O deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), candidato à Prefeitura de São Paulo, disse na manhã desta terça-feira (3) que a vacina contra o novo coronavírus deveria ser testada em quem já está doente, além de ser testado em crianças e idosos. A afirmação foi dada durante evento na Associação Paulista de Imprensa.
"A vacina está sendo testada em adultos sãos, nenhum com covid. Não está sendo testada em crianças, não está sendo testada nos idosos e não está sendo testada nos doentes. São as etapas por onde uma vacina deve passar. Isso não está acontecendo", afirmou. "Os efeitos colaterais imediatos a gente pode prever, mas os a longo prazo, não. Toda vacina tem que passar por esse processo. Eu quero muito, todos aqui querem uma vacina. Mas se ela é tão boa assim, mas se essa vacina é tão boa assim, vai lá, começa na China, aplicando nas pessoas", concluiu.
A afirmação vai contra o propósito de produzir um imunizante, substância que previne que pessoas contraiam a doença, segundo especialistas."Isso mostra o absoluto desconhecimento de como funciona um ensaio clínico", afirmou ao Estadão o médico infectologista Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, sobre a ideia de testar vacinas em pessoas que já têm a doença. De acordo com o especialista, os testes são sempre iniciados em adultos não idosos antes de passarem a incluir crianças e pessoas de idade. "Idosos vão perdendo a sua capacidade de resposta imunológica, um fenômeno conhecido há pelo menos um século", explicou Suleiman, sobre o motivo de testes em pessoas de idade ficarem para um segundo momento.
Em seu discurso, Russomanno disse ser contra fazer com que a população de São Paulo "seja cobaia", linha adotada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, cabo eleitoral do candidato do Republicanos. "Eu não sou negacionista não, pelo contrário. Quero a vacina o mais rápido possível, agora não quero que a população de São Paulo seja cobaia de nada", afirmou.
No mês passado, outra afirmação do candidato do Republicanos relacionada ao coronavírus causou polêmica. Russomanno sugeriu que a falta de banho deixa moradores de rua resistentes à covid-19.
O Estado de São Paulo é palco de uma polêmica sobre a vacina envolvendo Bolsonaro e seu rival político, o governador João Doria (PSDB), aliado do atual prefeito Bruno Covas (PSDB), que disputa a reeleição. A disputa entre ambos envolve o CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan e que aguarda análise de registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No último dia 21 de outbro, Bolsonaro afirmou, em entrevista à rádio Jovem Pan que não comprará a Coronavac mesmo se ela receber registro da Anvisa. O imunizante está na última etapa de testes clínicos no Brasil. Naquele mesmo dia, ele havia desautorizado o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e vetado a compra de 46 milhões de doses do produto pelo Ministério da Saúde.
De acordo com pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo divulgada na sexta-feira (30), dois terços dos paulistanos discordam do veto do presidente.
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