Após usar um vídeo editado para criticar o Greenpeace na última segunda-feira (21), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicou nesta quinta (24) uma foto do navio Esperanza, da ONG, sugerindo que a embarcação poderia estar relacionada ao derramamento do óleo que atinge o litoral do Nordeste de 30 de agosto.
"Tem umas coincidências na vida né... Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano...(sic)", Salles escreveu no Twitter.
Após a repercussão, a ONG divulgou que entrará na Justiça contra o ministro. "Tomaremos todas medidas legais cabíveis contra todas as declarações do Ministro Ricardo Salles. As autoridades têm que assumir responsabilidade e respondem pelo Estado de Direito pelos seus atos."
A publicação de Salles dá a entender que a foto é atual. Entretanto, o primeiro registro de publicação da imagem é de 2016, ocasião em que o navio Esperanza estava no oceano Índico protestando contra o que a ONG classificava como pesca destrutiva por meio do uso de dispositivos que atraem peixes, tirando-os da sua rota.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou explicações de Salles por meio do seu Twitter. "Estamos esperando uma posição oficial do Ministério do Meio Ambiente."
De acordo com o Greenpeace, o Esperanza estava na Guiana em expedição para "expor as ameaças das petrolíferas" aos corais da Amazônia. Hoje, o navio está em Montevidéu, no Uruguai, promovendo a campanha "Proteja os Oceanos".
Questionado, o Greenpeace disse à reportagem que o navio Esperanza é uma embarcação híbrida, de classe Yacht, e habilitada para transporte de carga e de passageiros, mas que não dispõe de estrutura para armazenamento e transporte de petróleo, atividade que requer autorização de órgãos do governo.
Desde o início da semana a ONG vem sendo alvo de críticas do ministro. Na segunda (21), Salles ironizou um vídeo do Greenpeace em que um porta-voz da organização responde à pergunta "Por que o Greenpeace não está nos locais atingidos ajudando na limpeza?". "O Greenpeace 'explicou' porque não pode ajudar a limpar as praias do Nordeste... ahh tá...(sic)", escreveu o ministro.
O vídeo utilizado pelo ministro para criticar a suposta ausência de voluntários da ONG em grupos de limpeza de praias do Nordeste foi editado e parte foi retirada. O vídeo completo tem cerca de três minutos, dos quais mais da metade não aparece na montagem compartilhada pelo ministro.
Na versão original, publicada na sexta-feira (18), o porta-voz do Greenpeace explica que há voluntários trabalhando junto com instituições governamentais para limpar as praias afetadas. Além disso, a ONG também cita voluntários no Maranhão e Ceará que estariam colhendo depoimentos de moradores e registrando em foto e vídeo os locais afetados.
Nesta quarta (23), o ministro publicou em seu Twitter fotos de um ato de voluntários da ONG em Brasília, ocasião que ativistas simularam queimadas e jogaram óleo no calçadão do Palácio do Planalto. Pelo menos 19 ativistas foram detidos no gramado em frente ao Congresso Nacional e levados ao 5º DP da capital federal para averiguação.
Os ativistas foram liberados horas mais tarde, mas a polícia não divulgou a razão da detenção do grupo, segundo a ONG.
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