SÃO PAULO - A Polícia Federal encontrou mensagens nos celulares do tenente-coronel Mauro Cid e de outros investigados que mostram que pelo menos seis oficiais-generais das Forças Armadas discutiram com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a edição de um decreto golpista contra a eleição de Lula (PT).
Os citados no pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) para a realização de buscas e prisões são: general Braga Netto (candidato a vice-presidente de Bolsonaro), general Estevam Theophilo (ex-chefe do Comando de Operações Terrestres), general Freire Gomes (ex-comandante do Exército), general Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha).
O general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira foi chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército até 1º de dezembro de 2023, dia em que realizou cerimônia para ir à reserva remunerada da Força.
O general da reserva do Exército Luiz Eduardo Rocha Paiva – colega de turma e amigo do ex-comandante Villas Bôas e tido como uma espécie de formulador intelectual entre seus pares- publicou no Facebook, em julho de 2022, um artigo prevendo "a ruína moral da nação e das instituições" em caso de vitória de Lula (PT) nas eleições de outubro seguinte.
O texto foi compartilhado pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Indagado a respeito, o general afirmou: "O texto é muito bom", e seu autor "é uma das maiores inteligências da história do Exército".
Saiba mais sobre generais atingidos pela operação da PF:
Alvo da operação deflagrada nesta quinta (8) pela Polícia Federal, Paulo Sérgio é um exemplo cristalino de como altos oficiais das Forças Armadas atuaram politicamente pelo bolsonarismo.
Quando passou a agir como militante, o general estava na reserva, mas seu cargo imediatamente anterior foi o de comandante do Exército – foi nesta condição, aliás, que isentou o general Eduardo Pazuello de punição por ter subido a um palanque junto com Bolsonaro. A omissão é tida como a maior afronta à hierarquia e à disciplina da história recente do Exército.
Como ministro da Defesa, Paulo Sérgio foi um dos líderes da cruzada bolsonarista contra o sistema eletrônico de votação, formulando questionamentos por vezes disparatados e colocando em dúvida reiteradas vezes a segurança das urnas eletrônicas.
Paulo Sérgio é um dos cinco oficiais-generais de quatro estrelas – o topo da carreira militar – atingidos pela operação da PF. Os outros são os generais Augusto Heleno Ribeiro, Walter Souza Braga Neto, Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira – os três do Exército – e o almirante Almir Garnier dos Santos, ex-comandante da Marinha.
Augusto Heleno é o que esteve ao lado de Bolsonaro desde o começo do seu projeto de se candidatar a presidente em 2018. Eleito, o capitão reformado o nomeou ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). No cargo, Heleno foi um militante fervoroso, emitindo notas com ameaças de golpe e pondo lenha nos ataques contra as instituições.
A equipe do GSI que fracassou em impedir a invasão do Palácio do Planalto era composta por vários remanescentes da gestão de Heleno. Este foi, aliás, um dos pontos apresentados pela CPMI do 8 de Janeiro no Congresso para pedir seu indiciamento.
Braga Netto foi comandante da intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro e chefe do Estado-Maior do Exército antes de ir para a reserva e se juntar ao governo Bolsonaro, no qual ocupou os cargos de ministro da Casa Civil (quando centralizou a reação desastrosa do governo no combate à pandemia) e da Defesa.
Escolhido por Bolsonaro como seu candidato a vice nas eleições de 2022, estimulou manifestantes que contestavam o resultado das eleições, atitude criticada publicamente pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
"Certamente há autoridades [das Forças Armadas] que de alguma forma incentivaram [o 8 de Janeiro]. Eu me lembro de uma frase do general Braga [Netto] dizendo para aqueles manifestantes que eles tivessem fé e portanto prometendo algum tipo de evolução, isso poucos dias antes desses desdobramentos", disse. Gilmar à Folha de S.Paulo.
Recém-passado à reserva, o general Estevam Cals Theóphilo é ex-chefe do Comando Militar da Amazônia e do Coter (Comando de Operações Terrestres do Exército). É apontado nos bastidores do Exército como um dos mais bolsonaristas entre os integrantes do Alto Comando da corporação nos últimos anos do governo Bolsonaro – portanto durante o 8 de Janeiro.
A Polícia Federal concluiu, a partir de mensagens do tenente-coronel Mauro Cid, que Teophilo se reuniu com Bolsonaro e teria concordado em executar as medidas que culminariam na consumação do golpe de Estado.
De uma tradicional família militar, Teophilo é irmão do também general de quatro estrelas (da reserva) Guilherme Teophilo, candidato a governador do Ceará pelo PSDB em 2018 e secretário nacional de Segurança Pública durante a gestão de Sergio Moro no Ministério da Justiça.
O almirante Almir Garnier é apontado como o que mais atuou politicamente em favor de Bolsonaro entre os últimos comandantes militares das Forças Armadas do governo passado. Foi ele quem organizou um desfile militar na Esplanada no dia em que o Congresso votou um projeto para tornar o voto impresso – bandeira bolsonarista.
Segundo a delação de Mauro Cid, Garnier se manifestou favoravelmente à minuta de golpe formulada após a derrota de Bolsonaro para Lula – um decreto para convocar novas eleições que incluía a prisão de adversários.
A CPI do 8 de Janeiro no Congresso pediu o indiciamento de quatro dos cinco generais de quatro estrelas atingidos pela operação desta quinta da PF – a exceção é Teophilo.
A operação desta quinta-feira (8) é a que mais se aproximou de militares de alta patente desde o início das investigações sobre o 8 de Janeiro.
Enquanto na cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal vários comandantes foram presos, nenhum oficial graúdo das Forças Armadas sofreu responsabilização – em que pese a conivência ou incentivo em relação aos acampamentos golpistas em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília ou a omissão em relação à proteção do Palácio do Planalto.
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