Alguns ambientalistas que impulsionam há anos a hashtag #forasalles celebrarão vitória com a sua saída, mas Ricardo Salles era mero executor das ideias antiambientalistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). É ilusão acreditar que a sua saída sinalize alguma reorientação.
O agora ex-ministro era apenas um pouco competitivo candidato a deputado federal por São Paulo, em 2018, quando Bolsonaro prometia desmantelar a fiscalização ambiental "xiita" do Ibama e do ICMBio, congelar a criação de unidades de conservação, legalizar garimpos e governar com militares.
Escolhido pelos ruralistas, Salles só ganhou o cargo porque Bolsonaro não cumpriu a promessa de extinguir a pasta – radical até para a ala mais retrógrada do agronegócio.
No cargo, seguiu à risca a agenda bolsonarista. Na primeira vez na vida que pisou na bacia amazônica, em 2019, chancelou um plantio ilegal de soja dentro de terra indígena.
Em dois anos e meio, inviabilizou a aplicação de multas ambientais, aparelhou o comando do Ibama e do ICMBio com PMs paulistas inexperientes, recebeu criminosos ambientais no gabinete, perseguiu funcionários por cumprirem seu trabalho e instituiu a lei da mordaça no ministério.
Foram inúmeras vezes que Bolsonaro deixou claro o seu respaldo a Salles, desde os enfrentamentos com o vice-presidente Hamilton Mourão por conta do combate ao desmatamento até a exoneração do delegado Alexandre Saraiva da superintendência da PF no Amazonas, quando o ex-ministro saiu em defesa de madeireiros investigados.
O maior símbolo da gestão Salles, o aumento explosivo do desmatamento na Amazônia, não deixa de ser uma política de Bolsonaro, que já se vangloriou por tê-lo "potencializado" e não cansa de repetir que o Brasil tem áreas protegidas demais.
Bolsonaro parece ter escolhido alguém menos histriônico para o Meio Ambiente, como já aconteceu na Educação e no Itamaraty. Mas nada que provoque uma reviravolta na política ambiental. A boiada sempre foi de Bolsonaro. Salles só tocava o berrante.
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