Em meio ao maior desastre ambiental no litoral brasileiro em termos de extensão, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viajou ao Rio Grande do Sul para encontrar empresários no Country Club, em Porto Alegre, na tarde desta segunda (21). O ministro foi recebido com protesto na portaria do clube em um bairro de elite da capital gaúcha.
Um grupo de cerca de quinze pessoas gritou palavras como "sinistro exterminador do futuro" e "Salles na cadeia". Algumas pintaram o rosto de preto em referência às manchas de óleo que contaminam o litoral do Nordeste desde 30 de agosto.
Salles não autorizou que a imprensa acompanhasse sua palestra aos empresários do Lide RS (Grupo de Líderes Empresariais). O evento, que já recebeu figuras como o vice-presidente Hamilton Mourão e o senador Davi Alcolumbre, costuma ser aberto a jornalistas.
Após o final do encontro com o empresariado, Salles não respondeu ao questionamento da reportagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não ter visitado as praias nordestinas afetadas. O ministro se limitou a criticar a "politização" do vazamento de óleo e encerrou a coletiva de imprensa.
"Todos os ministérios têm dado suas contribuições, os órgãos federais têm feito um grande trabalho, os órgãos municipais também estão participando, voluntários estão prestando um bom serviço ao país. Não tem sido bom para o país essa 'polemização' e essa 'politização' que alguns querem fazer", respondeu sem mencionar os órgãos estaduais.
Salles discutiu com políticos de esquerda, incluindo o governador da Bahia, por meio de redes sociais. Em uma das discussões, chegou a dizer que "o petróleo que está atingindo o Nordeste e o Brasil, é venezuelano, cujo governo ditatorial comunista vocês apoiam (sic)."
O ministro falou sobre as críticas dos manifestantes de cumprir agenda no Rio Grande do Sul, distante do desastre.
"Todas nossas equipes estão lá no Nordeste trabalhando incessantemente desde o início de setembro. Eu mesmo já fui a cinco estados diferentes, estive várias vezes lá participando", disse.
Os manifestantes também cobraram respostas sobre o plano de contingenciamento do óleo. "Acabei de voltar do sul do Bahia. Vi os pescadores desesperados e as tartarugas presas no óleo. Ele [ministro] pensa que faz grande coisa, mas não faz nada. Isso está sendo visto pelo mundo. As pessoas estão horrorizadas com a falta de atitude. E o plano de contingenciamento?", questionou a professora Beatriz Bruto, 76.
O governo de Bolsonaro extinguiu comitês do plano de ação de incidentes com óleo.
A poluição pode afetar o trabalho de 144 mil pescadores e marisqueiros de 77 cidades de nove estados nordestinos. Há risco de contaminação dos pescadores e dos peixes.
Segundo o Ibama, 200 locais de pelo menos 77 municípios em nove estados já foram atingidos pelas manchas de óleo.
Na palestra fechada para convidados, foi possível escutar, porém, Salles falando sobre geração de renda na Amazônia por meio da instalação de indústrias do ramo farmacêutico, cosmético e alimentício. Para isso, segundo o ministro, é preciso "regularização fundiária".
"Não adianta passar quarenta anos discutindo quem invadiu o quê, tem que passar uma régua em algum momento", falou. Antes, Salles mencionou que a Amazônia, "apesar de vários ambientalistas, continua sendo o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil".
Além do protesto desta segunda-feira (21), Salles já desencadeou outras polêmicas no Rio Grande do Sul. Recentemente, a Justiça determinou a demissão da produtora rural de 25 anos que dirigia o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, unidade de conservação em Mostardas, a 123 km de Porto Alegre. O local é um berçário para espécies marinhas e abriga aves migratórias, incluindo flamingos.
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