O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, 55, disse ao jornal Folha de S.Paulo no domingo (14) que ouviu seu nome ventilado para o cargo pela imprensa e foi direto ao ponto: "O presidente conhece o meu trabalho". Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Queiroga reforçou a proximidade que tem com Bolsonaro antes mesmo de o atual governo assumir as rédeas do país.
O cardiologista integrou, como convidado, a equipe de transição dando apoio técnico na área da saúde. Mais recentemente, foi nomeado para assumir uma posição na diretoria da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Queiroga foi indicado por Bolsonaro e, para ocupar uma das cinco cadeiras da diretoria da agência, teria de ser sabatinado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, atualmente presidida pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
A pandemia, porém, empacou a sabatina e a ida de Queiroga à ANS. De perfil técnico, o cardiologista diz que a transição de comando do Ministério da Saúde precisa ser tranquila e feita de cabeça fria porque problemas não faltam.
Ele também disse no domingo que, caso seu nome avançasse no Planalto, esperaria a saída oficial de Pazuello para se apresentar. "Um médico não assume o plantão de outro. É preciso deixar o lugar vago para o outro ocupar."
Queiroga afirmou que a resposta para a equação da pandemia depende de muitas variáveis. A Covid-19, disse, afeta não só o doente em si, mas todo o sistema de saúde. "É uma doença da atenção primária, mas, sobretudo, exige tratamento mais especializado. Ou seja: a Covid demanda todo o sistema."
Para ele, é preciso dar gás ao programa de imunização do país, uma referência pela capilaridade e pela agilidade, para que a pressão nos hospitais diminua. "[Quanto] Mais vacinados, menos doentes", diz.
"Temos um país continental e de múltiplas realidades. Não é preciso inventar a roda, basta colocarmos em prática tudo o que a ciência já nos mostrou que funciona", afirma.
Queiroga disse que a cloroquina não entraria em seu arsenal caso fosse escolhido para ministro. O medicamento é defendido por Bolsonaro e integra o "tratamento precoce" contra a Covid-19 receitado por muitos médicos.
"A própria Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomendou o uso dela nos pacientes, e nem eu sou favorável porque não há consenso na comunidade científica", reafirma Queiroga.
A insistência de Bolsonaro em indicar o medicamento e outras divergências sobre a condução da pandemia, como sua posição contrária ao isolamento social, levaram à queda dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich em abril e maio de 2020, respectivamente.
Apesar de seguir o script de Bolsonaro, o general Eduardo Pazuello, que assumiu o ministério em maio, foi pressionado a deixar o cargo após desgastes na condução da pandemia no Brasil, que fez do país uma preocupação mundial devido à elevação de casos, internações e óbitos por Covid-19. No domingo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou as tratativas para um novo nome que terá o desafio de gerir a crise.
Queiroga disse ter sido o primeiro presidente da entidade que representa os cardiologistas vindo de um estado pequeno, a Paraíba, e que, na sua gestão na entidade, primou por reforçar a participação feminina na diretoria hoje, 4 das 10 posições são ocupadas por mulheres.
Uma delas é Ludhmila Hajjar, que recusou o convite para ser ministra da Saúde. "Eu a escolhi pela sua competência. E eu a destaquei para falar em nome da entidade sobre a Covid-19", disse Queiroga.
Formado em medicina em 1988 na Universidade Federal da Paraíba, Queiroga fez residência médica no Hospital Adventista Silvestre, do Rio de Janeiro e treinamento em hemodinâmica e cardiologia intervencionista na Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Em um post publicado em 2019, com uma foto de Bolsonaro e o deputado federal Enéas Carneiro, morto em 2007 aos 68 anos, Queiroga elogia os dois e disse ter sido aluno de Enéas. Formado em medicina em 1965 pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Enéas fez mestrado em cardiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Queiroga também tem no currículo atuação na AMB (Associação Médica Brasileira) e na Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), que também presidiu.
É casado com uma pediatra e tem três filhos. Uma é médica, outro está a caminho da mesma formação e, o terceiro filho, é advogado.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta