Brasília, Bolsonaro ameaçou um jornalista quando indagado sobre os repasses de R$ 89 mil feitos à sua mulher, Michelle Bolsonaro, pelo policial militar aposentado Fabrício Queiroz, suspeito de comandar um esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. "A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?", disse o presidente da República.
Na quarta-feira (26), na cidade de Ipatinga (MG), ele voltou a atacar a imprensa.
"Com todo o respeito, não tem uma pergunta decente para fazer? Pelo amor de Deus", disse o presidente, ao ser questionado pela Folha de S.Paulo se falaria sobre os depósitos de R$ 89 mil na conta de Michelle.
Também na quarta, indagado por um repórter do jornal O Globo sobre os depósitos, Bolsonaro afirmou "deixa de ser otário, rapaz" e rebateu perguntando sobre os supostos repasses mensais feitos pelo doleiro Dario Messer à família Marinho, proprietária da Rede Globo.
Segundo a revista Veja, em depoimento no dia 24 de junho, Messer disse que realizou repasses de dólares em espécie aos Marinhos em várias ocasiões a partir dos anos 1990. A família nega qualquer irregularidade.
Amigo do presidente há 30 anos, Queiroz atuou como assessor de Flávio na Assembleia, quando o filho do presidente era deputado estadual. Queiroz está em prisão domiciliar e, assim como Flávio, é investigado sob suspeita dos crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Na segunda-feira (24), em conversa reservada relatada à Folha, o presidente reconheceu que exagerou na declaração, mas ele ainda não definiu se pedirá desculpas públicas. Ele tratou do assunto com ministros como Fábio Faria (Comunicações) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
Nas conversas, disse que não pretendia repetir nos próximos dias a retórica inflamada, já que, na avaliação dele, ela poderia prejudicar o anúncio de pautas positivas, como o Renda Brasil.
Também na segunda, o presidente divulgou em seu canal do YouTube um vídeo sem legendas usado por apoiadores para defender, de forma falsa, que o profissional de imprensa teria dito ao presidente "vamos visitar sua filha na cadeia". Esta frase, porém, não foi dita.
No vídeo, não consta a pergunta do repórter, mas é possível ouvir a voz de um homem não identificado que diz: "Vamos visitar nossa feirinha da Catedral?". Em seguida se escuta a resposta do presidente: "Vontade de encher sua boca com uma porrada, tá?".
O mesmo vídeo foi utilizado pelo portal bolsonarista Terra Brasil Notícias. O site, falsamente, apontou a fala desse homem não identificado como sendo a do repórter e indicou, também de forma falsa, que a pergunta tinha sido sobre a filha do mandatário.
Mais tarde, ainda na segunda-feira, o mesmo site publicou uma errata e reconheceu que, no vídeo, não aparecia nem a voz do repórter nem se a pergunta era sobre a filha de Bolsonaro.
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